O fazendeiro não deixou de admirar a mulher encostada na porta. Ela estava com uma saia preta de couro, que se estendia até a altura do centro de suas coxas e continha uma pequena fenda do lado direito, com uma regata de alcinha de seda vermelha, com detalhes em renda no decote, e mais o salto preto em seus pés. O cabelo de Irene se encontrava preso em um coque meio bagunçado. A respiração da mulher estava acelerada, o que não passou despercebida por Antônio ao reparar em seu colo.
-Já te disseram que está bonita hoje?
Irene o olha profundamente na tentativa de provar ao homem a sua frente e, principalmente, a si mesma que essa reação de seu corpo não passava de um detalhe insignificante.
-Sem rodeios Dr. Antônio... diga logo o que quer. -fala ao se aproximar.
Antônio gosta da atitude da moça, retribuindo o olhar e "que belo par de olhos" pensa consigo. Ela carregava um brilho naqueles olhos, tal brilho que fez o fazendeiro se perder por alguns segundos e demorar para dar uma resposta. Falando a primeira coisa que vem em seu pensamento, acaba, com um ar de autoridade, dizendo:
-Já te pedi pra me chamar apenas de Antônio.
-Que seja então, Antônio! -Irene começa a andar pelo cômodo. -Cê jura que acha que é assim que vai conseguir algo comigo? Eu já te disse, quando você veio até aqui, exatamente nesse quarto, naquela manhã, que eu não faço esse tipo de trabalho. -ela faz uma pausa para tomar fôlego. -Será que é tão difícil de entender?! -questiona colocando as mãos na cintura e se virando para o homem.
Antônio apenas olhava para a mulher que esbravejava na sua frente com um semblante de surpreso, nunca ninguém teve a coragem de falar com ele naquele tom. Era inegável a maneira de como a ousadia dela chamava a atenção dele, que não se conteve e deixou escapar um sorriso de canto. Ao perceber os olhos do fazendeiro em seu corpo, as maçãs da face da morena começaram a enrubescer.
-Já terminou o piti?
-Piti?! -responde incrédula elevando um pouco o seu tom de voz mais uma vez. -Olha aq... -sua fala é interrompida por Antônio, que se aproximou colocando, delicadamente, o seu dedo indicador nos lábios da mulher, que, por fim, apenas o olhava sem se afastar. A proximidade de seus corpos fez com que Irene estremecesse.
"Muito perto, muito perto" foram as únicas palavras que rondavam a sua mente naquele momento.
-Posso falar agora? -a pergunta sai quase como um sussurro da boca dele.
O olhar de Irene desce para os lábios do homem, mas logo sobe, novamente, para os seus olhos castanhos. Ao notar o silêncio, Antônio toma a iniciativa.
-Vejo que isso é um sim. -fala se afastando da mulher.
As palavras de Angelina ressoam pelos pensamentos do homem "Tente ser mais delicado com a moça na próxima vez que se encontrarem"
-Irene... primeiro, quero que saiba que não foi minha intenção te ofender aquela manhã, caso você tenha ficado ofendida. -ele se vira para ela. -Só entenda que não sei falar bem sobre essas coisas.
A mulher fica confusa com o pronunciamento do homem.
"É o mínimo ele ter noção do está falando"
-Sobre que coisas Antônio? -questiona enquanto cruza os braços.
O fazendeiro retira o seu chapéu e o apoia na cômoda.
-Sinceramente, nem eu sei direito Irene. -um suspiro é liberado. -Só sei que tem uma coisa, sei lá, em você que mexe comigo. -diz se sentando na ponta da cama.
A ideia de que estava nos pensamentos do fazendeiro agradou a mulher, fazendo com que ela, involuntariamente, sorrisse um pouco. Irene sai da sua postura defensiva e começa a servir dois copos com o whisky que estava em sua mesa de cabeceira, sem falar um palavra sequer. O homem apenas observa, atenciosamente, cada movimento feito por ela. A mulher vai em direção a ele e para entre as pernas de Antônio, lhe oferecendo o copo. Ele apenas a fita, sentindo seu sangue correr mais rápido, enquanto bebericava a bebida.