Descontando Contos

1- As asas da nuvem

Era uma vez um passarinho, ele era pequeno e frágil como a asa de uma libélula. Seu sonho era ser uma ave migratória que pode cruzar o oceano e desbravar o mundo. Porém, era um animal muito pequeno e só poderia voar pelas redondezas. Isso o fazia olhar para o céu como se sua situação pudesse mudar magicamente.

Em um desses suspiros  o dia entardeceu, era uma imagem linda para se admirar por entre as folhas de uma árvore. O horizonte estava completamente colorido de azul, rosa e laranja, mas havia uma pequena nuvem muito branca nadando em meio ao mar colorido.
Foi amor a primeira vista, também não poderia ser diferente com uma moldura tão romântica para a cena. O coração do pequeno animal estremeceu como nunca e o passarinho não soube na hora que era uma paixão impossível.

A beleza de sua amada era tão grande que ele sentia necessidade de se aproximar dela. Então ele voou até o ponto mais alto da árvore para vê-la melhor, mas ainda não foi suficiente. Por toda a cidade ele procurou um lugar para apreciar a nuvem até que o pássaro encontrou uma torre muito grande e lá pousou.

Naquele lugar ele se declarou para ela, nunca na natureza houve um canto mais lindo ou sincero. O passarinho viu a amada mudar para a forma de um coração e assim ele soube que era correspondido. Naquela noite ele sentiu toda sua melancolia desaparecer e dormiu feliz.
A primeira coisa que fez ao acordar foi olhar para o céu em busca de sua nuvem, mas ela não estava em lugar nenhum. Desesperado, ele percorreu toda a cidade atrás dela, embora horas tenham se passado até vê-la.

A amada estava cercada por muitas outras nuvens e todas tinham cores muito escuras. Ela não era mais aquela que ele conheceu, branca e pura. Agora sua cor era de um roxo doentio e por isso ele chorou. Apesar de ser um passarinho inocente, sabia que o fim de uma nuvem era a chuva.

Um grito de dor atravessou o corpo do animal apaixonado quando os primeiros pingos começaram a cair. Ele não fugiu para se proteger da tempestade que piorava rapidamente. O pássaro ainda estava ali quando surgiram os raios. Em momento algum ele parou de gritar, era um choro dolorido que apenas fazia as nuvens chrorarem mais. Todos sabiam que fim teria a amada do infeliz, ela já era apenas um floquinho no céu.

Em menos de uma hora a morte havia chegado para aquela nuvem, foi quando ele parou de lutar. Suas asas não bateram mais e o bicho despencou no chão. Ele não sobreviveu e o resto da chuva lavou seu sangue do solo.