Renata e Daniela

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Renata era gerente de um banco e conheceu sua namorada no dia a dia. Geralmente ela almoçava na padaria onde Daniela trabalhava e ao passar do tempo elas foram se conhecendo e começando a saírem juntas. Não demorou muito tempo até que elas fizessem o namoro engatar, mas agora depois de um ano e alguns meses tudo parecia ter esfriado entre elas. Apesar de Renata ainda continuar amando a namorada, a rotina estava dando um banho de água fria nelas de um jeito que a preocupava seriamente.

Daniela sempre fingia não estar acontecendo nada de sério, sua personalidade leve e sorridente sabia como desviar daquele tipo de problema sempre de uma forma humorística. Ao contrário da namorada que estava sempre séria e muitas vezes só sorria na sua presença ou da família. Os funcionários tanto da padaria quanto do banco sempre se perguntavam como elas tinham conseguido engatar o namoro sendo totalmente diferentes e vindas de mundos completamente opostos.

Daniela era matutina por vida e profissão, levantava-se de madrugada para produzir suas "mimosidades" como chamava os doces, pães, bolos e tortas da padaria. Antes de dar meia noite ela já estava morta de cansada, ao contrário de Renata que sofria para levantar no horário comercial do banco e não fazia careta alguma ao pôr o salto e terno, estendendo seu nível produtivo noite adentro quando chegava em casa e ainda tinha energia para resolver algumas pendências do trabalho.

Apesar dos contrastes, elas conseguiam ser felizes a seu modo. Daniela sempre conseguia arrancar um sorriso de Renata, que sempre dava um jeito delas ficarem juntas na rotina corrida de ambas. Além disso na cama elas também eram ótimas para um casal de lésbicas apaixonadas, mas aquele setor do namoro também tinha esfriado nos últimos tempos. E a gerente se culpava um pouco por estar sempre com a cabeça focada no trabalho nos últimos meses.

Daniela percebia a preocupação da namorada e decidiu chamá-la para uma conversa no horário de almoço. Pediu para seus funcionários as deixarem a sós na cozinha da padaria e fechou a porta.

- O que está acontecendo?

- Sei lá, eu só não estou mais com muita cabeça para a gente...

- Você quer terminar? – perguntou a confeiteira com medo de uma resposta afirmativa e tentou segurar o choro que vinha como um mar dentro de seu peito.

- Não... Eu só queria que as coisas fosses diferentes, sabe?

- Tipo o que?

Renata sentia-se sufocada, não queria estar num relacionamento por obrigação e muito menos queria machucar Daniela. Foi quando viu uma caixa de nata entreaberta em cima de uma das mesas da cozinha e se perdeu um pouco nos pensamentos.

- Amor? – Daniela a chamou de volta para a conversa estranhando a pausa que ela fizera.

- Por que a gente não viaja esse final de semana? Muda os ares um pouco e tenta descansar?

Daniela ficou preocupada sobre os horários delas, mas concordou. Talvez o peso do mundo de Renata precisasse de mais do que risadas para se equilibrar, elas então se beijaram e voltaram para sua rotina. Mas naquela mesma tarde, quando um de seus ajudantes na cozinha perguntou o que aquele pote de nata estava fazendo ali no canto, ela disse não saber. Só lembrou da expressão de curiosidade no olhar da namorada no almoço e ficou refletindo sobre aquilo.

No final do dia elas jantaram juntas, mas Renata parecia perdida ao olhar o prato que tinha pedido por delivery.

- Ainda preocupada?

- Não... – mentiu Renata tentando não ter outra conversa séria com a namorada, só queria relaxar na verdade.

Daniela sabia que ela tinha mentido, então foi até a geladeira e pegou um pedaço da torta que tinha feito naquela tarde. Colocou o pedaço na frente de Renata e percebeu que a expressão no olhar dela mudou completamente colocando o prato da janta de lado e atacando a sobremesa com toda fome que estava sentindo. A confeiteira riu feliz da cena, mas ainda queria conversar sobre elas.

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