III (TRÊS)

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— Sinceramente, Lyza, você deu voltas e não nos contou. Por onde andou?

Meu pai perguntou. Literalmente o jantar inteiro andou ao redor daquilo. Claro, Benjamim e Vincent falaram sobre os novos investimentos, assim como a expansão que ambos tinham conseguido.

Nia, Nestha e eu, ficamos como coadjuvantes, sentadas uma do lado da outra, de frente para os Ferraro. Mas coube a Nestha ficar frente a frente com Lyza.

— Estive ocupada me preparando para assumir os negócios aqui. — Ela diz, girando o uísque em seu copo. — Não tive parada, andei por muitos lugares!

— Tanto tempo de preparação? — Meu pai diz e olha para Vincent. — Não exige demais dela?

— Não. — Vincent responde. — Lyza quis isso, ser respeitada desde o escalão mais alto da máfia até o escalão mais baixo, por isso ela esteve viajando. Nossos negócios são múltiplos!

Lyza suspira, encarando sua bebida com um tédio estético, tomando em seguida em um único gole. Lembro de vê-la quase o tempo inteiro, em suas visitas, daquela mesma forma. Só perdia essa sua máscara, quando estava me azucrinando.

— Será uma grande líder, eu tenho certeza, Lyza. — Papai afirma.

— Agradeço, Benjamim. E tendo em vista isso, quero fazer um pedido a você.

Vejo o sorriso do meu pai crescer. Noto também a Nia se empertigando, se preparando. Eu olho para a Nestha, que também me olha, trocamos uma comunicação silenciosa, antes de nos concentrarmos na cena que vai se desenrolar.

— Sou todo ouvidos, pode falar Lyza! — Papai fala.

— Gostaria de pedir a mão da sua filha em casamento. — Lyza diz, fazendo a Nia sorrir.
— Tem minha bênção e toda autorização.

Meu pai está sorrindo, Nia está também, Vincent está quase sorrindo, e só eu e Nestha estamos expectantes.

— Obrigada.

Lyza fala e então se levanta. Todos nós observamos ela dar a volta na longa mesa, passando por trás do meu pai na cabeceira, caminhando até Nia que está a sua direita. Mas estranhamente a Lyza não para nela, nem na Nestha, e antes que eu pisque novamente, tentando entender o que diabos está acontecendo. Aquela criatura sombria está diante de mim.

— Dyanne Mancini, aceite este anel, como símbolo do nosso noivado!

Lyza abre uma caixinha preta de veludo, que nem tinha visto da onde tirou, mas agora estava ali diante dos meus olhos com um anel oval com uma pedra solitária, uma safira azul, ao redor dela estava cravejados com outros diminutos diamantes, ao redor do elo de ouro branco.

Que porra é essa?

Exclamo. Estou em choque. Ergo os olhos para o rosto da Lyza, esperando que tenha a indicação de uma piada, ou qualquer coisa do tipo. Mas ela está apenas me encarando pacientemente.

— É anel de noivado, doce Dyanne. — Ela de forma óbvia. — Me dê sua mão!

— Minha mão?

Acho que cognitivamente eu não estava mais funcionando. Franzi o cenho. Lyza deu um outro suspiro, então pegou a minha mão. Senti um choque me percorrer, quando seus dedos macios tocaram os meus. Ela tirou aquele lindo anel, colocado no meu dedo. Eu olhei a peça e pensei que era algo que eu escolheria para mim.

— Pronto, deu certo imaginei.

Lyza afirmou, parecia satisfeita encarando a minha mão, apesar de manter uma expressão entediada.

— Imaginou? — Falei confusa.

— Lyza, você não pode estar falando sério. — É a Nia que fala, parecendo revoltada. — Isso é uma brincadeira?

— Não, Nia. Não é uma brincadeira e eu espero que você se comporte com a sua irmã a partir de agora. — A voz da Lyza é fria, quase dura.

— Mas.... — Nia tenta argumentar, mas o pai da Lyza ergue a mão, interrompendo.

— Sua escolha é essa mesmo, Lyza?

O jeito como ele fala é sombrio, mas a sua filha nem se abala. Lyza dá somente um aceno.

— Sim, essa é minha escolha. — Diz ela. E então suspira. — Agora eu preciso ir, tenho assuntos a cuidar.

Ela disse, então soltou a minha mão, que só ali percebi que estava na sua. Todos na mesa ficaram em silêncio, enquanto Lyza virou-se, claramente já deixando todos. No instante que a vejo indo passar pela porta, é como se eu caísse em mim novamente.

— Espera. Lyza!

Eu chamo por ela, me levantando, correndo atrás da figura de preto. Ela nem ao menos liga para mim.

— Ei. Espera, a gente precisa conversar. — Quase grito. — Lyza!

Aquela desgraçada não parava de andar. Eu não estava acreditando que ela me faria correr. Encaro suas costas e os cabelos longos, enquanto o balanço dos seus quadris quase me distrai. Porém de repente, ela interrompe seus passos diante do Kaleb, então o encara.

— Você. — Diz ela. Sinto um frio atravessar minha espinha. — Se você tocar nela outra vez, pagará de forma muito dolorosa...

Kaleb de repente está sem cor alguma no rosto. Ele olha para mim. Eu engulo em seco, sabendo mesmo sem qualquer confirmação, que a Lyza está falando de mim em sua ameaça.

Sem dizer nenhuma palavra, ela se move novamente. Dessa vez corro atrás dela, ainda muito atordoada, com tudo que está acontecendo e chocada que ela saiba de mim com Kaleb.

— Lyza, inferno, espere!

Grito. Então de repente me choco nas costas dela, porque outra vez ela parou de repente, antes de chegar na porta.

Tropeço nos meus próprios pés, por culpa do maldito salto, mas a mulher diante de mim se vira e estende a mão. Ela me segurou pela cintura, me firmando, enquanto eu engasgava com a proximidade.

Lyza tem um cheiro intoxicante, é amadeirado, mas suave, tão rico que nem parece real. Engulo em seco, sentindo meu coração acelerar, quando ergo meus olhos até os seus. De perto, são ainda mais bonitos, tinham diminutos pontinhos verdes, eram tão profundos que pareciam me atrair para eu me afogar.

— Precisamos conversar... — sussurro quando encontro a minha voz. — Tenho perguntas!

Seus olhos vagam pelo meu rosto, nada eles revelam, mas me sinto completamente revirada.
Sinto minhas bochechas ficarem coradas. Ela inclina o rosto para a frente, assim nossos olhos se alinham. Mesmo comigo de salto, corrigindo minha altura, eu ainda batia no seu ombro.

— Você sempre foi cheia de perguntas, vejo que isso não mudou.

A voz dela tem algumas oitavas mais baixas do que jamais escutei. É inebriante e um pouco assustador, porque é muito atraente.

— Não vou me casar com você! — Atiro, tomando alguma coragem.

— Não? — Ela arqueia a sobrancelha, o primeiro sinal de expressão na sua face impassível. — Acho que você não tem escolha.

— Por que você está fazendo isso? — falo com raiva. — Eu não gosto de você e você não gosta de mim. É algum tipo de jogo?

O rosto dela volta a ser uma página em branco. Mas de repente sinto o aperto da sua mão grande na minha cintura, me aproximando. Por reflexo, ergo as mãos, segurando nos ombros dela e sinto novamente aquele choque se alastrando pelo meu corpo.

Esse vestido... — Diz ela baixinho e então respira fundo. — Eu preciso ir, vamos conversar em outro momento!

Ela diz friamente e então me empurra, porém de forma suave, somente fazendo eu ficar longe. Em um minuto ela gira, saindo pela porta, deixando-me plantada. Assim que a porta é batida, eu quero gritar.

Estou completamente atordoada com todos os acontecimentos. Em horas Lyza volta a Nova Iorque, zomba de mim como nos velhos tempos, então simplesmente num jantar de família me pede em casamento, ameaça a "minha amizade" colorida e me abandona.

Quer porra estava acontecendo?

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