II - Indesejado

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Notas iniciais: Fiz com mt amor, espero que gostem!
TW: Não leia se tiver gatilho com abuso infantil implícito, abuso psicológico ou com problemas alimentares.

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Aos 5 anos, Ramirinho sonhava em ser o que sua família queria.

Essa é a grande diferença entre seu eu de 5 anos e o de 10.

Ramiro não sonha mais.

Ele parou a um bom tempo atrás, quando sua vó morreu e algo morreu junto dentro dele. Quando ele finalmente entendeu que só força de vontade não muda ninguém. Só desejo não faz as pessoas te quererem. . . só orar não cura alguém que nasceu doente. . .

Quando ele finalmente entendeu que Ramiro, o fardo, estava fadado a ser sempre Ramiro, o Fardo.

O menininho suspira sentado no pé da escada caindo aos pedaços, seu pé está doendo e ele acha que torceu quando caiu no dia anterior. . .mas. . . sua mãe está cansada e ocupada e ele não quer piorar a situação, não vale a pena. Ele não quer incomoda-la de qualquer forma com algo tão pequeno quanto um machucadinho.

O pequeno engole em seco enquanto se escorra na parede tentando não ouvir a conversa da sala.

Ele não quer ser um inconveniente nem se meter no que não deve, mas ele realmente não acha que consegue se mexer por enquanto.

Ele já trabalhou o dia inteiro, se ele ouvir uma coisa ou outra mas pelo menos poder descansar por alguns segundos a mais, então é um preço baixo a se pagar. 

—O moleque é só... mais uma boca para você alimentar amiga. –O pequeno tenta tapar suas orelhas ao perceber sobre o que exatamente estão falando, mas ele não consegue pressionar com força suficiente para não escutar.          
–Você não acha melhor por ele em um orfanato ou eu não sei, mandar ele embora de uma vez? Ele só te traz problemas e ocê anda tão exausta. –A criança estremece com a fala da moça sentindo seu coração arder muito mais do que seu tornozelo jamais poderia.

Ele sabe que é um problema, ele sabe! Mas ele odeia tanto quanto insistem em relembrar. 

—Me dói te ver assim. . .

Em Ramiro também.  

—Ângela, ele é meu filho. . .    Eu. . .  –O coração do mais novo acelera enquanto ele reza a todos os santos que consegue se lembrar para sua mãe defende-lo só dessa vez, apenas dessa vez! Só uma vez! Reza para que ela diga que ele vale a pena. . . Só hoje. . . –E eu sei que ele é meio sensível de mais e meio. . . Você sabe, mas mesmo que ele fosse um problema. . . Ele ainda é meu filho, eu não posso simplesmente manda-lo embora. É sim mais uma boca para alimentar mais ainda assim. . .  –O pirralho sente seu peito apertar enquanto seu coração racha cada vez mais.

Sua mãe não disse que não quer o mandar embora. . . Ela disse que não pode.

—E. . . O pai dele?

—O pai dele não o quer.

—E você quer?

Sua mãe permanece quieta, mas Ramiro sabe a resposta.

Ele sabe bem a resposta e ela dói.

A parte mais imatura e irracional de seu celebre espera que ela negue, que ela diga que ele é a melhor coisa da sua vida, que ele é seu filhinho precioso.  . . Que ele é luz.

A cada segundo que a mulher demora para responder no entanto, essa parte de Ramiro morre um pouco mais.

Ele engole um soluço, se aos olhos de sua mãe, ele sempre será um pobrema e sua presença sempre um sofrimento. . .

Então talvez ele nunca devesse ter nascido.

O moreno se encolhe quando finalmente se permite pensar nisso sem ser de forma inconsciente, seu corpo inteiro tremendo.

(Eu num quiria di ter nascido. . .) –Pensa a criança sentindo seu coração morrer mais um pouquinho e mais um pouquinho. Ele não quer morrer mas as vezes, ele sente que o mundo seria um pouco melhor se uma sangue-suga (que nem seu vô o chamava. . .) como ele não estivesse lá.

Ele sabe que está sendo mal educado e ele realmente não quer ofender a Deus com seus pensamentos maldosos mas. . . Todos cometem erros, talvez Ramiro tenha sido o primeiro de Deus?

Ramiro uma vez falou sobre isso, com o pastor e com o padre. Ele levou um tapa nos lábios e foi xingado de blasfemador. Ele não sabe o que a palavra significa.

Mas mesmo os gritos dos santos não conseguirão fazer ele mudar de ideia.

Ramiro tem quase certeza que é um erro, e tem certeza que não é um erro que foi muito querido. . .

Só que agora Ramiro também aprendeu que foi totalmente indesejado . . .

É há diferença entre não ser muito querido e ser totalmente indesejado. . .

Ele deixou a escola mas não é estúpido, ele sabe que há!

Mas ele já deveria ter imaginado que era mais do que um "pouco não querido" antes.

(Tarvez eu... só tivesse tentando não ver. . .) –Pensa estremecendo enquanto tenta desesperadamente se levantar e se dirigir até o banheiro.

Sua perna lateja a cada passo e faz alguns barulhos estranhos e ele quer tanto tanto gritar, mas ele não vai.

Ele sente seus olhos pretos como jabuticabas lacrimejarem cada vez mais, mas ele morde os lábios com força até sangrar apenas para não derramar uma lagrima.

(Machos não choram. ) –O bordão se repete em sua cabeça e ele quer se jogar no chão e se encolher até que ele suma de uma vez como todo mundo parece desejar.

(Como ele deseja.)

Ele chega até o banheiro por um milagre, seus ouvidos zunindo e sua boca com gosto de cobre.

Estremecendo então ele tranca a porta e se joga da maneira mais silenciosa que pode para dentro do cômodo.

Ele sabe que não está totalmente seguro, ele sabe que isso vai se tornar um problema mais tarde, ele sabe que não está sendo discreto, ele sabe que sua mãe só vai ficar mais cansada se o ver assim. . .

Ele sabe que machos não choram, mas o que está escorrendo de seus olhos não são lágrimas.

São dor pura. São o que restou de sua alma. . .

E hoje, ele não quer ser Ramiro, o fardo.

Ele não quer ser Ramiro, o indesejado.

Ele quer não estar lá.

Infelizmente, o que ele quer. . . no entanto, Não importa.

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Notas finais: Amanhã sai o cap 3. Espero que se divirtão lendo este! Amo vcs

Luz e SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora