A noite estava fria. Uma pequena garoa caia sobre as árvores e em suas folhas, e o céu tão escuro fazia com que todos ficassem com medo de sair de casa, talvez por poderem ser assaltados ou por morarem no meio da mata, lugar este rodeado de plantações, animais perigosos e o breu perceptível a olhos nus. As nuvens que outrora encontravam-se brancas, faziam parte daquela paisagem medonha, assim como o cantar de grilos e sapos escondidos de predadores.
As gotas d'água caíam sobre a madeira de uma das poucas casas daquela região, causando rangidos involuntários e barulhos estranhos. A luz tinha acabado há horas e a única coisa que servia como iluminação eram os lampiões e velas quase da época passada postas sobre a mesa e em lugares adequados, onde nada poderia correr o risco de pegar fogo.
A casa de madeira era composta por cinco cômodos: sala, cozinha, banheiro, quarto e outro banheiro. Estes amadeirados e rústicos, tão rústicos quanto as portas simples e vidros tampados por fita por terem sidos quebrados misteriosamente na calada da noite.
Jung Hoseok se encontrava em seu quarto debaixo das cobertas, protegido dos pés à cabeça. Seus lábios tremiam de frio e seus olhos estavam pequenos pelo sono. Uma vela no chão estava posta e por isso ele não sentia tanto medo, assim também porque, por sorte, seu celular estava carregado e com três barrinhas de dados móveis, dando-lhe um divertimento lento e passageiro.
Jung Hoseok era um rapaz de vinte e dois anos, independente, carismático e de poucos amigos — apenas um, falando a verdade. Ele tinha madeixas ruivas, lábios curvados, dentes grandes e brancos, estatura média, e corpo com curvas palpáveis. Normalmente, era denominado estranho um homem ter cintura fina, mãos delicadas e rosto afeminado, e por isso as pessoas não buscavam falar muito com ele, por mais que o mesmo tivesse uma personalidade brilhante e simpática.
As pessoas, nem sempre, gostavam de sair de seu padrão e bolha criada pela sociedade. Elas gostavam de seguir umas às outras, demonstrar respeito ao que bem lhe interessasse e julgar aquele que era diferente. Mas Hoseok não se achava diferente. Ele achava que merecia respeito por ser quem era, com os demais gostando ou deixando de gostar. Porém ninguém entendia aquilo. Seus pais não entendiam, os seus irmãos e muito menos os colegas de faculdade queriam entender e respeitar o que sentia.
Hoseok queria amigos, porém ninguém desejava ser seu amigo. Queria um pouco de contato, mas apenas Jimin — seu único amigo, que nem melhor amigo era — lhe dava afagos e palavras carinhosas. E queria ter o direito que qualquer outra pessoa tinha: passar pelos lugares sem ser motivo de chacota, sorrir e ser retribuído, e ter liberdade para expressar o que bem desejasse.
Um suspiro longo e frio escapou dos lábios do rapaz, vendo este que finalmente tinha achado a página que tanto procurava nas últimas horas. Entrando na matéria, o mesmo notou que tudo estava escrito em alemão. "Merda", xingou em seus pensamentos, buscando a ferramenta de traduzir para coreano. Mais alguns minutos passaram até que conseguisse fazer tal coisa.
Os olhos de Hoseok iam e voltavam conforme lia o que estava escrito naquele site. Seu coração batia com um pouco mais de rapidez e a única coisa que passava em sua mente era se deveria ou não fazer aquilo. Tinha a esperança de que poderia não ser solitário para sempre, então precisava tentar. A probabilidade de dar errado era de noventa e nove por cento, restando apenas um por cento para que pudesse dar certo. Um por cento era ótimo. Era o que precisava.
"AMIGOS IMAGINÁRIOS SÃO NECESSÁRIOS? O QUE VOCÊ ACHA DE TER UM?
Matéria postada em: 31/10/2016, às 22h pm.
Caso tenha entrado nesta matéria, certamente você precisa saber sobre esse novo hype que está se propagando em Berlim, capital da Alemanha. Jovens solitários e adultos desamparados afirmam por conta própria que um jogo que pensaram ser bobo e de ficção os trouxe a realidade: um amigo imaginário.
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Mitternacht.
FanfictionApós ver em um site que amigos imaginários poderiam sim existir, Hoseok decide tentar ter um. Sendo um rapaz de vinte e dois anos, sozinho, sem amigos e que era menosprezado e servido de chacota na faculdade, ele não pensara que a sua vida pudesse m...