Tristeza? Não, desespero.
A dor de saber que perdi quatorze anos da minha vida na verdade é uma forma de algo indescritível.– Quando você entrou em estado de coma, fizemos o nosso possível para reanimar você, contudo, depois de um tempo, você deixou de apresentar sinais de retorno. Fizemos inúmeros testes, várias tentativas de estímulos por meses. Oferecemos até... — ele baixa um pouco a cabeça, evitando olhar diretamente para mim – Outras opções para os seus pais, mas eles insistiram em te manter aqui.
Meu coração já miúdo de dor se encolhe ainda mais.
– Pelo menos nisso eles se entendem.
Olho em direção a Paola. Ela tapa a boca de imediato ao mesmo tempo que fica vermelha.
– Não era pra sair tão alto.
O doutor Lucas está encarando ela já sem paciência. Solta um longo suspiro.
– Enfermeira, por favor, ligue para a senhora costa.
– Certo.
Ela sai da sala basicamente correndo. O doutor Lucas me lança um olhar de perdão.
– Quantos anos tenho?
Seu olhar muda drasticamente. A surpresa que reflete me faz duvidar se essa era uma boa pergunta a se fazer para um médico.
– Se eu não me engano, tem um pouco mais que trinta anos.
Trinta anos.
– Bom, meu filho — continua – Creio eu que sua mãe ja ja deve está aqui. Vou deixar você descansar um pouco.
Faço que sim com um movimento de cabeça e me permito ser engolido pela confusão do meu inconsciente.
Alguns minutos depois Paola entra com uma bandeja de alumínio em mãos. Nele posso observar sanduíches de presunto e suco de maracujá. Apesar de ver o meu suco preferido, o que costuma me trazer ótimas sensações e lembranças, ainda sim o amargor da vida prevalecer em minha garganta.
– Não estou com fome.
– Você vegetou esse tempo todo, sem comer nada bom de verdade e ainda diz uma coisa dessa?
Olho para ela com os olhos estreitos
– Você é bem o contrário de profissional.
Ela põe a bandeja na mesa de canto e senta na ponta da cama.
– Você escutava tudo o que acontecia nessa sala?
Apesar da pergunta estranha, lembro-me de imediato das vozes agonizante que escutava, que me proporcionava lindas dores de cabeça.
– Algumas coisas — digo, e um vislumbre de familiaridade surge – E aliás, sua voz é bem familiar.
– Uau.
Me ajeito na cama.
– Por que a pergunta?
– Acho que todo mundo tem essa curiosidade.
Dou uma boa olhada nela.
– Ok, mas não conte para ninguém — dou de ombros e ela ignora – Eu e mais dois enfermeiros cuidava de você. Ana e Luiz, eles foram afastados porque foram pegos literalmente se beijando aqui.
Meu olhar incrédulo diverte ela.
– Tivemos que ficar um tempo afastados, toda a equipe — ela pega o sanduíche da bandeja – Até quem não fazia parte do que aconteceu.
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(In)Consciência
Mystery / ThrillerNem sempre o que temos é realmente o que queremos, mas podemos fazer o que temos o nosso querer.