7. Anemone - Um amor renunciado, abandonado.

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30/08/XX - Na era vitoriana, a flor retomou seu significado de amor renunciado e abandonado.

Menina, eu era apaixonado pelos seus cabelos ruivos. As vezes eles eram cacheados e tinha os momentos dele liso. Você era um tipo de pessoa que por mim, o mundo inteiro poderia morrer, mas se eu ficasse contigo, nem me importaria com mais nada. Eu me pergunto, o que foi que aconteceu conosco? Eu te faria mais feliz que todos os caras que você se envolveu porque eles não te dariam nenhum mundo, nem estrelas e nem satélites.

Eles nem sequer pensariam em nomear alguma constelação com o seu nome. E por mim, estaríamos juntos para sempre nesse apocalipse.

Eu me pergunto se não consegui demostrar o suficiente o quanto te amava porque quando você simplesmente sumiu, sem levar todas as coisas que cultivamos juntos, eu te procurei nas vielas, nos bueiros e não havia nenhum sinal para me guiar. É como se eu estivesse preso em um mundo fantasioso que tudo que o que foi desenvolvido, é apenas um sonho febril.

Você ao menos chegou a me amar de volta em algum momento? As estações passaram, você parou no outono e eu fiquei no inverno. Eu sentia falta do seu sorriso amarelo nas manhãs de quinta-feira. O que será que aconteceu com nós dois? Não tenho tanta certeza se naquele dia que não corri desesperado para aula de educação-física porque descobri que a quadra de esportes não iria para lugar nenhum e também aquelas bolas de futebol presas no teto, não iriam sair de lá.

Consequentemente, eu também não iria para lugar nenhum, estaria fadado a permanecer caminhando sem rumo naquele campo de pedras com pessoas que não gostavam tanto assim de mim. O que será que aconteceu com todo o amor que tanto diziam para aquela garota de cabelos curtos? Nunca foi compartilhado o suficiente para chegar em seu coração amargo. Se fosse possível voltar por alguns meros segundos, eu seguraria a mão daquela menina e a puxaria para perto de mim para que pudéssemos correr juntos para aula de educação física.

Pediria para que ignorasse o fato de que o professor não iria para lugar nenhum, nem a quadra de esportes criaria pernas metafísicas para fugir dali e nem as bolas de futebol começariam a cair do nada. Ela me olharia de forma confusa como se eu fosse maluco, mas eu diria que somos apenas crianças e devemos ser estúpidas. Por sermos crianças, temos que aproveitar o quanto podemos correr porque um dia fatídico chegará e não teremos alguém para apostar uma corrida e não sentiremos a mesma queimação nos pulmões limpando a cabeça. Todas as promessas infantis que fizemos um ao outro, me amaldiçoaram ao ponto do meu coração se encontrar em completo sofrimento.

Você não está aqui agora para ver desmoronar toda a ideia que tinha na minha mente do que poderíamos ser depois do mundo entrar em completa autodestruição. Iremos cuspir e vomitar verdades um na cara do outro. Será que cometi um erro quando abri o meu peito para você ver as batidas do meu coração? Eu peguei uma faca de cozinha e fiz uma bagunça sangrenta na pia do banheiro. Menina, eu tenho certeza que aquela garota de cabelos curtos te amava do fundo do seu coração minúsculo transbordando de amor, sonhos, desejos, vontades, esperança e propósitos. Eu aposto que se você começasse a correr, ela teria te ultrapassado apenas para te impressionar porque para ela, você merecia o melhor.

E ela tinha certeza que te faria mais feliz que todos aquelas caras imaturos que não lhe dariam um sonho, uma vida, um universo no qual você pudesse se apropriar e chamar de seu.

Acontece que ela te amava tanto que me pergunto se ela alguma vez já se sentiu tão amada assim? Receio que não porque de repente, não a encontrei mais nas livrarias ou esquinas da madrugada deserta. Os seus lugares favoritos desapareceram junto com ela. Será que cometi um erro?

Com amor,
"A voz engraçada de Deus".

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