A forte chuva bate em meu corpo como um pai furioso castigando o filhinho teimoso. As gotículas duras e gélidas faz com que minha pele tenha a sensação de ardor. Consigo sentir cada uma bater, deslizar e cair direto no chão.
Faz quase uma hora que me vejo parado na porta de Katarina. Não encontro coragem para bater e explicar que saí de casa desesperado, largando Letticia e a porta da frente aberta por conta de um sonho estranho — as vozes gritavam desesperadamente, com suas vozes secas e cortantes me pedindo para que eu não a deixe – você precisa dela, ela é a única que entende.
Meu corpo todo treme, minha respiração falha, fumaças de ar sai densa quando expiro. Tento mover a perna de volta para casa, mas não consigo.
estou paralisado.
estou com medo.Enquanto assistia com Letticia, ela me fez uma pergunta inesperada, direta, eufórica – você gosta da Katarina?
E eu não respondi.
Mesmo se minha resposta fosse sim, ela não deve sentir o mesmo por mim. Vamos lá, ela é bem mais velha que eu, não passo de um garotinho aprendendo sobre o mundo e tendo surtos com a mente.
Fecho os olhos. O tremor piorou, não sinto bem meu corpo.
Movo o corpo com dificuldade para a frente e bato uma vez na porta, nada acontece.
Me encosto na porta e começo a bater e bater e bater. Uma luz de dentro surge, me afasto abruptamente da porta e caio.
Katarina surge, com o cabelo bagunçado e o rosto amassado.
Seus olhos demonstram surpresa e medo.– Leonardo?
Escutar a voz dela me deixa leve, para mim, é como os anjos cantando, a água do rio dançando sobre as pedras pontiagudas, o suco de maracujá descendo por minha garganta.
– Não faça mais isso, por favor.
– Não fazer o que? — pergunta
– Não me deixe sair correndo daquele jeito, não me deixe longe.
Ela sai da área no qual a chuva não conseguia alcançar, seus passos são lento e pesado.
– Você vai acabar se molhando — digo
Ela continua vindo em minha direção sem dizer nada. Se agacha a minha frente, ficando pouco centímetros de distância. Olha diretamente para mim, olha para a minha alma. Consigo sentir nosso inconsciente gritar, querendo um ao outro, querendo se juntar, se fundir.
Não consigo entender a sensação, o sentimento, não consigo entender o que nunca senti antes.– Não sou eu quem decido. — as gotas da chuva estão escorrendo pelo seu rosto – É você, Léo. Eu não sou o que você pensa que sou.
– Do que você está falando?
Ela estende a mão para mim, pego e levantamos.
– Ah, Léo — seus olhos estão cheios de lágrimas – Você precisa entender, mas não é fácil, eu sei. Também ficaria confusa e assustada se fosse comigo.
– Kat, o que você quer dizer com isso?
– Você pode amar no inconsciente consciente. Mas não assim, não é o certo — ela segura fortemente minha mão – E isso me assusta. — e me beija
Acordo assustado.
Letticia está ao meu lado enrolada dos pés a cabeça. A tempestade lá fora é forte.
Levanto e vou em direção a cozinha, pego um copo d'água e bebo de uma vez.
Sinto repentinamente saudade dos meus pais, de como éramos mais próximos antes do acidente acontecer, apesar de, infelizmente, não conseguir me lembrar muito.
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(In)Consciência
Misteri / ThrillerNem sempre o que temos é realmente o que queremos, mas podemos fazer o que temos o nosso querer.