Chuva.
Como se o mundo se despedisse pouco a pouco em cada gotícula e vai deixando apenas o breu.
Estou no quarto, escancarado na cama, observando o mundo se esvair através da janela, sentindo a agressividade do vento bater na tentativa insistente de entrar.
Rex está deitada perto do meus pés, dormindo.
Letticia está ao meu lado, completamente incrédula por acabar de descobrir sobre a vizinha.
– Então, você conversou com a vizinha e só estou sabendo disso agora?
Olho para ela com cara de tédio, o jeito que ela fala faz parecer ser o maior pecado existente.
– Já disse, não tive como contar.
– Você literalmente mora só alguns passos da onde eu moro!
Reviro os olhos.
Ela continua reclamando, mas não faço tanta questão, meu foco está nessa última semana.
As coisas que andam acontecendo fez com que eu ficasse o tempo todo no quarto. As vozes me infernizam todas as noites, o ar começou a sumir dos meus pulmões sem aviso prévio.
Ignorei as mensagens de Letticia, na verdade, respondia pouco, dizia sempre estar ocupado.
A verdade era que estava fazendo pesquisas sobre o que anda acontecendo comigo, uma semana inteira nisso e não obtive progresso algum.– Léo?
– O quê?!
Ela me encara, seus ombros encolhem.
Droga.
– Desculpa — Sento na cama e faço um sinal com a mão para que ela faça o mesmo – Só estou com um pouco de dor de cabeça, nada demais — Ela continua imóvel – Poderia, por favor, me abraçar?
Sem dizer uma palavra ela se senta e me abraça.
– Me perdoe, não queria gritar com você. — Afundo meu rosto em seu ombro
– O que está acontecendo com você, em? Isso está me preocupando... quer que eu passe a noite aqui? Podemos assistir aos seus filmes preferidos de comédia.
– Não sei se vai ser uma boa.
Ela começa a acariciar meu cabelo.
– Lembra do começo? De como eu não sabia acariciar seu cabelo enrolado? — Ela ri – Você fazia questão de engolir a dor de quando eu puxava e fingia que estava gostando.
– Você era péssima.
– Você nunca fez questão de me ensinar.
Olho para ela.
– Lembra de quando pediu para ajeitar meu cabelo?
– Sim! Foi quando seu cabelo estava bem maior, nunca tinha ficado tão apaixonada por seus cachos quanto naquele dia.
Sorrio.
– Obrigada por existir, Letticia.
Ela beija minha testa, o movimento faz com que sua franja solte e caia sobre os olhos.
– A chuva passou, preciso voltar para ajudar meus avós.
– Sem problemas.
– Amo você. Se precisar, me ligue.
Ela levanta e sai. Me jogo sobre a cama novamente, olho para o teto, meus olhos queimam, sinto-os lacrimejar, fecho com força e permito que as lágrimas rolem.
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(In)Consciência
Misteri / ThrillerNem sempre o que temos é realmente o que queremos, mas podemos fazer o que temos o nosso querer.