pessoas gradualmente menores em espírito

49 6 6
                                    

   Por volta das três da manhã, Minho ouviu a clarabóia abrir e sentiu alguém sentar ao seu lado. Era Seungmin. Sua aparência estava péssima: olhos inchados e um tanto vermelhos, suor na testa e roupas amarrotadas no corpo. Sua expressão era uma mistura de cansaço e tristeza.

Nada foi dito por um tempo, os dois apenas encarando as estrelas em busca de respostas. Em certo momento, o mais novo apoiou a cabeça em seu ombro e suspirou.

— Você acha que Felix tem razão? — perguntou baixo, fechando os olhos.

— Acho que Felix ainda sente muito a morte do Jeongin — inclinou a cabeça, apoiando na do amigo — Ele só está bravo. Perdeu o melhor amigo.

— Talvez ele queria que fossem mais que isso.

Ao longe, Minho avistou um corpo em movimento. Um zumbi perambulava sem rumo pela calçada.

— Nunca entendi o Jeongin direito — falou finalmente — Mas sei que ele gostava de você. E se ele te pediu para fazer, então é isso que importa.

— Foi mais difícil do que ele pensa! — Seungmin exclamou, como se tentasse convencer a si mesmo.

— Eu sei.

O zumbi entrara em uma das casas e Minho não via mais sinal dele. Abraçou Seungmin de lado e suspirou.

— As vezes queria poder voltar no tempo.

— Nem me fale — fez carinho no braço do mais novo e depositou um beijo em sua cabeça.

Vez ou outra era possível sentir o fim do mundo se aproximando como se sente uma coceira no nariz antes do espirro. Ruas desertas, a falta de tudo que era comum antes e até mesmo as criaturas dominadas pelo vírus não faziam Minho sentir que o mundo acabaria, e sim ver pessoas gradualmente menores em espírito. Era como se eles estivessem mudando e se destruindo mais do que o lugar à sua volta. As casas aos pedaços não chegavam perto do sentimento de estar quebrado por dentro. Às vezes também era possível ver a vida passando diante dos olhos como um filme antigo. Momentos antes de pegar no sono, era possível sentir o coração apertar pela possibilidade de acordar já à beira da morte ou nem ao menos acordar.

— O que faria se fossemos nós dois naquela situação?

A garganta de Minho formou um nó. Não respondeu ao amigo, não sabia o que responder. Em situações de perigo, não pensaria duas vezes antes de se sacrificar por seus colegas, mas o que faria se aquele fosse o caso? O que faria se Seungmin fosse mordido? O que fazer se ele está mordido?

— Eu entendo o Jeongin — Seungmin continuou — Eu iria preferir que você me matasse.

As estrelas continuavam caladas enquanto Minho as encarava. Apertou o abraço no mais novo e jurou que não deixaria nada acontecer com ele enquanto estivesse vivo. Prometera que faria tudo o que fosse preciso para que o amigo não sofresse mais como já havia sofrido.

— Você não pode prometer uma coisa dessas.

— Mesmo assim.

De alguma maneira, a vida de seus amigos parecia infinitamente mais importante que a própria e Minho ouviu as estrelas pela primeira vez quando disseram que se ele quisesse morrer por alguém, elas o receberiam. E então ele finalmente se encontra em paz.

— Você é incrível. Espero que saiba disso — foi a última coisa que Seungmin disse antes de cair no sono envolto no abraço protetor do amigo. Minho gostaria de pedir-lhe desculpas naquele momento por prometer algo tão incerto quanto o futuro.

A semana que seguiu compensou toda a adrenalina gasta naquele dia. Havia dias assim também, em que nada acontecia. Aqueles eram os melhores dias, quando a realidade parecia ser completamente diferente. Ninguém arriscava suas vidas, nenhum zumbi aparecia e era possível até dar risadas e fazer piadas.

one will die before he gets thereOnde histórias criam vida. Descubra agora