24 Dualidade

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Estranho pensar que estou aqui. Existo. Vivendo. Respirando. Entretanto não penso o mesmo dos outros ao meu redor que existem, pensam e respiram.

O que eu sinto ninguém mais sente, mas todo mundo já sentiu. Não consigo entender a questão de ser meu próprio universo e estar perdida em um mar de seres com bilhões de outras existências.

Ver as escalas e tentar se enquadrar, o tamanho de uma célula para uma pessoa. O de uma formiga para uma baleia. Do planeta para o sistema solar e assim continuando.

O que mais incomoda é estar no mesmo mundo e ser da mesma espécie e não sentir ou pensar o mesmo. Entretanto, sentir e pensar o mesmo.

Nossas mentes são focadas em perspectivas, criadas por gênero, cor, sexualidade, faixa etária, localidade de moradia e nascimento e classe social.

Como o ditado "se for para estar deprimida, melhor que seja deprimida bebendo vinho em Paris" mostra que sentimos o mesmo, apesar de todas as diferenças.

Entretanto, quando um lugar sofre um grande desastre, qualquer pessoa que não tenha passado por esse tipo de desespero, o medo da morte iminente, a impotência diante de um Ppoder esmagador a sua frente, pode apenas simpatizar ou imaginar esse sentimento, nunca entender verdadeiramente.

Além disso, enquanto uns passam por diferentes tipos de miséria e desespero, outros vivem normalmente ou a aproveitam em níveis inimagináveis. No mesmo instante.

Eu giro em círculos, perdida com essa dualidade que não consigo entender. Talvez minha mente seja apenas simplória demais para isso. Tentar aceitar o desconhecimento, como uma fórmula matemática avançada que nunca dominarei e não fará diferença em minha vida diária parece a melhor e mais fácil solução.

Porém, não consigo me contentar. Incomoda, coça meu cérebro e a dúvida aparece em momentos menos esperados. Não sei o que fazer.

Quero gritar, expelir esses pensamentos incômodos de dentro de mim de forma perpétua. Penso em enfiar uma longa pinça pelo nariz e caçar o parasita, para depois jogar no chão e pisotear.

Grito e desisto de entender. Apenas me afogo no desconforto até que ele suma. Como esperar ser curada de catapora.

Vai voltar, sei que vai, mas não posso fazer nada, então olho para o chão em vez de céu e me fecho em meu próprio universo.

Descontando ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora