IV (QUATRO)

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Nia me observa como se eu fosse uma cobra pronta para dar o bote.

— Eu já disse que não sei o que está acontecendo!

Digo incomodada, querendo tirar meu salto alto, mas não pude, porque fui convocada ao escritório.

— Ela não disse nada a você? — Papai indaga.

— Não!

Afirmo. Estou no meio da sala, com ele sentado atrás de sua mesa, enquanto Nia e Nestha estão uma de cada lado em pé.

— Viu a Lyza antes dela vir até nossa casa? — Nia pergunta parecendo possessa.

— Óbvio que não, Nia. — Eu suspiro e encaro a Nestha. — Por favor, me ajude aqui, relembre eles de como a Lyza nunca gostou de mim.

— De fato, a Lyza nunca gostou da Dyanne. — Minha irmã diz.

— Mas algo essa vadiazinha fez para ter ganhado esse maldito anel de noivado! — Nia grita.

— Não fale assim da sua irmã. — A voz firme do nosso pai reverbera. — O que aconteceu foi surpreendente, Nia. Mas se a Lyza fez a sua escolha, como deixou claro, tem a minha permissão...

— Como assim tem sua permissão? — Ela o encarou, incrédula. — Não pode estar falando sério. Eu sou a herdeira, eu devo me casar com alguém como a Lyza.

— Mas o pedido de casamento não foi para você...

Nestha aponta e quase vejo a Nia perder o controle. Meu pai se ergue, formando uma barreira, então dá um olhar cortante para ambas.

— Se cale, Nestha. E Nia... — Ele se vira totalmente para ela. — O casamento já está decidido. É Dyanne que vai ficar com a Lyza!

— Mas pai, eu não quero isso... A Nia.. — eu tento argumentar.

— Eu quero a união das nossas famílias. — Papai me corta por fim. — E se você foi a escolhida, assim será feito. Entendeu?

Nunca tinha ouvido ele falar daquele jeito comigo e tudo que sinto nesse momento é certa apreensão. Dou um aceno.

Nia me olha como se pudesse quebrar alguns ossos do meu corpo. Já a Nestha parece querer rir de toda a situação, e sinceramente, gostaria de entender onde ela vê graça na minha derrocada.

Eu iria me casar com a Lyza Ferraro!

— Entendi. — falo baixinho. — Agora se me derem licença!

Com um aceno dele, sei que estou liberada. Deixo a sala de imediato, tentando ao máximo, não surtar antes de chegar no meu quarto. Ninguém precisava ver isso.

Aumento o ritmo dos meus passos, pegando um caminho alternativo, para evitar esbarrar com qualquer pessoa. Com isso quero dizer Kaleb.

Ainda estou pasma que a Lyza sabia de nós dois, afinal de contas, só tínhamos trocado alguns beijos e isso tinha começado há mais ou menos um ano. Éramos acima de tudo amigos, porém fomos descobrindo que podia ter algo mais... E agora não poderia ter mais.

Por qual motivo essa desgraçada me escolheu?.. A pergunta de milhões gira na minha mente.

Quero matá-la. Juro, se eu pudesse, estaria enfiando a minha adaga naquela filha da puta.
Lyza sempre me tratou com desdém, deixando claro, que eu não era bem-vinda no mesmo espaço que os "herdeiros natos".

Ela fez questão de me mostrar isso por anos junto da Nia. E agora, do nada, surge com a porcaria de um anel de noivado que enfiou no meu dedo sem permissão.

Quando entro no meu quarto, bato a porta com força. Então deixo meu olhar cair sobre a minha mão, fitando o maldito anel. Era tão lindo e delicado, com certeza alguém escolheu para aquela estúpida bruta. E ela só teve o trabalho de prendê-lo a mim.

Com raiva, tiro o anel, jogando no porta joias da minha mesa do quarto. Irritada, começo a tirar os sapatos que estavam me matando, assim que termino, vou para o vestido. No entanto, não tenho tempo.

A porta do quarto se abre como uma explosão. Então se fecha e meus olhos estão na Nia. Engulo em seco, sentindo meu estômago se apertar, enquanto entro em modo defensivo.

Eu estava fodida, aquele olhar maligno que ela carregava, com certeza era uma indicação.

— Você não vai casar com ela! — Nia diz friamente.

— Eu não quero casar com ela. — afirmo. — Mas ouviu o papai...

— Talvez se você estiver morta...

O sorriso que ela exibe é cruel. Tento ao máximo não sentir o pânico subir a minha cabeça. Não era a primeira vez que a Nia me ameaçava de morte, aquilo na verdade, parecia bem comum aos meus ouvidos. Porém, essa era a primeira vez que ela parecia bem decidida a fazer isso.

Obrigada Lyza por foder ainda mais minha vida!

— Nia, eu não tenho culpa. Você viu, foi a Lyza, ela que está fazendo um joguinho...

— E você aceitou!

Ela diz e caminha na minha direção, eu me afasto, mas estou meio encurralada contra a minha mesa.

— Eu não aceitei nada!

— Vou matar você!

Nia grita, então se move, rápida como um felino, pulando sobre mim. Porém consegui escapar por pouco, desviando para o lado, pulando por cima da cama e correndo para a porta do quarto.

Por um segundo acho que vou conseguir escapar, mas foi ilusão. Eu me atrapalho em abrir a porta, então isso dá tempo para a Nia, que empurra minha cabeça com força contra a madeira.

Sua mão envolve meu cabelo longo, puxando, fazendo a dor se espalhar pelo meu couro cabeludo.

Tento segurá-la, mas é em vão, por ela ser maior e eu estar vulnerável, sou igual a filhote indefeso. Ela dá uma um soco nas minhas costelas já machucadas, pelo treino com a Nestha, eu grito.

Em um instante, sinto o meu mundo girar, antes de cambalear para trás e levar um soco no queixo que simplesmente me faz entrar numa escuridão bem-vinda.

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