Mitternacht.

Assombração.

O cheiro estranho pairava no ar desde dias atrás. Ele lembrava coisas ruins e trazia consigo más sensações de desconforto, como se tudo estivesse entre ruínas. Queimado. Talvez esta pudesse ser a descrição mais próxima que Hoseok conseguia chegar: o odor ruim e tóxico de chamas adentrando por sua narina e dando-lhe alergia. Prendendo e sufocando sua garganta enquanto tentava respirar. E fazendo seu peito subir e descer cada vez mais com lentidão, como se estivesse morrendo.

Hoseok abriu os olhos com rapidez. Estava tendo um pesadelo. Sentindo gotas quentes de suor escorrerem por sua testa, chegando nas bochechas e caindo sobre o travesseiro, fez uma careta enquanto franzia o cenho. Passando o antebraço pelo rosto e limpando os vestígios grudentos que ali havia, ele olhou janela afora e constatou que uma forte, barulhenta e firme tempestade manchava a paisagem escura do céu, molhando a grama esverdeada e móveis à prova d'água que embelezavam a frente de sua casa medonha de madeira.

Murmurando alguma coisa em tom baixo, Hoseok virou-se para o lado esquerdo do colchão e um estrondo vindo de um raio ocorreu, iluminando todo o quarto. Ele viu os olhos negros de Jungkook o fitando de forma estranha, escorado na parede. Engolindo em seco, sentindo algo formar-se em sua garganta ao mesmo tempo em que seus pelos dos braços eriçavam pelo susto, Hoseok suspirou fundo. Era somente Jungkook.

Fechando e abrindo os lábios a fim de umedecê-los, o rapaz bocejou e abraçou o próprio corpo, que trajava somente uma blusa moletom manga longa e uma boxer. Ele logo procurou por um edredom querendo se esquentar. Erguendo os olhos e fitando Jungkook mais uma vez, o Jung notou que o mesmo tinha parado de encará-lo, como se nunca tivesse feito tal coisa.

Hoseok perguntou baixinho, de forma sonolenta:

— Você... você não vai dormir? — Um bocejou escapou-lhe, mostrando o quão cansado se encontrava. — Hum... que horas são...?

— Uma hora da manhã. E eu não estou com sono. — Jungkook respondeu, a voz cheia de cautela e sutilidade.

Não respondendo nada, Hoseok nem notou quando seus olhos fecharam mais uma vez, entregando-se ao sono como nunca. O jovem rapaz se sentia dopado, forçado a dormir sem nem mesmo notar. Sendo assim, não demorou muito para que ele passasse a não escutar mais nada, a não ouvir mais nada e a não entender mais nada. Hoseok tinha entrado em um sono profundo, esquecendo o barulho da chuva e não se incomodando de ter olhos negros fitando-o outra vez.