Capítulo 1

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Indicação musical: Chopin - Nocturne Op 9 No 2 (E Flat Major)

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   Aziraphale se lembrava muito bem da empolgação do primeiro dia de aula. A sensação de entrar em um ambiente que, para ele, parecia estar em um tempo diferente. Ele poderia jurar que em algum momento, as pessoas iriam começar a andar de cavalo e usar um dos salões para um baile. Ele sabia que era improvável mas secretamente torcia para que isso acontecesse um dia.

   Hoje em dia, ele só atravessava o campus com a mente gritando pelo café do outro lado da rua. Não havia passado muito tempo da faculdade. Estava somente no terceiro semestre de seu estudo de inglês mas ainda assim, parecia que estava na faculdade a vida inteira. Ver as pessoas tão animadas andando de um lado para o outro o fazia questionar quando toda sua própria animação se tornou movida a folgas escolares.

   O som do sino tocando acima da porta azul assim que entrou na cafeteria o fez se sentir entrando para um tipo de paraíso pessoal. Isso e o som agradável de uma versão mais tranquila de Chopin que tocava ao fundo. Ele poderia reconhecer Chopin em qualquer versão. Ele realmente já havia testado isso com sua irmã, uma vez.

   Estava esperando na fila quando reparou que Nina, a garota que trabalhava pela tarde no café. Aziraphale tinha quase certeza que havia visto ela pelos corredores da faculdade mas não tinha certeza o suficiente pra perguntar a ela "como foi a aula hoje?" enquanto esperava seu pedido ficar pronto. O loiro adorava conversar mas ele sabia que todo mundo tinha um limite e o limite de Nina parecia bem limitado.

— Eu acho que vou querer um latte de baunilha outra vez. Eu acho que não consigo me enjoar disso. - disse com um sorriso, desviando os olhos dos preços acima da cabeça de Nina.

— Eu acredito que você seja o único, então. - disse apertando algumas teclas de seu computador antes de apontar para a máquina de cartão. — Acho que estamos cheios demais mas se você quiser, aquele ser fingindo ler jornal enquanto usa óculos escuros é meu amigo. Ele provavelmente não vai falar nada enquanto você estiver lá e se falar, diga que eu mandei você sentar lá. Eu já te levo seu latte.

   Nesse momento, os olhos de Aziraphale passou pelo lugar. Ele era bom em conversar com as pessoas mas aquilo parecia invasão de privacidade demais. Aziraphale abriu a boca pra tentar discutir sobre pegar o latte pra viagem mas Nina já estava ocupada com outras coisas então simplesmente suspirou e olhou em volta, finalmente encontrando alguém com um jornal e óculos escuros, que por sinal, não tinha nada nele que não fosse escuro. Até seu cabelo parecia extremamente preto de onde ele estava. Respirando fundo e, sem perceber, prendendo o ar, seguiu o caminho até a mesa e ensaiou seu melhor sorriso antes de chegar a mesa.

— Com licença. Nina me disse pra sentar aqui por enquanto. Aqui fica bem cheio durante esse horário... Mas se você quiser, eu posso esperar aqui até ela me entregar e ir embora. Não vou te incomodar.

   Aziraphale despejou as palavras em cima do rapaz que, até o momento, nem ao menos havia abaixado o jornal. Ele simplesmente não conseguia segurar as palavras, em alguns momentos. Aquele era um dos momentos. Momento de nervosismo o fazia falar demais ou simplesmente não sabia o que falar. Nunca era um meio termo.

— Eu não disse nada. E mesmo se eu negasse, Nina iria vir atrás de mim igual a um demônio então... - com um suspiro, o rapaz abaixou o jornal, o dobrando e deixando de lado, pegando a xícara ao seu lado e bebendo grande parte de uma só vez.

   Com um sorriso sem jeito, Aziraphale se sentou na cadeira em frente ao rapaz, olhando em direção ao balcão de Nina como se fosse um bote salva-vidas. Agora que o rapaz ao seu lado estava sem o jornal a sua frente, sentia que os olhos dele estava em cima de si, mesmo que fosse somente por puro ego. Ele não poderia confirmar com os óculos escuros. Pela visão periférica, Aziraphale conseguia ver o rapaz se inclinar pra frente, fazendo seu cabelo cair sob seus ombros. O loiro pensou mesmo em prender o cabelo dele só pra que não fosse mais uma coisa atrapalhando sua visão. Mas ele somente apertou suas mãos sob o colo e voltou sua atenção a janela ao seu lado.

— Você também estuda na Trinity? Eu juro que sinto que já te vi em algum lugar...

   Aquela era uma pergunta curiosa. Era o mesmo tipo de pergunta que gostaria de fazer para a Nina mas não tinha coragem para fazer. Ele estava feliz em poder responder aquilo, por sinal. Era algo fácil de sua mente lidar, ao contrário do silêncio constrangedor.

— Eu estudo sim mas dependendo de que área você fica por lá, talvez você tenha visto minha irmã. Dizem que somos bem parecidos. Mas ela tem o cabelo maior. - Aziraphale usou as mãos para bater com elas na altura dos ombros, representando o tamanho dos cabelos da irmã.

— Não. Deve ter sido você. Eu não lembro de ter visto alguém como você por lá... Ou qualquer outro lugar.

   Para Aziraphale, aquilo saiu quase como uma ofensa. Ele olhou para os próprios pés. Talvez fosse pela roupa que usava. Ele propositalmente comprava roupas com a aparência de um século anterior mas era porque ele achava que combinava com ele. Que combinava com seu dia a dia! Seria por quê ele estava usando um short que parecia uma saia quando estava com as pernas juntas? Ver Nina se aproximar novamente parecia um bote salva-vidas.

— Tá aqui. Bom apetite. - Nina olhou para o rapaz na mesa e tirou dele os óculos escuros. — Você já não consegue enxergar normalmente e ainda usa óculos escuros em lugar fechado?

   Enquanto os dois começaram uma discussão sobre como os olhos do rapaz era sensível demais para luminosidade, Aziraphale se ocupava em beber o latte o mais rápido possível. Ele sabia que iria se arrepender, ainda mais porque ele tinha problema com coisas quentes. Quando o loiro se levantou e saiu andando com pressa, Nina o olhou confusa antes de olhar pro amigo.

— O que raios você fez com o garoto, Crowley? Ele fica aqui um tempão esperando qualquer bebida quente esfriar e só bebe quando está quase gelado. - disse batendo com o pano no rapaz, ainda mais indignado agora com a acusação de seu comportamento.

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• No livro de Good Omens, Crowley é descrito como alguém de cabelo preto.

• Aziraphale está usando um short no estilo "linen shorts" e alguns deles realmente dá a impressão de ser uma saia. Normalmente esses são os considerados "femininos".

• A faculdade deles é baseado em vídeos de turismo que vi sobre a faculdade Trinity Cambridge.

• Essa fanfic segue a teoria de que os olhos de cobra de Crowley o atrapalhe a ver algumas coisas. Nesse caso, ele tem uma certa sensibilidade a luz e não consiga ver bem de longe.

Arte da capa: @den_0618 no twitter

Young Omens - AU AziracrowOnde histórias criam vida. Descubra agora