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Segunda feira, 11 de fevereiro de 1692

Hemlock Grove, Massachusetts

























Não deixarás viver nenhuma feiticeira
Êxodo 22:17

























Hoje eu fui á igreja pela manhã, o padre Lake não havia voltado e a missa ficou nas mãos de um reverendo. Depois da missa eu volto para casa para trocar de roupa e saio um pouco alegre, dou bom dia para todos que vejo e sempre coloco um sorriso no rosto. No meu bolso tem um pequeno pedaço de turmalina

A escolinha hoje está meio vazia, com boatos se alastrando igual fogo em palha seca as pessoas têm tido medo de deixar suas filhas em mãos que elas acham que são bruxas, e a senhora Headler, na concepção delas, parece uma bruxa, não sei como ainda não a tentaram matar. Cada vez mais a igreja estava cheia de devotos orando e pedindo proteção. Onde quer que Deus esteja eu não sei se ele vai ouvir reclamações tão infundadas

Nós bruxas somos inofensivas, não fazemos mal a ninguém, mas, se por algum motivo, você fizer um mal a gente, só iremos revidar. Claro que algumas bruxas acreditam no karma, mas eu não. Não se casar? Ser inteligente? Isso nem era considerado bruxaria, pelo amor da Deusa

- bom dia senhora Headler - digo colocando um grande sorriso no rosto

- bom dia Belladonna - ela parecia desanimada

- o que houve?

- muitas alunas mais velhas não vieram hoje - ela me mostra a sala com apenas algumas meninas com no máximo 8 anos

- bem, vamos começar as aulas, eu posso ensinar as mais novas a ler - dou uma sugestão

- claro

Ela sorriu para mim e começamos nossos afazeres

Me sento com uma menininha que parecia ter cinco anos, ela desenhava no papel alguma paisagem ensolarada e bonita com algumas casas, seus cabelos eram cacheados e loiros, pele morena e olhos grandes de uma cor azul intensa, seu vestidinho, ainda sem o espartilho, era ajustado para que delineasse bem seu corpo pequeno e "encorpado". Se não fosse pelos cachos eu poderia facilmente ser enganada se alguém me dissesse que aquela era filha de Billie

- o que está fazendo? - pergunto educadamente e sorridente

- é assim que eu vejo nossa vila - ela falou feliz com uma vozinha doce - feliz, ensolarada e bonita

A vila não era mais assim. Durante todo o final de semana pessoas começaram a olhar estranho para algumas outras e se afastarem, a desconfiança e o medo estavam tomando conta de tudo e dessa vez não era só na minha cabeça. Eu nunca mais tive uma ilusão ou um pesadelo horrível igual aos que eu tive, muito pelo contrário, eu nunca mais tive sonho nenhum, estava apenas deitando e capotando

- e como anda sua escrita? - pergunto pegando um papel do seu lado com algumas letras

O papel tinha frases escritas em uma caligrafia perfeita demais para uma criança que parecia ter cinco anos

- qual sua idade, meu bem? - pergunto lendo as frases

- cinco anos - ela me encara - tenho cinco anos, senhorita!

Ela era muito mais inteligente do que as outras meninas, sua letra cursiva era muito bonita e as frases eram extensas, bem pensadas e bem escritas, não era comum. Eu a encarei e ela voltou a desenhar com os pezinhos balançando e cantarolando alguma coisa

HOLY • B.EOnde histórias criam vida. Descubra agora