9
Deus me colocou aqui para matar todas
as putas
Mary Jane Kelly era uma jovem prostituta. De origem incerta, ela
possivelmente nasceu na Irlanda e foi criada no País de Gales. Com cerca de 25
anos, ela tinha quase a mesma idade de Florence Maybrick, e assim como Florie,
mas diferentemente das outras vítimas do Estripador, ela era bonita. Sua
semelhança com a esposa de Maybrick pode muito bem ter alimentado sua raiva
quando ele a viu caminhando pela Commercial Street e pela Thrawl Street,
naquilo que o reverendo Samuel Barnett chamou de "o quilômetro quadrado per-
verso"
. Na pessoa de Mary Jane Kelly havia ainda mais incentivos para matar.
Ela é a única vítima citada pelo nome no Diário.
Mary Jane passou a tarde e o começo da noite de quinta-feira, 8 de novembro,
com amigos. Ela esperava ansiosamente pela festa do dia seguinte, quando toda
a realeza da região de City of London se reuniria para o desfile da posse do novo
Lord Mayor. Mas Mary Jane Kelly nunca chegou ao evento.
Mais cedo naquela noite, sua jovem amiga, Lizzie Albrook, visitou-a no
número 13 da Miller's Court, onde Mary alugava um minúsculo quarto dos
fundos. Quando Lizzie foi embora, as palavras alegres de Mary Kelly para sua
jovem amiga foram: "Seja lá o que você fizer, não vá para o caminho errado e se
torne igual a mim"
. A partir daí, os movimentos de Mary são incertos.
Ela estava em um humor musical naquela noite, perturbando os vizinhos ao
cantar alto em seu quarto. A música de que eles se lembraram era uma típica
balada sentimental da era vitoriana, chamada "Only a Violet I Plucked From My
Mother's Grave"
.
Por volta das duas da manhã de 9 de novembro, George Hutchinson, um
trabalhador da Victoria Home, que ficava na Commercial Street, estava
retornando de Romford, em Essex. Hutchinson procurou a polícia apenas dois
dias após o inquérito. Ele contou que na manhã do assassinato viu um homem
abordar Kelly, que estava buscando trabalho. Hutchinson provavelmente era um
cliente, portanto a conhecia bem: ele às vezes dava dinheiro a ela, mas dessa vez
não tinha nada.
Pouco antes de chegar na Flower and Dean Street eu encontrei a mulher morta,
Kelly... Um homem, vindo da direção oposta a Kelly, cutucou seu ombro e disse
algo a ela, os dois riram. Ouvi-a dizer "tudo bem" para ele e o homem disse
"você ficará bem com o que tenho para você"
, então colocou sua mão direita ao
redor de seus ombros. Ele também tinha um tipo de embrulho pequeno na mão
esquerda, com um tipo de fita ao redor . Eu fiquei de pé contra o poste do pub
Queen' s Head e o observei... Os dois então vieram na minha direção e o homem
baixou sua cabeça deixando o chapéu sobre seus olhos. Eu me abaixei e olhei
em seu rosto. Ele me olhou de volta com firmeza [...]
A descrição do homem feita por Hutchinson parece detalhada demais,
considerando a hora do ocorrido. Além disso, ele só deu seu testemunho na
segunda-feira, 12 de novembro. De qualquer maneira, Abberline acreditou nele.
A polícia queria manter a informação secreta, mas Hutchinson falou à imprensa
e imediatamente o país inteiro ficou sabendo do novo suspeito. Na verdade,
Jack, o Estripador, havia se tornado notícia internacional.
Ele tinha, disse Hutchinson, uma aparência sombria "estrangeira" e
respeitável, usava um longo sobretudo escuro com gola e punhos de astracã,
casaco e calças escuras, colete claro, chapéu de feltro preto "dobrado para baixo
no meio"
, botas abotoadas e polainas, um colarinho de linho e uma gravata preta
com alfinete em forma de ferradura. Uma corrente grossa de ouro estava
pendurada no colete, e o homem carregava um pequeno pacote. Tinha 34 ou 35
anos, 1,68 metro, pele clara e um bigode ralo enrolado nas pontas.
Alfinetes de gravata em forma de ferradura e correntes de ouro eram
populares na época – Michael Maybrick aparece em várias fotos de revistas
vestido nesse estilo. Hutchinson continuou:
Os dois entraram na Dorset Street. Eu os segui. Ficaram em pé na esquina por
cerca de três minutos. Ele disse algo. Ela respondeu "tudo bem, meu querido,
venha comigo, você ficará confortável"
. Ele então colocou o braço ao redor de
seus ombros e ela o beijou. Ela disse que perdeu o lenço. Ele então puxou seu
lenço vermelho e o deu a ela. Os dois subiram a Miller' s Court juntos. Então eu
fui até lá para ver se conseguia vê-los, mas não consegui. Fiquei por cerca de
45 minutos esperando que saíssem. Eles não saíram, então fui embora.
Se a história de Hutchinson estiver correta na essência, mesmo que não nos
detalhes, o homem que viu com Mary Jane Kelly era provavelmente seu
assassino. Seria Maybrick?
A polícia soube que vizinhos pensaram ter ouvido alguém gritar "assassino"
perto das quatro da manhã. Ninguém fez nada, pois gritos desse tipo eram
comuns em áreas violentas e geralmente eram ignorados. Portanto, não há como
saber o que aconteceu ou por quê... exceto, mais uma vez, lendo o Diário.
Sabemos que, nas semanas anteriores ao assassinato de Mary Kelly, Maybrick
havia batido em sua esposa – fato que pode ser verificado nas muitas evidências
do julgamento de Florie. Isso proporcionou muito prazer a ele. Seu consumo de
drogas estava aumentando e temos um indício de que Michael começava a
suspeitar. Existem referências antigas à descrição eufemística de
"sonambulismo"
, que James usava para se referir a suas ações criminosas.
Agora, ele escreve:
Recebi várias cartas de Michael. Em todas ele pergunta sobre minha saúde, e
em uma delas pergunta se meu sonambulismo voltou. [...] Informei que não.
Mais uma vez ele menciona as mãos frias – assim como pouco antes havia
mencionado seu amor pelo calor e pela luz do sol. Essa constante sensação de
frio e a esfregação involuntária das mãos úmidas são um lembrete daqueles
conhecidos pequenos sintomas do envenenamento por arsênico, como descritos
no livro Materia Medica.
A dor passada no apartamento de Michael na noite anterior ao assassinato de
Mary Kelly foi, como nós sabemos, insuportável. Mas no Diário não há nenhum
outro catalisador, nenhuma cena criativa que poderia antecipar os terríveis
eventos que estavam para acontecer. O Diário continua quando James Maybrick
está de volta a Liverpool – quando a lembrança e o registro dos últimos
momentos da mais recente vítima parecem oferecer a maior excitação de todas.
O que havia acontecido antes parece ter sido apagado de sua mente.
Li sobre meu último, meu Deus os pensamentos são os melhores. Não deixei
nada da cadela, nada. Coloquei por todo o quarto, eu tinha tempo, como a outra
puta eu cortei o nariz da cadela, inteiro dessa vez. Não deixei nada de seu rosto
para lembrança. Ela me lembrou da puta. Tão jovem, diferente de mim. Pensei
numa piada quando cortei seus peitos para fora, beijei-os por um tempo. O
sabor do sangue era doce, o prazer foi esmagador [...] Deixei-os sobre a mesa
com um pouco das outras coisas. [...] ela se abriu como um pêssego maduro.
Seria esse texto realmente de um falsário se entregando a prazeres pervertidos,
ou não estaríamos diante de um assustador eco da verdade?
Quando Thomas Bowyer e John MacCarthy olharam através da janela do
quartinho bagunçado de Mary Kelly naquela sexta-feira, 9 de novembro, eles
viram o que descreveram como "mais o trabalho de um demônio do que de um
homem"
.
Houve pânico. O dr. George Bagster Phillips e o inspetor Abberline chegaram
rapidamente ao local, mas ninguém arrombou a porta até a uma e meia da tarde,
quando John McCarthy a abriu com o cabo de uma picareta.
Mesmo no inquérito, três dias depois, o dr. Phillips poupou os jurados de
muitos detalhes do que tinha visto, embora um fotógrafo oficial tenha registrado
o pesadelo para a posteridade. A observação inicial do dr. Phillips, de que Mary
Kelly estava usando uma "sumária camisola" estava correta, mas contradizia o
relatório post mortem, que afirmava que a vítima estava nua. Apenas em 1987
foram descobertos os arquivos completos do horror. Na época das mortes, a
polícia divulgou notas, escritas no dia 10 de novembro, após a autópsia feita pelo
dr. Thomas Bond, um cirurgião da polícia da Divisão A. Essas notas diziam que
os seios haviam sido deixados "um debaixo da cabeça e o outro ao lado do pé
direito"
. Também de acordo com a autópsia, as "vísceras foram encontradas em
várias partes"
.
O fato de que o Diário contradiz esses dois relatos foi levantado por muitos de
seus críticos como uma prova de que seria falso. Eles alegam que um falsário –
do passado ou do presente – poderia ter procurado nos jornais e encontrado nos
exemplares do Pall Mall Gazette, do Times e do Star do dia 10 de novembro, e
no Pall Mall Budget de 15 de novembro, o relato de que os seios estavam sobre
a mesa. Alguns consideram que, mesmo no meio de uma carnificina impelida
por um delírio além da imaginação, o assassino se lembraria exatamente do que
teria feito com os restos mutilados.
Será? E será que falsários são tão cuidadosos em suas pesquisas? Até mesmo
a interpretação de Philip Sugden está aberta a discussão. O Diário não diz, como
ele alega, que "várias partes do corpo estavam espalhadas por todo o quarto"
. As
palavras reais são
Arrependo-me de não ter levado nada comigo, é hora do jantar , eu poderia
comer um rim ou dois ha ha.
[...]
Coloquei por todo o quarto,
Não podemos ter certeza sobre a que se refere a palavra "aquilo"
. Mas já que
os restos da pobre Mary Kelly foram reunidos e levados em um balde para o
necrotério, é possível especular.
"Aquilo" poderia também se referir ao coração.
As últimas palavras na nota do dr. Bond fazem uma simples e dramática
afirmação: "o pericárdio estava aberto e o coração estava ausente"
. Nunca houve
qualquer explicação confiável sobre a localização do coração. Philip Sugden
acredita que ele pode ter sido levado do quarto.
A imprensa publicou as habituais informações contraditórias, mas o mais
importante foi o fato de que o dr. Phillips e o dr. Roderick MacDonald, o legista
do distrito, voltaram ao quarto de Mary Kelly e investigaram as cinzas da
fogueira onde algumas roupas foram queimadas. Aparentemente eles estavam
buscando partes do corpo que não encontraram na autópsia, mas provavelmente
não acharam nada. Afinal, onde estaria o coração e que motivo o assassino tinha
para removê-lo?
Paul Feldman sugere que ele o usou para escrever as iniciais na parede do
quarto de Mary Kelly.
Uma inicial aqui e uma inicial ali
indicará a puta mãe.
Uma curiosa e controversa fotografia foi tirada para a polícia e apareceu no
ano seguinte em um livro intitulado V acher L'Eventreur et les Crimes Sadiques,
de J. A. W. Lacassagne. Em 1976, o livro de Stephen Knight Jack the Ripper:
The Final Solution reproduziu a foto com nitidez suficiente para revelar o que
pareciam ser algumas iniciais na parede atrás da cama de Mary Kelly, embora
não tenham sido identificadas antes de 1988. Nesse ano, o pesquisador criminal
Simon Wood as mencionou para Paul Begg.
Como parte de sua própria investigação sobre o Diário, Paul Feldman
procurou a empresa Direct Communications, em Chiswick, cuja tecnologia
computadorizada possibilitou um exame mais detalhado da fotografia. As
iniciais puderam ser vistas claramente na sujeira da parede – um largo M, e no
outro lado, um F apagado.
O Diário não menciona o coração na época do assassinato. Apenas no fim de
sua vida, em desespero, Maybrick diz algumas palavras que poderiam ser
igualmente aplicadas a Mary Kelly (a única vítima pela qual ele demostra
remorso) e sua esposa Florie. Ele não oferece explicação. Apenas um grito
agonizante "sem coração sem coração"
.
David Forshaw afirma o seguinte sobre o estado mental de Maybrick nessa
época
Embora saibamos pouco, até agora, sobre os pais de Maybrick, descobrimos
por meio de estudos sobre outros serial killers que geralmente há um profundo
ressentimento por trás de um amor filial superficial.
Nesse momento, o profundo sentimento de inadequação que verdadeiramente
inspirou sua escrita provocante e orgulhosa, assim como os assassinatos, surgiu
de maneira violenta na superfície. Mary Jane Kelly tomou o lugar de Florie, a
"mãe puta" do Diário e, talvez, de todas as mães.
Após o assassinato de Mary Kelly, supostos avistamentos do assassino – e
principalmente as evidências declaradas por George Hutchinson – deram a
descrição mais detalhada até agora. De fato, Hutchinson contou à imprensa que
havia saído à caça do assassino no domingo seguinte, 11 de novembro, e, apesar
da névoa espessa, tinha quase certeza que o havia visto na Middlesex Street.
Paul Feldman descobriu que no dia 19 de novembro, após o testemunho
original de Hutchinson, a imprensa mais uma vez virou os holofotes para
Liverpool: "O assassino de Whitechapel supostamente viaja de Manchester,
Birmingham, ou alguma outra cidade no interior do país, com o propósito de
cometer os crimes. Detetives trabalham em Willesden e Euston na chegada dos
trens vindos do interior e do norte"
.
É curioso que, de todos os lugares e portos da Grã-Bretanha nos quais o
Estripador poderia ter escapado, a polícia se concentrou em Liverpool e Londres.
Houve uma grande atividade policial – mais de cem oficiais estavam no caso.
Mas então, no mesmo dia da morte de Mary Kelly, o comissário da Polícia
Metropolitana, Sir Charles Warren, pediu demissão. Não havia conexão direta,
mas existia uma hostilidade crescente entre Sir Charles e o ministro do Interior
Henry Matthews, que não ajudava no caso. Ele também havia se tornado cada
vez mais impopular com a imprensa, depois de muitos distúrbios públicos e,
principalmente, por ter utilizado as tropas contra desempregados no Domingo
Sangrento, no dia 13 de novembro de 1887, como já mencionamos. O
comissário foi sucedido por James Monro, ex-chefe do Departamento de
Investigações Criminais, com quem o ministro também se indispôs.
A pressão sobre a polícia era terrível. Eles recebiam centenas de cartas e um
dos últimos exemplos foi publicado no dia 19 de novembro. Dizia
Caro Chefe,
Estou agora no Queen' s Park Estate na Third Avenue. Estou sem tinta vermelha,
mas dessa vez não importa. Tenho a intenção de fazer outra aqui na próxima
terça-feira por volta das dez da noite. V ou dar uma chance para me pegar . Devo
usar calças quadriculadas e um casaco e colete pretos então fique de olho. Fiz
um que ainda não descobriram, então fique de olho, mantenha seus olhos
abertos.
– Sinceramente, Jack, o Estripador .
O Queen's Park Estate fica na área dos apartamentos de Michael Maybrick em
Londres, longe de Whitechapel.
Estávamos entrando agora num excitante período de ricos materiais não
pesquisados. Esses documentos se concentravam nos escritos perdidos do dr.
Thomas Dutton (1854-1935), cujo consultório foi listado nos diretórios com o
endereço Aldgate High Street, número 130. O dr. Dutton era, de acordo com os
autores do livro The Jack the Ripper A-Z, um homem com interesses variados e
de considerável habilidade. Acredita-se que ele estudou as correspondências do
Estripador e selecionou 34 cartas que acreditava terem sido escritas pela mesma
mão. Ao longo de sua vida profissional, ele compilou uma coleção aleatória de
anotações, pensamentos e impressões escritas à mão sobre todos os principais
crimes, e sempre alegou saber a identidade de Jack, o Estripador. Essas
anotações, intituladas Chronicles of Crime, foram entregues à sra. Hermione
Dudley antes de sua morte, e tanto ela como as anotações desapareceram sem
deixar rastro. Pesquisas não encontraram qualquer referência à vida ou à morte
da sra. Dudley.
A única fonte sobre algumas das muitas observações interessantes
supostamente oriundas do Chronicles of Crime foi o autor falecido Donald
McCormick, que conheceu o dr. Dutton em 1932, quando este havia se tornado
um recluso idoso. O sr. McCormick fez anotações sobre o Chronicles, mas elas
não foram vistas até depois da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente,
foram perdidas.
Cínicos dizem que o material de Dutton nunca existiu ou até mesmo que o sr.
McCormick havia inventado toda a história, fato fervorosamente negado. Mas
eles estão pisando em ovos. Tentativas de desmoralizar Dutton tendem a afundar.
Terry Saxby, um criador de cavalos que mora na Austrália e está pesquisando
mais um livro sobre o Estripador, descobriu um material original de arquivo que
prova que ao menos uma das teorias do dr. Dutton estava correta. Havia uma
ligação entre quatro das mulheres assassinadas. Todas elas se hospedaram, em
algum momento, no albergue St. Stephen, na Walworth Road, Southwark. Com
isso, nós devemos ser cuidadosos ao não acreditar nos outros trabalhos de
Dutton.
O doutor morreu, sozinho, em 1935, e descobriu-se que ele vivia em um
estado lastimável de abandono. Os jornais da época elogiaram sua vida
profissional e também comentaram que a polícia removeu uma grande
quantidade de papéis.
Um pouco do conteúdo do Chronicles of Crime foi publicado no livro de
Donald McCormick, The Identity of Jack the Ripper (1959). Em particular, nos
interessou um poema chamado "Eight Little Whores"
. E por uma boa razão:
após o assassinato de Mary Kelly, há a seguinte passagem no Diário
*Uma puta no céu
*duas putas lado a lado,
*três putas todas morreram
*quatro
De acordo com o agora perdido registro de Donald McCormick, o dr. Dutton
copiou o poema de uma das cartas que havia identificado como sendo da mesma
pessoa. Não estava claro se era uma criação do próprio Estripador ou se ele
plagiou um poema muito conhecido da era vitoriana. V eja o texto original e a
tradução literal a seguir.
Eight little whores, with no hope of heaven,
Gladstone may save one, then there'll be seven.
Seven little whores begging for a shilling,
One stays in Henage [sic] Court, then there' s a
killing.
Six little whores, glad to be alive,
One sidles up to Jack, then there are five.
Four and whore rhyme aright, so do three and me,
I'll set the town alight ere there are two.
Two little whores, shivering with fright,
Seek a cosy doorway, in the middle of the night,
Jack' s knife flashes, then there' s but one,
And the last one' s ripest for Jack' s idea of fun.
[Oito pequenas putas, sem esperança do paraíso,
Gladstone pode salvar uma, então haverá sete.
Sete pequenas putas implorando por uma moeda,
Uma fica em Henage [sic] Court, então há um
assassinato.
Seis pequenas putas, felizes por estarem vivas,
Uma se insinua para Jack, então ficam cinco.
Quatro e puta formam uma rima, assim como três e eu.
V ou atear fogo na cidade, então ficam duas.
Duas pequenas putas, tremendo de medo,
Buscam uma confortável porta, no meio da noite,
A faca de Jack brilha, então fica apenas uma,
E a última madura para a diversão de Jack.]
Se o Chronicles of Crime não existiu – ou se era apenas uma invenção do sr.
McCormick, como alguns insinuaram – nós, que estávamos estudando o Diário,
tínhamos um problema. Pois o relato em que acreditamos e o poema mostrado
acima ecoam reciprocamente e incluem imagens relacionadas ao fogo e a frutas
maduras.
Encontrei em uma biblioteca a antologia The Faber History of England in
V erse, editado por Kenneth Baker (hoje Lord Baker). Na seção vitoriana, eu
encontrei o "Eight Little Whores"
, de autoria anônima. Escrevi para o senhor
Baker pedindo para checar se sua fonte era realmente da era vitoriana ou se ele
meramente leu o livro de Donald McCormick ou algum dos livros que se
seguiram. Ele passava por um processo de eleição na época e também estava
mudando de casa. Como consequência, suas anotações de referências estavam
todas enterradas em um baú, sem possibilidade de serem resgatadas. E ele não se
lembrava se tinha ou não lido qualquer livro sobre o Estripador.
Fui então checar a antologia de Iona e Peter Opie Oxford Dictionary of
Nursery Rhymes (edição de 1997). Lá, encontrei o famoso poema antigo "Ten
Little Nigger Boys"
. Começa assim
Dez pequenos garotos negros saíram para jantar
Um engasgou e então sobraram nove...
Descobri que esse poema apareceu pela primeira vez em 1869. Foi baseado
em uma canção americana do músico da Filadélfia Septimus Winger (compositor
de "Oh where, oh where has my little dog gone?"). Ela foi adotada por muitos
grupos de menestréis que haviam chegado na Grã-Bretanha vindos dos Estados
Unidos. Ao final dos anos 1870 se tornou uma cantiga muito popular, incluída
no repertório de sociedades e de apresentações musicais, e executada por artistas
como Michael Maybrick ao longo do reinado da rainha Vitória.
Há outros ecos do Diário nesse poema. Há a ameaça de atear fogo na cidade,
refletindo a ameaça feita por Maybrick de incendiar a paróquia St. James
(possivelmente a igreja na qual se casou). Mas talvez a mais curiosa seja a
menção do Heneage Court. Anos mais tarde – de fato não antes de 1931 – um
aposentado, Robert Spicer, que era um jovem policial em 1888, escreveu uma
carta para o jornal Daily Express. Realizaram uma entrevista com ele, e um
artigo foi publicado sob a manchete "Eu peguei Jack, o Estripador"
.
O sr. Spicer descreveu o que aconteceu nas primeiras horas da noite seguinte
ao assassinato duplo. Ele foi até a Heneage Street (grafada erradamente como
Henage no Daily Express e no poema) saindo da Brick Lane. A menos de
cinquenta metros fica a praça Heneage Court, onde havia um reservatório de lixo
feito de pedra. Jack e uma mulher (Rosy) estavam sentados ali.
"Ela tinha um
pouco de dinheiro numa das mãos e me seguiu quando eu abordei Jack depois de
suspeitar dele. Ele informou que era um doutor muito respeitável e deu um
endereço em Brixton. Os punhos de sua camisa ainda estavam manchados de
sangue. Jack tinha o proverbial saco com ele (um saco marrom). O saco não foi
aberto e ele foi liberado.
"
Spicer teve problemas pelo excesso de zelo em sua prisão e perdeu
completamente o gosto pelo trabalho da polícia. Mas ele estava errado?
Ninguém parece ter checado o respeitável doutor. De fato, Spicer o viu mais uma
vez na estação da Liverpool Street. Sua aparência sempre era a mesma: chapéu
alto, terno preto com revestimento de seda e relógio e corrente de ouro. Tinha
cerca de 1,70 metro de altura, pesava por volta de 75 quilos, tinha o bigode
claro, testa alta e bochechas rosadas. Uma boa descrição de Maybrick!
Fomos visitar a neta do policial Spicer, que morou na mesma casa da
Woodford Green por sessenta anos. Ela nos contou que Rosy escreveu uma carta
para seu avô depois do evento, agradecendo por salvá-la de ser assassinada, e,
depois disso, sempre enviou cartões de Natal. Assim como tantos outros
documentos, essa correspondência foi perdida. Mas a família se lembra do sr.
Spicer claramente como uma figura alta e imponente, com uma grande barba.
Ele teve oito filhos e acabou se tornando jardineiro da Bancroft's School, em
Woodford, e do clube de críquete, mas, assim como Dutton, morreu sozinho, e
seu corpo só foi descoberto uma semana depois de sua morte.
De acordo com o Diário, Maybrick estava agora começando a temer a
posssibilidade de ser pego. As drogas continuaram a ser sua fuga.
Não consigo viver sem meu remédio. Tenho medo de dormir por causa dos meus
pesadelos recorrentes. V ejo milhares de pessoas me perseguindo, com Abberline
na frente balançando uma corda.
O fato de que imediatamente após o assassinato de Kelly as dores de cabeça
de Maybrick pioraram está registrado nos testemunhos assinados do julgamento
de Florie. Ele até acrescentou mais um doutor à sua lotada equipe de consultores
médicos. O dr. J. Drysdale era um velho escocês de aparência limpa e de poucas
palavras. Maybrick o consultou em Liverpool nos dias 19, 22 e 26 de novembro,
e mais uma vez nos dias 5 e 10 de dezembro, dizendo que por três meses sofreu
com dores de um lado a outro na cabeça, precedida por uma dor no lado direito
da cabeça e por uma dor de cabeça leve. Ele disse que nunca estava livre de
dores, exceto, às vezes, durante a manhã. Se bebesse ou fumasse demais, sentia
dormência no lado esquerdo de sua mão e perna, e ficava suscetível a sofrer com
erupções na pele das mãos. Não disse nada sobre se automedicar.
"Ele parecia estar sofrendo de dispepsia nervosa"
– isso foi tudo que o dr.
Drysdale pôde diagnosticar, e o repetiu durante o julgamento. Então, com um
eufemismo magistral, ele acrescentou: "Devo dizer que ele era hipocondríaco"
.
Talvez fosse natural que, com toda a Londres no encalço do Estripador, ele