O dever me levou: 4

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Um amanhecer ensolarado se acendia por toda cidade, a noite tempestiva e desesperadora passara dando lugar à um dia com sua corriqueira movimentação pelos arredores. O sol iluminava pequenas poças formadas e gotas de água ainda caiam de árvores no solo frio que logo aqueceria. Lúcio despertara com uma alegria vibrando em seu coração, encontrar sua mulher radiante na cozinha, cantarolando como há anos não fazia não parecia ter preço.

Nada no mundo podia se igualar a toda emoção que enchia seu peito ao poder, depois de tantos anos oculto, vislumbrar o sorriso mais sincero que vira nela. Um forró tocava ao fundo, baixinho, e ele teletransportou à outra época em que toda sua família estava unida e feliz. A puxou para uma dança tímida, e sutil, e ouviu seu riso empolgado fazendo todo seu mundo desmanchar em amor.

- Quanto tempo faz que não dançamos um xote juntos? - Lúcio murmurou com o queixo descansado no ombro dela, enquanto davam pequenos passinhos.

- Desde que perdemos nosso menino... - Suspirou com tristeza, segurando na mão dele - Ele quem colocava as músicas pela manhã, lembra?

- Nunca poderei esquecer... - Lúcio a abraçou mais perto de seu corpo e fechou os olhos por alguns segundos - Eu te amo tanto, Cecília, tanto.

- Eu também te amo muito, querido - A mais velha beijou sua bochecha e se afastou - Agora me deixe terminar o café da manhã antes que aquela doce menina acorde.

- Eu te ajudo, meu amor - A abraçou por trás e sorriu abertamente.

Enquanto o casal deixava a mesa pronta, a campainha tocou e Alessandro se ofereceu para atender. Carlos e Lia adentraram o apartamento abraçados de ladinho, conversando sobre suas vidas, cumprimentaram o primo que não parecia estar de tão bom humor e reviraram os olhos ao passar por ele. Carlos abraçou sua mãe animado e assim como sua irmã ficou admirado com a alegria cativante dela. Lúcio beijou o topo da cabeça de sua filha mais nova e os convidou para se sentar à mesa.

- Como está minha netinha? - Lúcio perguntou por Estela enquanto seguiam até a mesa.

- Bem, pai! Ela foi muito animada para escola agora de manhã - Lia contou empolgada.

- A que se deve toda essa alegria, mãe? - Carlos perguntou enquanto mordiscava uma torrada, ainda de pé próximo a mesa.

- Ah meu filho... Sinto que Deus mandou um anjo a minha vida para trazer algum conforto, não sei explicar - A senhora sorriu com uma alegria distinta.

- Um anjo? - Lia questionou confusa e se surpreendeu ao ver uma jovem vindo, timidamente, dos quartos.

- Minha nossa! Não é um anjo, é O anjo - O filho dos Gomes deixou a torrada cair e admirou a morena que vinha ao encontro deles.

- Carlos! - Lia o repreendeu baixinho e deu um beliscão em seu braço o fazendo esboçar uma careta para ela - Isso lá são modos!

Carlos mexeu em seu braço dolorido e seus olhos jamais conseguiram deixar a imagem divina a sua frente. A jovem de cabelos pretos, sedosos, corpo deslumbrante e sorriso tímido o tirou de órbita como apenas uma mulher havia feito em sua vida. Um suspiro longo o deixou e os olhos a registraram de cima a baixo no vestido justo que ela vestia, era de sua irmã, mas parecia cair perfeitamente a ela, como se fosse uma vestimenta feita exatamente para seu corpo perfeito.

Um olhar jovial abrilhantava mais suas feições, as bochechas coradas de vergonha e um casaquinho cobrindo seu colo terrivelmente esbelto. Tentou desviar seu olhar hipnotizado das coxas belíssimas da morena, estava exposta na parte mais soltinha do vestido. Arrebatado por seu olhar profundo, um marcante par de olhos castanhos, tentou se aproximar dela para a cumprimentar e Lia o puxou pelas costas da camisa.

Dever e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora