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Sábado, 15 de março de 1692

Hemlock Grove, Massachusetts




















Assim como um dia bem passado traz um sonho feliz, uma vida bem aproveitada traz uma morte feliz

Leonardo da Vinci






















Era como uma mistura de dor e agonia, lembrar daquele dia faz minhas entranhas se contorcerem

Eu estava sentada, na minha frente havia William, o pequeno sorria e fazia uns sons fofos que eu não sabia identificar, suas bochechas rosadas e suas mãos pequenas, enluvadas, roupas em tons de bege e branco, tão lindo e inocente. Em um momento estava lá e depois... Depois restava apenas seu corpo

Seu corpo sem vida, aberto ao meio e ensanguentado, suas entranhas ainda funcionavam, algumas pulsando com o sangue e se movendo enquanto ele estava deitado, mas seu coração não estava mais lá. Tinha sangue por toda a parte da cesta de palha e ainda pingava no chão de pedras pequenas, eu estendi minha mão para tentar pegá-lo mas me retraí de medo e um pouco de nojo, me rastejei para trás com os olhos arregalados e a boca aberta, sem ainda acreditar no que eu via, por uma certa distância

Meu mundo ficou em silêncio por alguns segundo, uma reação visceral e instantânea, onde as lágrimas surgem como uma resposta involuntária à intensa descarga emocional. É como se as emoções se manifestassem fisicamente, liberando a tensão causada pelo que eu havia visto, até Billie chegar com um sorriso no rosto e ficar apavorada no mesmo momento

Ela deixou as amoras caírem e correu para o berço, seus braços se estenderam para pegar o que sobrava do irmão, segurando e abraçando o amontoado de entranhas e parte do corpo enquanto chorava e o sangue sujava seus braços e mãos, suas roupas e até parte do rosto. Ouvir seu choro de desespero e tristeza era como testemunhar a expressão mais crua da dor humana. Cada lágrima carregava o peso de uma emoção inexprimível, e a sensação era de impotência diante do sofrimento de minha amada

Bem logo atrás dela havia uma mulher, a mesma mulher que eu havia visto antes, só que agora mais perto, dava para ver seu rosto velho e seus cabelos brancos longos parecendo palha, seu corpo enrugado e batido. Em seu rosto e mãos tinham manchas de sangue e assim que ela percebeu meu olhar, sorriu, um sorriso que fazia seu olhar brilhar, como se houvesse uma sombra por trás da expressão, revelando algo mais profundo e desconcertante

- você... - sussurrei para mim 

Ela caminhou para adentrar a mata e eu me levantei devagar, caminhando em sua direção devagar, meus passos começaram a se acelerar devagar e quando dei por mim estava correndo na direção da mulher, adentrei a mata atrás dela a vendo correr na frente, meu pulmão doía por conta do ar e do frio, mas eu não parei, pulava sobre alguns galhos caídos e continuava, vendo a mulher quase desparecer em minha frente

- ESPERA - gritei com a força que me tinha - SUA VELHA DESGRAÇADA

Chorei por conta da dor de perder o que para mim era meu irmão, mas meus pés ficaram presos em um galho me prendendo e me fazendo cair de cara no chão e apagar

Acordei horas depois, de noite, minha cabeça doía e eu estava triste demais para me mexer ou qualquer coisa, culpa preenchia todo o meu ser porque no fundo, eu sei que foi culpa minha de algum jeito

Sentada agora no banco da igreja ao lado de minha família e atrás de Billie eu não consigo ter nenhuma reação, estou paralisada, a discussão fluía entre os fieis e minha família sobre o que teria acontecido no pé da floresta. Olho para cima vendo minha irmã gritando e meus pais me defendendo, Billie na minha frente soluçava de tanto chorar e era amparada por uma de suas vizinhas que me olhava feio

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⏰ Última atualização: Dec 03, 2023 ⏰

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