01. Saudade

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Com a visão levemente embaçada por olhar durante horas para a mesma tela de computador, James esticava suas costas na cadeira de seu escritório, sentindo os músculos tensos por uma jornada tão longa de trabalho.

No relógio pendurado na parede à frente do homem, os ponteiros pareciam voar, marcando as oito da noite. Era mais um dia em que James prolongava seu trabalho com horas extras, fazendo o possível para chegar em casa na hora de dormir.

Habitualmente, Lily não aguentava o esperar tanto e acabava se deitando antes da chegada do marido. O que, para ele, era um alívio por não ter que engatar sua mente cansada em mais uma discussão. A mulher parecia fazer questão em procurar um motivo para brigas e isso resultava numa dor de cabeça excruciante para o Potter.

James tentou, realmente tentou ter uma boa relação com a ruiva no início, mas depois de se casarem Lily parecia ter tomado como missão fazer de sua vida um inferno.

James não poderia culpá-la, Lily havia sido tão obrigada a se casar quanto ele. O senhor Evans estava falindo e Fleamont pensou que uma ponte entre as famílias faria bem para ambos os negócios.

O Potter não poderia discordar mais de seu pai. Aquele era um casamento infeliz, mas por alguma razão Lily havia desenvolvido um certo tipo de possessividade sobre o marido. A Evans agia como se ele devesse algo à ela.

E foi pensando nisso que James suspirou frustrado, deixando seu olhar vagar para a foto colada acima de seu monitor. Era uma foto velha dos tempos da escola, onde o Potter estava sentado no gramado em frente ao prédio escolar e Regulus tinha sua cabeça apoiada no colo de James, com um livro em mãos. Remus havia tirado aquela foto, ele se lembrava perfeitamente do momento.

— Ah, Reggie... — James suspirou pegando a foto em mãos, observando-a com tristeza. — Se ao menos eu tivesse tido coragem.

— Falando sozinho, Jamie? — Sirius se pendurou no batente da porta num piscar de olhos, dando um belo susto no amigo, que guardou a foto rapidamente no bolso.

— Vamos, Six, pare de amolar o James. — Lupin estava logo atrás de seu marido com um sorriso amigável, mas era claro que o trabalho naquele escritório era cansativo para todos.

— O que acha de uma saideira, irmão? — Sirius sorriu maroto para James, assim como fazia na adolescência.

James balançou a cabeça numa tentativa de negar, mas acabou por revirar os olhos e sorrir.

— Tá bom! Tá bom! Vamos lá. — O Potter riu, se levantando da cadeira e espreguiçou um pouco sonolento.

Assim que chegaram no bar onde sempre íam, seja para comemorar a promoção de algum deles, ou para chorar e esquecer dos problemas, os três amigos pediram uma primeira rodada.

— Obrigada, Joe. — James agradeceu com um sorriso assim que o homem terminou de servir as seis doses de tequila sobre o balcão.

— Melhor remédio pros problemas, tequila na veia. — O barista piscou para o Potter do jeito amigável de sempre e virou sua atenção para outro grupo de clientes na outra ponta do balcão.

Sirius virou uma dose silenciosamente e James se viu no direito de fazer o mesmo, mas mandando as duas doses de uma vez.

— Vão com calma, vocês dois. — Remus advertiu com um olhar sério, mas não severo. Não era atoa que desde a escola o mais alto levava o título de "mãe do grupo".

— Oh, Mon amour, não se preocupe. — Sirius deitou sua cabeça no ombro de Lupin, como um gato que pedia por carinho. — Eu prometo que não vou dar trabalho, está bem?

O castanho revirou os olhos, dando um beijo na testa do Black.

— Você sempre diz a mesma coisa. — Remus resmungou e bebericou um pouco da bebida, mas logo fazendo uma careta. — Mas sempre acaba indo conversar com estranhos ou dançando em cima da mesa.

— Quieto, você me ama assim. — Sirius sorriu de canto e olhou para o melhor amigo que estava cabisbaixo ao seu lado, apenas encarando os dois copinhos vazios. — Ei, Jamie. O que aconteceu, cara?

— É a Lily. — James bufou irritado com sua mulher e fez um sinal para o barista, pedindo outra dose. — Ela vai me fazer infartar de ódio! Ela veio com uma briga sem sentido sobre o aniversário de um ano do Harry e eu simplesmente deixei ela gritar no meu ouvido por umas duas horas.

— Ugh... Eu disse, cara. Devia ter fugido antes de entrar naquela igreja. — Sirius fez uma careta e recebeu um cutucão de Remus. — O quê? A diaba é insuportável mesmo.

— Six tem razão, Remus. — O Potter suspirou bebendo outra dose. — Eu deveria ter me recusado a casar com a Lily enquanto podia.

— Não foi sua culpa, Jay. — Lupin sorriu compreensivo e disse gentil. — Você só queria ajudar sua família.

— Eu deveria ter ido embora... — James deixou que uma lágrima escapasse de seus olhos, mas logo a limpou. — Deveria ter escolhido minha felicidade... Deveria ter escolhido- ...

— O Reggie. — Sirius completou, agora sério e compadecido pelo melhor amigo.

— Eu sinto falta dele. — James suspirou sentindo um aperto em seu coração, tentando se controlar para não cair numa choradeira por causa da bebida – o que ele usaria como desculpa, ao menos.

— Ainda há tempo. — O Black virou mais uma dose e o moreno franziu as sobrancelhas. — Vá em frente, James.

— Por acaso está sugerindo que eu vá para Paris? — James desdenhou e seu melhor amigo ergueu os olhos para o céu suplicante.

— Deus, James... Meu irmão voltou! Regulus está aqui nessa cidade e exatamente agora deve estar se deprimindo com aqueles livros chatos num quarto de hotel.

— O que?... — A boca do Potter se abriu lentamente, seu cérebro em choque processando cada palavra que ouvira.

— Sirius... — Remus advertiu, parecendo receoso.

— Meu irmão se cansou das ruas Parisienses cheias de ratos e resolveu que seria uma boa ideia voltar para casa depois de literalmente seguir todo o plano de vida que nossos pais julgaram que era o melhor.

— Amor... — Remus tornou a repreende-lo.

— Não, Moony. Sem essa de "amor". — Sirius disse impassível, olhando-o com firmeza. — Eu vi nosso melhor amigo se sacrificar, lutando ano após ano por uma ideia de um casamento feliz, mas como ele seria feliz se não está com quem ama?

Remus suspirou se calando, ele sabia que seu marido estava certo e nunca era uma boa ideia entrar em uma discussão com um Black.

— Você ama meu irmão, James? — O moreno questionou mexendo em seus anéis de prata, enquanto olhava para o amigo apreensivo.

James paralisou por um segundo, segurando sua vontade de responder automaticamente que sim. Então, olhando seriamente para Sirius, ele disse:

— Onde ele está hospedado? Eu tenho que vê-lo.

I STILL LOVE YOU; starchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora