IV - MONSTRO

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Notas Iniciais:
Não leia se tiver gatilho com abuso infantil implícito, agressão sexual implícita e com abuso psicológico e trabalho infantil. Espero que gostem e o próximo cap sai amanhã de tardezinha.

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Ramiro engole em seco, estremecendo como se tivesse levado um tiro, ele tenta se distrair mas as memórias continuam a se repetir dentro de seu celebre.

"O monstrinho dos La Selva tá irritadinho?"

"Ei, não estressa muito o machão não, se não ele vai lá e mete um tiro em nois tamém!"

"Que foi assassino? Tá tristonho?"

Ele tenta respirar o mais profundamente que pode mas o ar não vem e é como se suas vias respiratórias tivessem sido preenchidas com tampões de todos os tamanhos. Seu coração está acelerado como o de um coelho na frente de um Lobo e uma parte dele parece realmente acreditar que será consumida logo. (Consumida por tudo que sua mente não está mais conseguindo evitar.)

Ele não quer passar seu aniversário de 21 anos assim mas ele não consegue tirar as ameaças e as palavras de seus primos de sua cabeça.

Ramiro quer gritar, quer ser engolido por um buraco, quer sumir porque. . . Deus, como ele odeia essa sensação!

Não é a primeira vez que ele se sente assim. . . Provavelmente não será a última. . . Mas porra, isso está se tornando cansativo.

Ele pode não saber exatamente o que tem mas ele com certeza achou que até esse ponto, o ponto insuportável ele já estaria morto.

Dificuldade para respirar, tremores nas mãos, peito acelerado. . . Isso são sintomas de doenças, não são? Ramiro não é lá a pessoa mais sabida mas ele tem quase certeza que o que tem são sintomas de doença!

E porra, Ramiro não quer morrer! Ele realmente não quer, não agora quando as coisas finalmente estão. . . Melhorando! Sua mãe precisa dele e ele pode ajudá-la finalmente, ele tem uma casa garantida e um carro só dele, ele pode comer mais do que nunca comeu antes em toda sua vida, ele tem uma vida digna! Finalmente, ele tem. . . (?) tem uma vida digna. . .

(E daí que suas mãos ficam cada vez mais sujas para que assim possa ser? Ramiro passou a vida toda cavando e se deitando na terra e na lama para conseguir o mínimo, ele não se importa de ter que molhar suas mãos em vermelho para ter o que ele esperou 21 anos para conseguir. Se suas mãos estão manchadas pelo resto de sua vida, então pelo menos não foi alguém importante que teve que fazer esse sacrifício. )

O cacheado encara suas próprias mãos cobertas de cicatrizes de calos e da arma, enquanto tenta focar em qualquer coisa além do que o consome.

Ele deita sua cabeça na mesa suspirando profundamente enquanto tenta esquecer da bagunça que é sua vida.

Se ele pudesse ser sincero consigo mesmo ele diria que quer ver sua mãe, que ele está louco pra falar com ela mesmo que ela o evite como uma praga como sempre, que ele sente falta. . . Que ele. . . Ramiro mataria por um abraço de sua mãezinha. . . Um colo.

O moreno sente seus olhos arderem, apenas um pouco. . . Mas ele consegue engolir o molhado junto com a água em seu copo. (É a única bebida grátis do bar então é o que ele vai tomar.)

(Ele quer sua mãe, ele quer há anos. . . Mas ele não é mais aquela criança egoísta que abraçaria sua mãe quando ela estivesse dormindo apenas para poder se aconchegar com ela sem aquele olhar reprovador acompanhando. Ele sabe o que deve priorizar.)

Luz e SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora