Lentamente meus olhos vão se abrindo.
Sinto o corpo pesado, como se não estivesse aqui, vivo.Tudo parece mais escuro.
Um vulto passa pelo basculante da porta. Uma espécie de vento preto.
Que merda é essa?Levanto com dificuldade da cama hospitalar e vou em direção a porta.
Tudo parece mais assustador. Tudo desligado, nenhuma voz, nenhuma alma.Abro a porta, sinto que a sombra foi em direção as escadas, e então, por alguma decisão idiota, vou atrás.
Não sei o que encontrar la embaixo, mas mesmo assim, começo a descer.
E descer
E descer.Até que escuto vozes. Várias vozes.
Disfarçadamente vou andando até chegar no térreo. Onde aparentemente tinha algo atrativo.
O vulto estava na porta de saída, parado, me encarando com seu rosto sem forma.
Por algum motivo tinha que segui-lo.
Olho ao redor. Tem muitas pessoas por aqui, talvez uns vinte ou trinta, desde médicos a pacientes.
Muito provável vão me barrar se caso decida sair. Quem em sã consciência deixaria um homem com roupa hospitalar sair sem mais nem menos?A sombra fumaçada da as costas para mim e atravessa a enorme porta. Precisava ser rápido para alcança-lo.
Talvez eu esteja louco.
Onde já se viu seguir sombras? Minha mente diz para dar meia volta e voltar para o quarto, esperar meus pais chegar e me salvar desse pesadelo.Mas aqui não sou mais uma criança, meus pais não iriam me proteger.
Então ignoro totalmente e sigo para a porta.
Via ao meu redor pessoas tristes, ocupadas, cansadas. Tudo me lembrando um terrível purgatório.Hospitais sempre foram tão ruins assim?
Na minha esquerda, noto a recepção. A recepcionista estava atendendo ligações enquanto escrevia freneticamente. Conseguia ver o cansaço em seus olhos.
Ela não queria estar aqui.Por algum motivo, a cada passo me sentia horrorizado. Eram pessoas chorando, gritando, dormindo.
– Número um sete sete! — a recepcionista grita.
Já havia chegado ao alcance da porta. Um calafrio terrível desliza por entre meu corpo, me causando profundo arrepio.
É isso mesmo que quero fazer?Então, sem muito pensar, puxo a porta.
Ela não se mexe, continua intacta. Faço mais um pouco de força, chamando atenção de uma ou duas pessoas.– Você, grandão. — a recepcionista grita novamente. Olho para trás e a vejo.
Ela vem em minha direção apressada, quase não olha para mim ou para o meu rosto, seu foco é o telefone, onde, quando se aproxima, consigo escutar gritos.
Meus pensamentos se amontoam, fico pensando em diversas desculpas no qual posso usar, como me passar de louco.
– Ela está com problema mesmo.
– Desculpe? — pergunto.
Ela suspira pesadamente.
– Senhora, não temos mais vaga para essa ocasião, ligue para outro hospital. — ela afasta o telefone da orelha e olha para mim – A porta está com problema para abrir.
Então, abre a porta rapidamente. Vira as costas e retorna para o telefone.
Um vento fraco bate em meu cabelo, e percebo, que, por algum motivo incomum, ela não se preocupou em perguntar meu nome.
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(In)Consciência
Gizem / GerilimNem sempre o que temos é realmente o que queremos, mas podemos fazer o que temos o nosso querer.