Capítulo XI

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Tristeza? Não, desespero.
A dor de saber que perdi quatorze anos da minha vida na verdade é uma forma de algo indescritível.

Quando você entrou em estado de coma, fizemos o nosso possível para reanimar você, contudo, depois de um tempo, você deixou de apresentar sinais de retorno. Fizemos inúmeros testes, várias tentativas de estímulos por meses. Oferecemos até... — ele baixa um pouco a cabeça, evitando olhar diretamente para mim – Outras opções para os seus pais, mas eles insistiram em te manter aqui.

Meu coração já miúdo de dor se encolhe ainda mais.

Pelo menos nisso eles se entendem.

Olho em direção a Paola. Ela tapa a boca de imediato ao mesmo tempo que fica vermelha.

Não era pra sair tão alto.

O doutor Lucas está encarando ela já sem paciência. Solta um longo suspiro.

Enfermeira, por favor, ligue para a senhora costa.

Certo.

Ela sai da sala basicamente correndo. O doutor Lucas me lança um olhar de perdão.

Quantos anos tenho?

Seu olhar muda drasticamente. A surpresa que reflete me faz duvidar se essa era uma boa pergunta a se fazer para um médico.

Se eu não me engano, tem um pouco mais que trinta anos.

Trinta anos.

Bom, meu filho — continua – Creio eu que sua mãe ja ja deve está aqui. Vou deixar você descansar um pouco.

Faço que sim com um movimento de cabeça e me permito ser engolido pela confusão do meu inconsciente.

Alguns minutos depois Paola entra com uma bandeja de alumínio em mãos. Nele posso observar sanduíches de presunto e suco de maracujá. Apesar de ver o meu suco preferido, o que costuma me trazer ótimas sensações e lembranças, ainda sim o amargor da vida prevalecer em minha garganta.

Não estou com fome.

Você vegetou esse tempo todo, sem comer nada bom de verdade e ainda diz uma coisa dessa?

Olho para ela com os olhos estreitos

Você é bem o contrário de profissional.

Ela põe a bandeja na mesa de canto e senta na ponta da cama.

Você escutava tudo o que acontecia nessa sala?

Apesar da pergunta estranha, lembro-me de imediato das vozes agonizante que escutava, que me proporcionava lindas dores de cabeça.

Algumas coisas — digo, e um vislumbre de familiaridade surge – E aliás, sua voz é bem familiar.

Uau.

Me ajeito na cama.

Por que a pergunta?

Acho que todo mundo tem essa curiosidade.

Dou uma boa olhada nela.

Ok, mas não conte para ninguém — dou de ombros e ela ignora – Eu e mais dois enfermeiros cuidava de você. Ana e Luiz, eles foram afastados porque foram pegos literalmente se beijando aqui.

Meu olhar incrédulo diverte ela.

Tivemos que ficar um tempo afastados, toda a equipe — ela pega o sanduíche da bandeja – Até quem não fazia parte do que aconteceu.

(In)ConsciênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora