Jeon Jungkook.

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​Abraçando o próprio corpo e em passos lentos saindo do quarto, o Jung olhou mais uma vez para o papel em suas mãos e conferiu se tudo estava certo, então começaria com o ritual, pacto ou sei lá mais o quê. Tinha apenas que ficar ao lado de fora de seu quarto, bater na porta três vezes e chamar por Jungkook. Era isso, não? Ou o papel deveria ficar em cima da sua cama?

Hoseok entrou novamente em seu dormitório e arrumou seu colchão, deixando a folha em cima deste. Fechando a porta daquele cômodo e esperando por alguns minutos ao lado de fora, o Jung notou que não demoraria muito para dar meia-noite. Ele suspirou, pensando se faria mesmo aquilo ou se desistiria.

Uma batida. Toc.

Hoseok sentiu um vento gelado abrigar-lhe o corpo. Não sabia de onde ele tinha vindo, visto que todas as janelas de sua casa estavam fechadas. Seus dentes rangeram.

Mais uma batida. Toc.

Algo na cozinha caiu, decerto pelo vento. Um grito mudo escapou de seus lábios.

E outra batida. Toc.

Tudo ficou no mais absoluto silêncio novamente. Já tinha feito metade das coisas que deveria fazer. Eram vinte e duas e cinquenta e cinco.

— Jeon Jungkook... — Chamou baixo, ainda com a ponta dos dedos roçando na porta. — Jeon Jungkook... — Estava com medo, não negava. Um barulho de algo rangendo dentro de seu quarto ocorreu. Fechou os olhos com força. — Jeon Jungkook... v-você está aí? — Ele não soube como conseguiu perguntar, nem sabia se podia ou não fazer aquilo, mas simplesmente saiu. E, infelizmente, ninguém lhe respondeu.

Seu celular apitou avisando que era meia-noite.

Abrindo a porta de seu quarto, Hoseok adentrou nele e notou que tudo estava do mesmo jeito que deixou. "Nada de errado ou fora do lugar", constatou consigo mesmo. Pegando a vela no chão e levantando-se com demora, o Jung pretendia deixá-la em cima de sua escrivaninha, porém no instante em que avistou uma silhueta estranha em sua frente, sentiu todos os seus sentidos pararem.

Sua vista embaçou, o paladar amargou e sua audição foi-se embora, tornando-se um zumbido agudo e vazio. Seus olhos arregalaram e parou de respirar, assim como seu rosto inteiro ficou pálido e suas mãos tremulando. Estava nublado e a única coisa que mudou isso foi o grito alto e desesperado que rasgou por sua garganta.

A vela que segurava foi deixada de sua mão e por isso caiu no chão. O tapete por poucos segundos pegou fogo, mas o rapaz desconhecido foi-se lá e apagou as chamas cintilantes de forma risonha, batendo o pé no tecido enquanto lhe fitava com olhos brilhosos e divertidos.

Ambos dentro daquele quarto ficaram em silêncio, se fitando. Porém diferente do estranho, Hoseok sentia que poderia desmaiar a qualquer instante. Esperou que outrem dissesse algo, mas isto não aconteceu.

— Q-Quem é você? — perguntou o Jung após ter tomado coragem, contudo, sua voz estremecida demonstrava tudo o que sentia. — Quem... quem é você? — Repetiu, já dando passos receosos para trás.

— Você é um hyung bonito. — A voz do rapaz era rouca, porém nem fina e nem grossa. Apenas muito baixa, talvez. — Por que está perguntando quem eu sou? — Um sorriso surgiu nos lábios finos e bem pintados dele.

— C-Como... você... q-quem...? — Hoseok estava desfigurado, sua mente não associava a quase nada. E por este motivo tentou relaxar, por mais que todo o seu corpo estivesse em alerta vermelho.

A miúda luz naquele quarto lhe dava uma pequena visão sobre o estranho. Ele parecia embaçado, e o Jung não sabia se era porque estava nervoso ou se era porque ele era mesmo daquele jeito. As madeixas alheias eram negras com mechas azuis; ele tinha tatuagens pelas mãos e braços; e seu rosto era milimetricamente perfeito, abordando um piercing sob o lábio e na sobrancelha, tirando os vários que tinha nas orelhas. Suas vestes eram escuras: uma calça corta-vento e uma camiseta manga longa justa, marcando seus bíceps e abdômen trincado.

Hoseok engoliu em seco.

O rapaz era... perfeito. Nada a mais e nada a menos do que isso, somente perfeito.

— Jeon... Jeon Jungkook?

Hoseok se assustou assim que sentiu braços fortes rodearem seu torço, tirando-lhe do chão e prendendo-o em algo que deveria ser afetivo e carinhoso. Ele passou os braços pelo pescoço de outrem e de forma desesperada estapeou fracamente suas costas, querendo ter os pés no chão novamente.

— Olá, Hobi-hyung, eu estou muito contente em poder estar aqui com você! Cuide de mim, por favor. — Sim, aquele era realmente Jungkook. O Jungkook que tinha criado. O seu amigo imaginário. Aquilo tinha dado certo. — Hyung... você... por que você está chorando? Está tudo bem? Eu fiz algo errado?

Tomando a iniciativa e indo abraçar o seu novo amigo, Hoseok o apertou contra o seu corpo e deixou que finas e longas lágrimas escapassem de seus olhos já inchados e vermelhos, escorregando por suas bochechas e molhando a camiseta de outrem.

— Você parece tão real. — Murmurou o Jung.

— Eu sou real pra você, hyung. — falou o Jeon, retribuindo o abraço apertado. — Só pra você.

— Como... como isso pode ter dado certo? Eu...

— Você está cansado, não está, hyung?

Hoseok concordou, fungando.

— Precisa descansar. E eu, como o seu bom melhor amigo, irei com você. — disse, puxando o mais velho para se acomodar na cama, esta que, por sorte, não estava tão distante. — Amanhã você tem faculdade, não?

— C-Como sabe?

— Eu sou o seu melhor amigo, oras! — respondeu brincalhão.

— O-Oh, sim. — Assentiu. — E-Eu quero conversar mais com você...

Nós teremos todo o tempo do mundo, hyung, não se preocupe...

E após escutar tal frase, Hoseok, mesmo não sabendo como, dormiu com uma paz sem igual: sua respiração estava calma, seu peito subia e descia com lentidão, seus lábios entreabertos murmuravam algo hora ou outra, e sua mente encontrava-se relaxada.

Estava totalmente sereno.

Suas bochechas úmidas ainda continuavam rosadas com alguns cílios presos aos cantos, porém isso não lhe incomodava. Não quando estava com Jungkook. Jungkook era carinhoso e lhe arrancava sorrisos. Lhe transmitia equilíbrio e tranquilidade como ninguém.

E ele notou isso com o passar dos dias. Era estranho o quão real o seu amigo parecia ser, o quão real os seus toques eram, a sua risada, a sua voz... ele parecia muito mais do que real. Hoseok não conseguia acreditar que ninguém mais conseguia vê-lo, que ele era somente um fruto da sua imaginação. Em momentos em que quis chorar, Jungkook esteve lá. Não Jimin e nem mesmo conhecidos. Jungkook lhe abraçou, fez chocolate quente e lhe aconchegou. Jungkook era o seu melhor amigo. Hoseok adorava a sua companhia. Não se sentia tão sozinho e incapaz como outrora.  

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