A notícia mais badalada de Nova Primavera era a do show sertanejo que acontecerá em Campo Grande no próximo final de semana. Estavam todos eufóricos com a novidade, principalmente as mulheres.
-Irenee! você viu que maravilha? -veio Nice andando em direção da primeira com uma revista em suas mãos.
-O que? -pergunta a mais nova sem tirar a atenção do fogão que estava ariando.
-O show de um monte de cantor sertanejo que vai ter na capital. -diz colocando as sacolas do mercado na mesa.
-A sim, escutei por cima ontem de noite aqui no bar.
-A gente tem que ver algo pra vestir. -fala se acomodando na cadeira ainda folheando a revista.
Irene larga os queimadores na pia e se vira para a mulher.
-A gente?
-Sim senhora, nós duas.
-A não Nice. -afirma voltando para a limpeza. -Acho não vou nesse negócio não.
-Me dê UM motivo bom pra isso. -a mais velha cruza os braços.
-Eu não gosto ir em lugares com muita gente e esse ai parece que vai estar lotadíssimo.
Nice se levanta e para ao lado da amiga colocando um braço por cima dos ombros dela.
-Poxa Irene, vamo lá. -sua voz fica mais suave. -Nunca te pedi nada.
"Realmente, ela nunca tinha pedido. Na verdade, ela havia feito muito mais do que eu esperava"
A mais nova olha para Nice que, praticamente, estava choramingando.
-Tá bom, eu vou.
A mais velha sorri, de orelha a orelha, soltando uns gritinhos e dá dois beijinhos no ombro de Irene.
-Ai, não tá escrito o tanto que eu te adoro. -Nice entrega o pano de prato para a outra enxugar as mãos, já que havia terminado de limpar o fogão. -Olha, se chegarmos lá e estiver ruim, a gente volta pro bar, tá bom?
-Tá bom Nice, não precisa se preocupar. Agora vai, anda. -Irene usa o pano como um cinto para bater na mulher. -Vai arrumar aquele teu quarto que tá uma bagunça só, que eu ainda tenho que guardar essas compras.
-É pra já. -a mais velha, ao se dirigir para seu cômodo, sai elevando o seu tom de voz com o intuito que a amiga escutasse: -A partir de hoje eu faço tudo, absolutamente, tudo que a Irene me pedir!
A última apenas ri do comentário e começa a separar os alimentos para ajudar a Dona Rosa no almoço.
(algumas horas depois)
O dia de Antônio havia sido bem estressante, um dos seus sistemas pivô central teve um problema na programação, que ocasionou uma deficiência hídrica em grande parte da plantação de soja. A sorte do fazendeiro foi que isso ocorreu na fase vegetativa da planta, o que apenas afetaria o rendimento do grão, não tendo um impacto negativo tão grande. Além disso, começou a aprender essa tarde como lidar com o trending, mas foram horas jogadas no lixo, já que a aula, praticamente, virou um local de reclamações e xingamentos por parte dele que se debatia para mexer no sistema.
O homem estava se arrumando para ir embora do escritório quando o seu irmão chegou.
-Antônio, que bom te encontrar ainda aqui.
O fazendeiro olha para o relógio em seu pulso. "18:40 já, que inferno, só queria ir pra casa tomar um banho"
-Fala logo o que quer Ademir, tô com pressa. -diz terminando de guardar os relatórios.