8. Narcissus - Estupor, entorpecimento.

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04/09/XX - Narciso se tornou símbolo do individualismo e do excesso de amor próprio.

Teve um dia que olhei a escuridão das estrelas e a luz se refletindo em mim. Eu observei dentro de mim mesmo naquele fragmento lunar e vi que era o menino mais lindo do mundo. Botei aos mãos no meu rosto para sentir como estava vivo e procurando pelo amor. Procurar amar e ser amado nas esquinas desertas, nas livrarias solitárias ou nos bancos abandonados. Tudo que queria era ficar sozinho já que o mundo nada me ofereceu, porém também queria encontrar você no outro lado da rua dos achados.

Eu lembro que amava os cabelos ruivos dela e se pudesse, ficaria com ela para sempre. Só que o que eu tinha para oferecer a ela, não era bem o que ela queria e o que eu queria era nós dois. Tudo que queria era ela e tudo que ela queria era alguém. E nunca mais pude amar de novo porque esse amor era com ela e ninguém quer ser amado assim hoje em dia. Talvez, as pessoas só não queiram ser amadas assim por mim, talvez, eu esteja amando no lugar errado que não vai cultivar amor, a terra é imprópria. São tantos contextos, detalhes, eu me pergunto, como eles que eram as estrelas e agora estão desaparecendo porque nem o céu ou o inferno é capaz de abriga-los? Como eles escreveram tantas cartas, diários, telefonemas e não denunciaram suas verdades? É porque eles tem aquele tipo de amor de entrelinhas. Eu olhei para aquelas constelações sabendo que ele as criou para que você pudesse ver, só que você estava olhando para ele porque era o que de fato era bonito.

Eu não desconfio que ele não percebeu que diante daquele universo inteiro, o que mais te chamou atenção foi ele. Eu nunca vou entender esse tipo de sentimento, mas o que eu sei é que vou me encontrar nos sebos para ler as palavras que o meu coração não conseguiu formular. Como um analfabeto, ele não reconhece as letras e mal sabe dar uma outra resposta. O silêncio é tão agradável que se pudesse, nunca mais revelaria a minha voz e sumiria. Me tornaria parte dele para lembrar como a paz e a dor por trás do que o barulho encobriu. E quando os meus pés caminharem em direção ao mar tomado pela escuridão, se fundindo com o céu, eu vou me tornar a Ismália.

Porque de tanto querer a lua do céu e a lua do mar, ela sucumbiu a loucuras de delirar. Ela é como eu que do viaduto se pós a se jogar esperando que Deus a fizesse voar feito um rouxinol que sabe muito bem cantar. Eu passei por debaixo da passarela para lembrar do que prometi mais para mim do que para ela, eu só estava pensando nela e do meu sonho de querer que ela fosse feliz.

Eu lembro de quando era criança com as mãozinhas tão pequeninas chorando porque a tristeza se alastrava massivamente pelo o meu corpo e hoje, minhas mãos não cresceram e a amargura me corrompeu. Se existe salvação para mim, é porque não há salvação para ela. De maneira angelical, ele se foi com todas as estrofes da sinfonia e o deixou com o instrumento verbal. Isso porque por mais que não admita, ele seria capaz de tocar o que ele nem tentou reproduzir. De modo pecador, o mundo começou a chover peixes em nossas cabeças e eu me afoguei com o oxigênio.

É porque descobri que os ares se acinzentaram quando ela cortou os seus cabelos ruivos. E ela chorou ridiculamente por nada e não conseguia fazer-la parar de cortar os seus lindos cabelos escuros. Desesperadamente comecei a fazer promessas que nunca vou cumprir só porque queria machucar ainda mais o seu pobre coração porque sabia que ela iria embora se as estrelas começassem a sumir e de repente, o céu se tornou um vazio.

Apenas não se preocupe comigo, você sempre vai me encontrar nas livrarias estranhas, nos sebos de rua, nas bibliotecas desorganizadas e em todas aquelas palavras mal escritas no caderno de escola que nunca vão ser lembradas do motivo de estarem ali. Existe também uma possibilidade de eu aparecer quando você se perguntar se estou no outro lado da rua dos perdidos.

Com amor,
"A voz engraçada de Deus".

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