Capítulo 2

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Eu não sabia se era bonita ou feia, sem o óculos eu até que ficava mais ou menos. Tinha um estilo bem simples, não usava decote nem coisas extravagantes, até porque meus pais  surtariam por semanas.
      Naquela mesma semana a encontrei na escola. Mas ela estava diferente, conversamos muito, principalmente na sexta feira, na aula de história.

– Ei Amanda, que acha de ir lá em casa?

– Para que?

– Pra gente estudar, ué. você disse que é boa matemática. Me ajuda, vai?!

– Está bem.

  Cheguei em casa e tentei convencer minha mãe a estudar.

 – Mãe, eu posso ir na casa de uma amiga amanhã?

– Que amiga??

– Uma amiga da escola, a gente precisa estudar.

– Quem são os pais dela? 

 Como minha cidade era bem pequena, quase todo mundo se conhecia, mas como nos mudamos recentemente não conhecíamos quase ninguém, tirando a Tia Tânia. 

– Eu não sei mãe, ela mora aqui perto.

– Veja com seu pai.

– Porque ?

– Se ele deixar você vai, se não esquece.

 Eu odiava pedir coisas ao meu pai. Ele sempre negava. No mesmo dia tive que falar com ele.

– Pai.

– O que foi, Amanda?

– Eu posso ir na casa de uma amiga amanhã?

– Fazer o que lá?

– Estudar.

– Certeza? 

 Ele levantou levemente a sobrancelha do olho direito, como se não acreditasse muito que iríamos fazer o que estava dizendo.

– Certeza, pai.

– Então está bem, mas volte antes de escurecer, e deixe o número do telefone dos pais dela, irei ligar para eles. 

 Meu pai era o homem mais desconfiado de todos, e mesmo assim deixou eu ir. Estava feliz no fundo, precisava de uma amiga, alguém para conversar e não me sentir tão oca como estava.

 Chegou sábado, mal consegui dormir, minha ansiedade era algo gritante demais na época, me afetava de um jeito que não sabia lidar. Foi chegando no período da tarde, e me sentei no banquinho de madeira pintado de azul céu, com tinta guache, uma arte que eu e meu irmão fizemos no dia das crianças quando éramos mais novos. Permaneci ali em frente a tevê, estava passando um filme sobre alienígenas (odiava), mas como não tinha nada melhor para passar o tempo, o jeito foi assistir. De repente o telefone toca, corro para atender e ouço a voz sonolenta da Sthefany, ela me mandou ir logo para almoçarmos juntas. Os pais e o irmão tinham saído e poderíamos ficar de boa, estudando sem barulhos e interrupções. Ela me passou o endereço e mandou pegar o ônibus da linha 077 ,descer no ponto final e esperar lá. Assim que cheguei no ponto o ônibus tinha saído, tive que esperar quase uma hora o próximo passar, que droga! A casa dela não era tão perto como pensei, cochilei no percurso e quando percebi estava todo mundo saindo do ônibus, havia chegado. Ela já estava lá, com o braço direito estendido na parede branca na frente de um bar, com fones de ouvido, ouvindo música, cantando junto, e balançando a cabeça, algo que deveria ser rock pesado, na época odiava rock com todas as minhas forças… 

 Ela estava com o penteado arrumado, e usava um chapéu preto liso, estilo pescador, o cabelo estava 'normal' ou o que eu e a maioria considerava normal, e pra variar usava botas pretas de cano alto. Quando me viu descer do ônibus deu um grito que me assustei, ela era cheia de energia, escandalosa e espalhafatosa, de um jeito que eu invejava.

O meu ipê roxo Onde histórias criam vida. Descubra agora