Mônica tinha voltado do almoço completamente estressada, sabia que aquela tarde de reuniões iria ser terrível apenas pelo fato de seu assistente ter lhe adiantado os resultados ruins da revista naquele trimestre. Ela, gerente de marketing odiava entregar resultados ruins para seus superiores. Enquanto encarava a caneca de café, pensou numa cerveja supergelada. Sabia que mesmo ali dentro, a luz solar das ruas do lado de fora do prédio não mentiria sobre o calor lá fora no mundo. E mesmo ali naquele ar-condicionado agradável, ela queria apenas uma cerveja antes do baque que seria a sua tarde.
Ela foi interrompida por Lucas, seu assistente que já abriu a porta da sala da sua chefe temeroso para lhe informar que alguns dos outros gestores já estavam seguindo para a sala de reuniões da empresa. Ele notou a falta de ânimo nela, mas achou melhor não comentar nada afinal de contas, tinha sido ele mesmo o portador das péssimas notícias.
Ainda estressada, no caminho de volta para casa ao final daquele dia estressante, a chefe de Lucas passeava o dedo pelos aplicativos de celular. Um pouco triste sabendo que só lhe restava metade de uma pizza na geladeira da noite anterior. Alguns amigos tinham lhe mando mensagem, mas ela nem se dera o trabalho de abrir entediada e triste com aquele dia sabendo que não apenas seu setor, como a empresa em que trabalhava ia decaindo no mercado competitivo que era o mundo físico-digital.
Antes que o Uber pudesse chegar perto de seu endereço, ela notou que uma das mensagens que não tinha respondido era de seu primo Eduardo que estava de férias na cidade. Sem saco algum ela abriu de repente a mensagem, afinal eles se falavam pouco... Eduardo tinha tirado férias ao término oficial de seu divórcio estava curtindo a cidade com uma ficante por quem se apaixonara perdidamente. Sem perceber, Mônica estava marcando algo no final de semana com ele e a tal ficante.
A promessa de apenas algumas horas relaxando e rindo, lhe fez bem mesmo ao comer a pizza gelada que ela não quis esquentar no micro-ondas. Era uma de suas particularidades: o gosto pela pizza gelada, sem reaquecimento algum. Uma de suas amigas mais próximas dizia que ela era um contraste ambulante: pizza e cerveja gelados, cama e cérebro sempre pegando fogo.
Antes que o final de semana pudesse chegar, Eduardo enviou algumas fotos do casal para sua prima. Queria que pelo menos ela soubesse que ele estava feliz novamente, eles marcaram num pub próximo ao prédio onde Lucas e sua chefe passaram a semana tentando novas estratégias de trabalho para seu setor sofrer o mínimo possível.
Ao chegarem no pub, Mônica pediu logo um chopp. Era seu único desejo para o final de semana, seu foco durante aqueles dias chatos tinha finalmente sido pago desde o primeiro gole. Não se surpreendeu ao ver que Eduardo estava com uma mulher mais nova, Louise. Afinal de contas, seu primo tinha sido o clássico clichê do homem hétero desde a infância. Resolveu ignorar os fatos, rir com os amigos que tinha levado consigo naquela noite e claro, deixar a roupa suja de Eduardo no silêncio dos selinhos que ele fazia questão de dar na mulher que o acompanhava.
Louise tinha um cabelo preto pintado de um loiro que já pedia para ser retocado, olhos grandes verdes que beiravam o castanho e uma cara de inocente que escondia uma safadeza pura. Não parecia ligar muito para Eduardo, apenas para a diversão daquela noite com os estranhos da mesa. Mas algo fazia Louise não conseguir tirar os olhos da prima misteriosa de seu namorado, algo que ela esperava que ele não notasse devido às circunstâncias. E por conhecê-lo suficiente para saber que talvez ele não soubesse lidar com a sua bissexualidade, que ela acabou nunca comentando com ele.
Lucas, que também tinha ido com Mônica para o pub, começou a perceber que ao longo da noite a sua chefe conseguia relaxar mais e estava adorando aquilo. Era um sinal que a semana seguinte seria ótima. O que Lucas também notava de onde estava sentado na mesa, era a troca de olhares entre Louise e Mônica. Hora envergonhados, hora curiosos, hora com desejos demais escondidos nos silêncios de risadas frouxas e por vezes altas.
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Madrugadas II
RomantizmMadrugadas II é um compilado de mais contos sáficos com um outro olhar e ainda sim contendo a liberdade de viver seus desejos.