Consequências

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Lucien

Chegou em casa com uma torta de morango nas mãos.  Queria agradecer a governanta pelos biscoitos da noite passada.

Assim que adentrou o recinto notou que Cristine parecia satisfeita demais o que o deixou confuso .

- Boa noite meu bem ! - disse numa tentativa falha de obter atenção.

- Onde está Annalise ?- questionou estranhando a ausência da menina na mesa do jantar .

- Não quis comer , deve estar  se sentindo mal .- mentiu descaradamente enquanto bebia uma taça de vinho .

Num ímpeto subiu as escadas e se dirigiu para o quarto da menina . O choro infantil podia ser ouvido sem ao menos precisar entrar .

Girou a maçaneta e logo o viu a menina correu para seus braços, com os olhos vermelhos de tanto chorar:

- O que houve princesa?  - quis saber  devido a aflição de ver a pequena assim .

- Mamãe disse coisas feias a Amabel e a mandou embora ....- explicou entre soluços.

- Que tipos de coisas feias ? - interrogou preocupado .

- Chamou ela de porca imunda !- respondeu abraçando o pai .

Nunca pensou que sentiria tanta raiva de alguém.

Como ela pode ofender uma jovem tão doce e carinhosa como Amabel .

Consolou a filha e saiu somente quando ela adormeceu. Se dirigiu ao quarto da esposa e entrou sem nem sequer pedir .

- Quero que vá embora da minha casa . Os papéis do divórcio chegaram em suas mãos ainda essa semana. - ditou num tom frio e convicto.

- O que está havendo fiz algo errado?- contestou  se fazendo de inocente.

- Não seja cínica,  soube o que aconteceu com a governanta. Sinceramente já  tolerei coisas demais . O que fez hoje foi inaceitável. - ditou esperando que ela arrumase as malas para partir .

- Então a sem vergonha já andou se insuando para ti.- disse jogando seu veneno aos risos

- Limpe sua boca para falar de Amabel , ao contrário de você ela tem caráter.  E uma das moças mais honestas é decentes que já conheci. O seu oposto , já que és promíscua , vulgar e mentirosa.- disse para que ela senti-se na pele a dor de ser humilhada assim como fez com a jovem que não merecia .

- Quero suas malas prontas e darei entrada na separação. O cocheiro te aguardará lá fora .

A mulher chorava , mas não se comoveu . Ela merecia ouvir coisas ainda piores .

Foi para o escritório afim de esfriar a cabeça, tinha que falar com a governanta e pedir para que volta-se.
Nunca tinha visto a filha chorar daquela forma o que confirmou que ambas tinham criado um vínculo praticamente inquebrável.

Se arrependeu amargamente de ter tido piedade de Cristine. Se soubesse teria somente criado a menina sem ter tido um casamento.
Aceitou o matrimônio para que ela não fosse excluída pela sociedade , contudo só havia tido desgostos desde então.

Se pudesse iria agora mesmo bater na porta de Amabel , mas não era de bom tom uma dama receber visitas de um homem a altas horas da noite .

Teria que deixar para amanhã ainda que uma sensação angustiante estivesse martelando dentro de si.

Respirou fundo e encheu um copo com bebida,  não era a melhor das opções,  porém precisa de algo para anuviar os pensamentos.

...

Amabel

Trocava os lenços para que o pai deita-se mais confortavelmente.

- Não parece bem ?- o senhor afirmou analisando os olhos marejados da jovem .

- Estou bem meu pai , agora descanse pois precisa ficar bom .- sorriu para não preocupa-lo.

Depois de alguns minutos ele adormeceu,  deixando-a sozinha com suas dores.

A lua brilhava pela janela , o que a fez chorar ainda que não quisesse mais.
Iria sentir tanta falta de Annalise , da senhora Abigail e dos outros criados.

A mente vagou para Lucien e uma onda de remorso a tomou . Não deveria achá-lo tão lindo , tão bondoso ....
Se repreendeu por tais divagações,  nem de brincadeira poderia pensar tais coisas.

Fechou as janelas e tentou dormir , ainda que o sono não viesse.

....

Terminava de cozinhar a sopa quando ouviu batidas na porta , estranhou , pois a única pessoa que os visitava era a vizinha que geralmente entrava sem formalidades, afinal era quase parte da família .

Limpou as mãos no avental e arrumou os fios ruivos  que escapavam do coque mal feito.

Abriu a porta e teve certeza de que estava sonhando . Olhando para ela estava o senhor Petreks e a pequena Annalise .Ambos carregavam um embrulho nas mãos.

- Boa tarde senhorita Sinclar ! Vim pessoalmente para pedir que volte a trabalhar como nossa governanta. - esclareceu visivelmente preocupado .

- Agradeço a oferta mais não quero estar perto daquela mulher novamente. Pois sei que ela irá me infernizar todos os dias até que nunca mais queira voltar. - foi sincera ainda que senti-se falta de todos .

- Se é isso que a impede , pode voltar hoje mesmo não é Annalise ..- argumentou com um sorriso travesso que a fez corar .

- Sim mamãe não mora mais conosco .Ela foi embora ontem .-disse alegremente como se fosse algo incrivelmente satisfatório.

- Não compreendo. - demonstrou sua confusão diante da notícia.

- Me permite entrar  para que me explique em particular. - o homem pediu como quem tem uma longa história para contar.

......

Lucien

Enquanto a filha brincava, sendo supervisionada por Abigail . Entrou na casa de Amabel e relatando  os ocorridos recentes e também antigos para que ela entende-se toda a gravidade da situação.

A dama ficou  sem fala por alguns segundos quando revelou que não era o pai legítimo da criança.

- Ainda não consigo acreditar...- expôs incrédula.

- Peço que não comente nada com Annalise. - pediu mesmo que tivesse certeza de que ela não o faria .

- Nunca direi nada .- prometeu timida .

- Trouxe isso para a senhorita espero que goste de torta de morango ! - ofereceu entregando os dois embrulhos .

- Como sabia que esse era meu sabor preferido. - perguntou encantada.

- A senhorita cheira a morangos .....- explicou sorrindo perante o vermelho que tomou as bochechas da moça.

- Obrigada senhor ! Amanhã estarei de volta a mansão. - disse se erguendo como quem foge de algo .

Naquele momento , se sentiu um tolo por ter feito um comentário tão devasso, mas simplesmente deixou que os pensamentos tomassem liberdade .

- Desculpe se lhe ofendi de alguma forma , não deveria ter comentado tal coisa. - pediu arrependido .

- Está tudo bem , só não estou acostumada a ouvir coisas do tipo .- explicou revelando sua inexperiência.

-Até amanhã senhorita. - despediu-se  mas na realidade o que mais queria era ficar .

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