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- Madalena, minha filha, eu já falei pra você deixar essa velha pra lá! - Mainha para de picar as verduras e me olha pondo a mão na cintura- tu só vai arrumar mais confusão por conta de algo que já passou!

Até parece que vou parar, ninguém mexe com minha família não!

- Passou não Mainha! -levantei e fui até ela pegando a faca da mão dela e dei uma empurrada com o quadril para ela ir sentar, ela lavou a mão e foi enxugando para mesa- eu sei que o povo não pode ver a senhora que fica de cochicho apontando, e domingo na missa eu vi aquelas velha do satanás falando, tá faltando é poco pra eu me estressar de verdade!

- Se foi comigo e eu não tô ligando não tem porque tu dar corda -e ela acha que eu não sei que essas coisas dói- falaram de mim quando teu pai foi embora, eu era a coitadinha no primeiro mês, depois de me verem cumprimentando Beto na porta do teu colégio falaram que eu tava procurando macho pra não ficar só, e vão continuar falando mesmo sem motivos, porquê é isso que eles querem, só um motivo pra falarem.

- A senhora guardou tudo isso nesses anos e diz que não tá ligando -parei de cortar a cebola e senti meus olhos lacrimejando, não sei se era da ardência das cebolas ou se era de raiva, respirei fundo e fiz as lágrimas voltarem, olhei pra ela que tava me encarando séria e sorri pra ela- e não diga que aquele homem é meu pai, que de pai eu só tenho vô, ele foi pai pra mim, aquele lixo é só doador de esper- parei de falar quando Isaac, André e Samuel entrou na cozinha- enfim, espero que o coração da véia esteja bom, porque não pretendo parar de roubar ela tão cedo, vai ela infarta e vem querer me assombrar!

Os meninos me olharam desconfiados e dona Helena começou a rir.
Acabei de cortar as verduras e coloquei na panela, e virei prós meninos piscando um olho.

- Se der problema ligue pra cá, que vou tirar você da delegacia! - ri alto e Mainha olhou pra nós desacreditada negando com a cabeça.

- Vó? A menina diz que vai roubar e a senhora apoia? -Isaac olhou chocado pra nós duas- então quer dizer você é assim, coisinha?

- Apois, tanto apoio como quero que traga o que conseguir pra cá pra nós dividir o lucro. -começamos a gargalhar da cara dos meninos.

- Pode deixar, vou roubar as maiores que tiver -pisquei pra ela e virei prós meninos- se quiserem eu trago pra vocês também, mas aí seriam meus cúmplices...

- Minha nossa, Madá, eu não sabia que você era assim! - André falou desacreditado- e vó? Logo a senhora!

- A muitas coisas que vocês não sabem sobre mim! -com os olhos semicerrados eu fui me aproximando com a faca ainda na mão - e vocês não podem contar pra ninguém o que estamos falando aqui na cozinha, não coloque suas vidas em perigo -apontei a faca pra os três - eu conheço uns cara aí!

Deram passos pra trás e eu coloquei a faca na pia rindo.

Alexandre, que tinha se juntado com os que faltavam e ficaram na porta da cozinha, chegou perto de mim e pôs as mãos nos meus ombros olhando nos meus olhos.

- Madá, eu estou estudando direito e vou me formar em advocacia -ele me encarou seriamente- você está proibida de ser presa enquanto eu não for aprovado pela OAB!

- Então quer dizer que temos um futuro advogado aqui!

- Na verdade é três, eu, Yuri e Samuel, Samuca já tá acabando a graduação, e Yuri estuda comigo, estamos no segundo semestre já.

- Que legal, queria ter paciência pra decorar todas as leis... O que tu acha da faculdade?

- NAAAAAOO MADALENA -André fala- não se pergunta isso pra alunos de direitos!!

- Por que?

- Porque são insuportáveis!? Juro, principalmente esses dos primeiros períodos, não falam outra coisa!

- Eita, então esqueça Xande, não quero mais saber - todos começaram a rir.

- Isso é perseguição para com nós estudantes de direito! - Yuri entrou na conversa indignado com os braços cruzados- nem falamos tanto assim.

- Vocês dois vieram metade da viagem tirando dúvidas com Samuel, ainda não sei como ele não perdeu a paciência -Isaac falou enquanto abria a geladeira e pegou água de lá - vocês começam e não param de falar.

- Vamos primo, não somos bem vindos aqui -Alexandre passou os braços no ombro de Yuri e os dois fizeram cena com as cabeças baixas- mas saibam que um dia precisaram de nós, e nós os lembraremos desse dia!

- Epa, e a minha defesa? -perguntei pra eles.

- Procure nos diretos humanos! -Yuri

E foi aí que soltei uma gaitada alta e todos acompanharam, eles eram gente boa, faz você ficar a vontade pra conversar.

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