Capítulo 29

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                                TAEHYUNG

Jungkook não apareceu no trabalho no dia seguinte. Meu desconforto se transformou em um desmoronamento geral, e meu estômago estava dolorido porque eu sabia que algo havia mudado. Não fazia ideia se tinha a ver com a mulher que saíra do escritório de Jungkook no dia anterior à noite ou com a reação que Hoseok teve com a notícia de que éramos um casal, mas minha ansiedade estava me matando.

Ele não respondeu à mensagem de texto, e, ainda que o celular estivesse configurado para produzir um som sempre que uma nova mensagem chegasse, fiquei de olho nele a cada dois minutos.

Estava perdendo rapidamente o foco para trabalhar. Uma voz baixa em minha cabeça sussurrou: Viu? Isto é o que você consegue por ter um caso no escritório. Você não aprendeu a lição?

Tentei ignorá-la. No fim do dia, parei na mesa da secretária de Jungkook e tentei soar natural.

— Sabe quando o chefe volta?

— Ele não disse. Acabei de receber um e-mail dizendo que ele não viria. — Ela franziu as sobrancelhas e deu de ombros. — Achei estranho.

Fiquei no escritório até as sete. Ainda sem sinal do Jungkook, peguei o telefone e liguei antes de sair. Deu caixa postal direto. Passando de ansioso para preocupado, enviei outra mensagem. A segunda não mostrou nem a notificação de entrega. Seja lá o que estava acontecendo, o celular estava desligado, e ele não queria ser encontrado. Eu estava aflito pensando sobre o que fazer depois.

Aparecer na casa dele sem avisar? Tínhamos um relacionamento. Era normal que eu estivesse preocupado com a falta de notícias dele, certo?

Então, novamente, se ele quisesse falar comigo, já teria ligado. Ao contrário dele, eu estava bem onde deveria estar. E acessível de várias maneiras: mensagem de texto, voz, e-mail, telefone do escritório. Ele podia me encontrar.

A menos que. 

A menos que algo estivesse errado.

Puta merda. Algo estava errado.

O que eu estava fazendo sentado no escritório?

Praticamente correndo para o metrô, subi no primeiro trem e segui para o outro lado da cidade. 

Toquei a campainha, mas as luzes da casa de Jungkook estavam apagadas. A correspondência parecia não ter sido recolhida havia um dia...talvez até dois. Não sabendo mais o que fazer, depois de um tempo, fui para minha casa com relutância. Logo pela manhã, se ainda não tivesse sinal dele, eu ia falar com Jimin.

Virei de um lado para o outro a noite inteira. Por fim, tomei banho e me arrumei, mesmo que fossem só cinco da manhã. Meu celular estava carregando e, quando abri as mensagens que havia mandado para Jungkook, notei que as da noite passada haviam sido lidas recentemente. No entanto, não houve resposta. Ele deve ter carregado o celular em algum lugar. Possivelmente em casa?

Minhas emoções estavam à flor da pele. Ele, obviamente, estava em algum lugar em que conseguia ligar o celular, então poderia ter me ligado para me dizer que estava bem. No entanto, talvez não estivesse. Talvez precisasse de alguém. Talvez esse alguém fosse eu.

Então, voltei para aqueles lados. O sol acabara de subir quando cheguei à estação. Desta vez, na casa dele, havia uma luz acesa. E a caixa de correio estava vazia.

Toquei a campainha e esperei, ansioso. Depois de alguns minutos, a porta se abriu. Respirei fundo e esperei que Jungkook falasse.

Mas ele não fez isso. Ainda mais doloroso, porém, foi que ele também não abriu a porta e me convidou para entrar. Em vez disso, saiu para a varanda. Mantendo certa distância entre nós, ele olhou para o outro lado do quarteirão, só para não me encarar.

— Jungkook? — Dei um passo à frente, mas parei quando senti seu cheiro. Ele exalava álcool. Foi então que percebi que vestia a mesma camisa e a mesma calça que da última vez em que o vi no escritório. Estava amassada e faltava a gravata, mas definitivamente era a mesma roupa.

Ele não respondeu nem olhou para mim.

— Jungkook? O que está acontecendo? Você está bem?

O silêncio era doloroso. Parecia que alguém havia morrido, e ele não podia dizer em voz alta, não podia enfrentar.

Meu Deus. Alguém morreu?

— Jiwoo está bem? O bebê?

Ele fechou os olhos.

— Eles estão bem.

— O que está acontecendo? Onde você estava?

— Eu precisava de um tempo sozinho.

— Isso tem algo a ver com a mulher que estava no escritório na outra noite?

— Não tem nada a ver com você.

— Então tem a ver com o quê? — Minha voz saiu alta e frágil, mas se tornou um sussurro. — Não entendo.

Finalmente, Jungkook olhou para mim. Quando nossos olhares se encontraram, eu vi muito em seus olhos: dor, tristeza, raiva. Suspirei. Não tanto porque me assustou, mas porque eu podia sentir a dor que ele estava experimentando. Meu peito se apertou, e um nó cresceu em minha garganta.

Mesmo que sua linguagem corporal não fosse nada acolhedora, estendi a mão, querendo oferecer conforto. Ele se afastou, como se meu toque queimasse.

— Jungkook?

Ele balançou a cabeça.

— Sinto muito.

Esfreguei a testa, me recusando a entender.

— Está arrependido? Por quê? O que houve?

— Você estava certo. Trabalhamos juntos. Nada deveria ter acontecido entre nós.

Parecia que alguém tinha me atingido no rosto.

— O quê?

Ele olhou para mim de novo, seus olhos se encontraram com os meus, mas eu sentia como se ele ainda não me visse.

Por que ele parecia tão perdido?

— Espero que você continue lá. Hoseok admira muito o seu trabalho.

— Isso é uma piada? O que aconteceu? Não estou entendendo.

A expressão de Jungkook passou de vazia para dolorida e, de repente, eu queria ver mais disso em seu rosto. Me senti usado e insignificante. Envergonhado. E odiei o fato de ele ter me feito sentir assim. Era ele quem deveria ter vergonha de como estava agindo.

Ele baixou a cabeça, sem me encarar, como um covarde.

— Sinto muito.

— Sente muito? Não entendo nem pelo que você sente muito.

— Não sou o homem certo para você.

Dei um passo à frente, fazendo com que ele me encarasse.

— Sabe de uma coisa? Tem razão. Porque o homem certo para mim teria coragem de, pelo menos, me dizer a verdade. Não tenho ideia do que aconteceu, mas não mereço isso.

Vi um relance de algo em seus olhos, e, por meio segundo, parecia que ele se aproximaria de mim. Mas não. Em vez disso, deu um passo para trás, como se precisasse de distância para evitar me tocar.

Comecei a me virar, querendo sair dali para desaparecer com algum fragmento de minha dignidade intacto, mas depois me virei.

— Sabe o que é pior? Você foi a primeira pessoa que me fez sentir seguro desde que eu era criança.

O ChefãoOnde histórias criam vida. Descubra agora