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Madrid, Espanha4 anos atrás

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Madrid, Espanha
4 anos atrás...

Para Leonel e os outros, a noite se estendeu muito além do habitual. O céu estava absorto na própria e imensa escuridão, enquanto os semblantes dos homens, caminhando bem vestidos sobre o chão frio esboçavam vivacidade e euforia. Carros compridos, longe de terem um porte esportivo, aguardavam para escoltar-me.

Todo o movimento que reivindicava a área externa da residência — adjacente ao quintal, logo interrompida por nossa garagem — por outro lado era fervilhante. Quase me aliei à energia agastada quando estava apenas em posição de observar.

Apanhei meu capacete, limpando a superfície preta, até que não houvesse resíduos opacificando-a.

Aqueles homens pareciam dispostos a me transportar para sabia somente Deus onde. Mantive aguçada minha atenção no ambiente.

Talvez estivessem tentando se livrar do tédio, e acabaram encontrando a oportunidade perfeita para catalizá-lo. Ou, seu entusiasmo se resumia à simples curiosidade em descobrir o motivo que exigiu a convocação de todos os membros.

Do topo, eu avistei ternos e sapatos sociais pretos. A cor cerrada dando pouco destaque ao corpo, mas fazendo os pés brilharem como se fossem tão valiosos quanto se mostravam. Nada extraordinário em minha convivência de longa data com pessoas abastadas.

Toda a escassa circulação de pessoas que conhecíamos por serem notáveis era tão facilmente digna de um evento de gala. Eu reconhecia a essência que exalava daqueles corpos firmes, e mentes excêntricas, embora ainda sentisse que não fazia parte dela.

A discordância cercava-me com uma sensação estranha de rejeição. Como se eu fosse um parasita.

Devia estar longe daqui. Pensei, ordenando ao resto do corpo, que tremeu sob o comando. Agora, desconhecia o garoto que vi no reflexo dos retrovisores de minha moto. Olhei para o capacete outra vez, não o encontrando ali.

Onde quer que aquela versão desassombrada de mim estivesse escondida, estaria segura.

Deixei que ele pudesse se afugentar das garras reguladoras dos adultos, porque eu precisaria de sua ajuda mais tarde. No dia seguinte talvez, quando a rotina arrastasse meu corpo para fora da mansão de Leonel outra vez.

Como alguém que convive com a certeza que acabará à deriva. O momento era incerto. Porém, inevitável.

Avistei meu pai há poucos passos de distância ocupado com a gola de sua camisa social, logo à minha direita.

— Eu vou sozinho — avisei. — Pode dizer a um dos motoristas que indique a direção. Estarei logo atrás.

— Não — disse ele, simplesmente. Contraiu os lábios, sabendo que eu não aceitaria aquilo como sendo o suficiente. Rolou as íris de cor azul-acinzentada até o ponto que os meus olhos se perderam, entrando em um estado de completo absorto. — Livre-se de suas roupas de motociclismo. Troque-as por um terno, ou algo mais apropriado.

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