35°.

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Era domingo, poucas horas antes do início do show de Luiza. Fernanda correu pelo corredor em direção ao camarim de Luiza, olhando periodicamente para trás e aumentando a velocidade, quase correndo quando chegou. Ela abriu a porta e fechou calmamente enquanto se aproximava e se sentava no sofá, preparando-se para parecer não ignorante.

_Ele está vindo...
- Ela avisou em tom musical enquanto puxava uma revista até o rosto, a morena fechou os olhos com força por um segundo com medo e os abriu enquanto olhava para amiga através do espelho.
_Ele vai fazer isso todos os dias
- Fernanda encolheu os ombros.

_Conhecendo como conheço, sim.

Assim que ela terminou de falar, houve uma batida forte na porta. Luiza nem teve a opção de perguntar quem estava lá ou dar permissão para que entrasse quando a porta se abriu e um homem com a idade dela e de Fernada entrou com a respiração descompassada e com aqueles olhos castanhos escuros se estreitando ao ver o reflexo dela no espelho.

_Você está tentando me humilhar?
- Ele jogou um jornal na mesa dela, tudo muito clichê e muito bem ensaiado em sua mente.

Ela rapidamente olhou para o jornal e viu que era sobre ela e Valentina, ela também pegou o nome dele digitado no artigo.

_Acredite ou não, mas nem tudo é sobre você, Rodrigo.

Ele zombou e jogou as mãos para os lados de forma melodramática.

_Luiza, quando meu nome sai no jornal, é sobre mim...

Fernanda riu levemente e recebeu uma carranca de desaprovação do moreno.

_E o que é que você acha tão engraçado?

Fernanda sorriu e puxou a revista de volta ao rosto.

_Normalmente, você ficaria em êxtase se seu nome fosse mencionado em um artigo e o mostraria a qualquer pessoa que você pudesse convencer pra lê-lo.

_Mas isso...
- Ele parou, caminhando para pegar o papel que Luiza ainda estava ignorando enquanto bagunçava o cabelo no espelho.
_Isso é humilhante, disseram que eu era apenas um disfarce para um romance lésbico...

Ambas as mulheres encolheram os ombros, tecnicamente ele era, Luiza só não sabia disso na época.

_Você nem é gay.

A morena parou de mexer no cabelo e olhou para o homem e fez uma pausa.

_Rodrigo, estou apaixonada por uma mulher, acontece que isso significa que sou gay.

Ele ergueu os olhos para o teto e jogou o papel para o alto, novamente, bem ensaiado.

_Você e eu namoramos e fizemos sexo, por que isso não faz de você hetero?

Fernanda apenas balançou a cabeça, mas se encolheu internamente porque Luiza realmente dormiu com ele.

_Porque ela não te amava, não é tão difícil de acreditar... Bem...
- ela fez uma pausa e largou a revista pensativa.
_Pode ser tão difícil para você acreditar que alguém não está apaixonado por você, mas para resto de nós... não é.

Ele fez uma careta para ela novamente e parou na porta.

_Se isso colocar em risco minha carreira, nunca vou te perdoar, Campos.
- E com isso ele saiu furioso e bateu a porta.

As duas mulheres ficaram sentadas em silêncio enquanto leves sorrisos começaram a se espalhar por seus lábios.

_Como exatamente, você ser gay vai destruir a carreira dele?

Luiza encolheu os ombros e voltou ao que estava fazendo antes de ser interrompida.

_Isso não vai acontecer, mas tudo de alguma forma está sempre relacionado a ele, quero dizer, ele é mais narcisista do que eu era no ensino médio, ainda não consigo acreditar que namorei com ele tanto tempo.

Através Dos Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora