8-Ontem

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Ontem eu duvidei de você, ontem eu te critiquei, ontem eu te diminuí, ontem você me abandonou.

Abandonou-me porque cansou da dúvida, da crítica ingrata e de ser constantemente diminuída. Não te julgo por isso.

Hoje eu duvido de mim, hoje eu me critico, hoje eu me diminuo, hoje eu me abandono.

Com a arma na boca, as lágrimas pingam sobre ela. Choro por você, choro por mim.

Quando ontem eu duvidava de você, te criticava e te diminuía eu na verdade te usava de espelho, porque não suportava o fato de tudo isso ser dirigido a mim.

Tento apertar o gatilho, mas meu dedo está sem forças e treme. Jogo o revólver no chão e soluço.

Tiro as balas uma a uma, com as mãos oscilando. Meu espírito está em frangalhos.

Deixo os projéteis espalhados no chão e me deito em posição fetal. Talvez eu consiga criar raízes.

Sinto as lágrimas ensoparem o piso ao meu redor e fico deitado em uma poça d'água. Sinto que estou em transe.

Peço a um Deus, em que você acreditava e eu também te criticava por isso, para me salvar, caso eu ainda possa ser salvo. Não me importo se sou merecedor dessa salvação.

Peço para a morte vir me buscar, caso Deus não queira salvar minha alma, porque não consigo ir até ela. Oro para essas duas entidades com o mesmo fervor e desespero. Não me importo se vivo ou se morro contanto que a dor passe.

Arranho o taco com minhas unhas roídas. Um rato como eu sem queijo para roer rói o próprio corpo.  Você era meu queijo e cansou de ser destruída. Novamente, não te julgo.

O barulho das minhas unhas raspando a madeira preenche meus ouvidos. Esse ruído representa minha degradação.

A dor preenche meu corpo e meu coração parece explodir. Os frangalhos do meu coração, pois há muito tempo ele não está inteiro.

Meus olhos estão pesados, meu corpo amolecido. Em meio ao mar de lágrimas em meu piso, adormeço.

Descontando ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora