A noite assombrosa passou, tornando-se dia, logo mais noite e não muito tempo depois dia novamente. As semanas também passaram, assim como os meses. E em todo este tempo, Hoseok nunca deixou de ter pesadelos, o que o fez ter visíveis olheiras debaixo dos olhos — visto que poucas eram as vezes em que conseguia dormir sem ser interrompido — e um humor pior do que antes. Afinal, ele conseguia aguentar todas as brincadeiras de mal gosto que os seus colegas faziam consigo, mas não aquilo. Mas não aquelas coisas estranhas que estavam ocorrendo.
Hoseok sentia-se constantemente observado, tanto que passou a ficar paranoico, correndo sempre que alguém parecia vir em sua direção. Ele também escutava vozes: rindo, gritando e chorando. E ele sabia de onde tudo aquilo vinha, sabia o porquê e quem as fazia. Hoseok tinha medo e se arrependia de todas as loucuras que realizou para não se sentir tão sozinho. Como dizia o ditado, era melhor andar sozinho do que mal acompanhado.
Hoseok preferia andar mil vezes sozinho do que ter Jungkook ao seu lado.
Jungkook.
As primeiras semanas com a criatura foram boas. O amigo imaginário era doce, gentil e cauteloso, que gostava de abraços e beijos curtos, na bochecha ou no pescoço. O homem grande, porém, gentil, também era um pouco preguiçoso, mas seguia Hoseok para todos os lados. Para todos os lados. Inicialmente, Hoseok até mesmo estranhou quando Jungkook não queria se afastar, nem mesmo para deixá-lo ir ao banheiro. Mas as coisas pioraram quando aquilo se tornou frequente, doentio.
Hoseok não tinha mais privacidade. Ele não podia mais ficar em silêncio sem Jungkook lhe interromper, tomar banho sem tê-lo observando, andar pelas ruas sem os comentários desconfortáveis e superprotetores do fantasma, e nem mesmo falar com alguém. Hoseok não podia falar com ninguém. Afinal, Jungkook era o seu melhor amigo. E como o homem dizia: ele o tinha, para que querer mais alguém?
Hoseok quase fez um amigo na faculdade. Havia entrado um menino novo na área de engenharia, um que todos estavam comentando. O Jung não ligou, é claro. Mas, surpreendentemente, o novato foi até ele, querendo saber se poderiam dar uma volta no campus. Hoseok aceitou, mas não demorou muito para ser interrompido.
Jungkook. A pessoa ao seu lado, em carne e osso, que segurava a sua cintura com força e possessividade, e que não o deixava dar um passo nem para frente e nem para trás, era Jungkook. Jungkook estava se tornando um humano, uma pessoa de alma. Por isso, naquele momento ele o segurou com brutalidade, rosnando para o novato que ninguém iria para lugar nenhum.
E aquela foi a primeira vez que Hoseok sentiu medo de seu amigo.
O dia naquela manhã estava nublado. O céu, outrora pintado de azul, era preenchido pelas mais escuras nuvens e pela paisagem acinzentada, trazendo consigo uma sensação ruim, embaraçosa para quem estivesse andando pelas calçadas úmidas das ruas, passeando por aquele bairro do centro da cidade que, há poucas horas, havia sido inundada por causa da chuva.
Hoseok, logo pelas cinco ou seis horas da manhã, acordou com histeria e ficou sentado sobre o colchão de sua cama, apanhando o seu celular com rapidez e digitando algumas coisas no navegador. A internet de casa estava boa, mas não o suficiente para que o site que tanto procurava fosse aberto com agilidade.
Hoseok resmungou ao ver que o seu celular tinha apagado do nada.
Entrando novamente no navegador e procurando pelo título do site, o jovem entrou nele e suspirou em alívio ao ver que, desta vez, ele abriu mais rápido. Rolando a página com a ponta dos seus dedos e procurando pela informação que tanto desejava, ele ergueu os olhos e procurou por ele. Hoseok olhou para os lados com temor, mas nada achou. Por isso, continuou a ler o conteúdo daquele site.
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Mitternacht.
FanfictionApós ver em um site que amigos imaginários poderiam sim existir, Hoseok decide tentar ter um. Sendo um rapaz de vinte e dois anos, sozinho, sem amigos e que era menosprezado e servido de chacota na faculdade, ele não pensara que a sua vida pudesse m...