PRÓLOGO

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A primeira pessoa que matei foi aos 12 anos. Tudo foi muito entediante.

Ele era um traficante de drogas, que estava devendo demais. Por isso, sem misericórdia, seria executado conforme o prometido, pelo chefe da máfia, meu pai.

Aquele foi o primeiro teste do meu pai, para saber se eu "tinha estômago" para a coisa. Pude escolher entre três armas. Uma pistola, um cutelo ou uma faca. Escolhi o último, degolei o sujeito precisamente, melhor do que um soldado experiente.

Ganhei um olhar de orgulho do meu pai depois disso!

Particularmente, eu não adorava matar, no entanto, também não tinha nada contra se necessário. Só o que me irritava, era que toda vez havia respingos de sangue, e sabe como isso é difícil para tirar de peças exclusivas?

Entretanto, se você nasceu e ainda tinha de crescer no meio na máfia, era bom se acostumar com sangue. No meu caso, fui preparada desde o momento que dei meus primeiros passos. Afinal de contas, ser a filha única de um grande mafioso tinha mais contras do que prós.

Meu pai, Vincent Ferraro, nasceu na Itália e aos 15 anos se mudou para Nova Iorque. Aos 16 anos, juntou-se a uma gangue local, a qual passou a liderar dois anos depois. Obviamente que não ficou apenas nisso, ele começou a se associar com mafiosos e fazer serviços mais sujos.

Seis anos depois, assassinou o chefe de uma das máfias mais proeminentes, os Castellano, e assumiu o controle aos 27 anos. Trocou o nome da organização, dando seu sobrenome, nos anos seguintes subindo de escala no poder do submundo, por meio de mais execuções. Isso o fez ganhar o apelido de "Lorde Executor".

Vincent se casou aos 32 anos, com Liandra Gotti, filha de um grande gangster. Claro, foi um casamento de interesses, meu pai queria mais dinheiro e soldados para sua organização. Três anos depois, ela foi morta em um atentado, antes dos dois terem filhos.

Aos 40 anos ele fez um novo casamento, porém dessa vez, com a minha mãe. Elena Miller, que era filha de um banqueiro que lavava dinheiro para a máfia. Não foi uma união de interesses, porém mesmo assim rendeu algo ao meu pai.

Eu nasci dessa união dois anos depois, entretanto, quase matei minha mãe. Ela nunca mais conseguiu se recuperar, a saúde ficou muito frágil. O que lembro dela era de vê-la como um pássaro delicado, cercada de cuidados, em uma gaiola dourada.

Vincent Ferraro, trancou a esposa, escondida de todos durante cinco anos e a mim junto. Ele nos escondeu do mundo e acho que esse foi o gesto mais próximo de carinho que vi.

E mesmo ele tendo feito isso, nossa "gaiola dourada" foi invadida e queimada, eu fui salva, mas não minha mãe. Lembro do olhar do meu pai quando me pegou no colo, ouvindo que ela estava morta, foi feio e doloroso.

Eu acho que ele amava de verdade... Tanto que depois desse dia ele nunca mais quis se casar e também decidiu a partir dali que eu teria de ser a herdeira.

Aos oitos anos eu já era treinada como um soldado. Fraqueza não foi algo tolerado, não para mim, porque se o "trono da máfia" era para ser meu, eu deveria então ser inquebrável. E durante a minha vida inteira tentaram me quebrar, definitivamente.

Fui treinada à exaustão, torturada, remendada, esculpida pelos melhores soldados (leia-se os mais cruéis), estudei com os melhores tutores e fui ensinada a ser um epítome de controle.

No processo, sofri seis atentados, pude matar cada um dos meus executores fajutos. Ninguém facilitou a minha vida, ninguém se importava que eu sangrasse, meu pai não se importava se eu fosse partida no meio. Ele me forjou no limite, mas eu não tenho nenhum tipo de mágoa quanto a isso.

Na máfia existe a verdadeira seleção natural, ou você é forte, ou você é fraco. Não há meio termo e eu sei que cada surra, cada dia de dor, que Vincent Ferraro me fez passar, foi para que eu chegasse onde estou; Pronta  para assumir meu lugar como chefe.

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