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Madrid, Espanha4 anos atrás

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Madrid, Espanha
4 anos atrás...

Eu pude me sentir verdadeiramente inclusa no ambiente da casa de música quando me aninhei junto às trevas. A luz não ultrapassava um limite onde as raízes do encanamento se estruturavam. Água corria como se o lugar estivesse vivo e aqueles tubos fossem vasos sanguíneos, transportando sua vitalidade. O ruído semelhante a sussurros assombrosos quase inaudíveis, sobrepostos pelos sons das conversas indistintas, partiu de todos as direções.

Escutei cada sílaba do que eram gotejares indecisos ecoando em uma parte silenciosa do segundo andar da casa.

A arquitetura da construção regrada por uma cultura antiga e castelhana era facilmente identificável devido às grossas paredes e dois andares de escada. Algo que promovia a mesma sensação de estar explorando uma região subterrânea, abandonada por alguma civilização primordial.

Ri soprado, tirando sarro da comparação. Os livros estavam realmente estimulando minha criatividade. Eu era apenas uma menina, de qualquer modo. Aprenderia a valorizar a ingenuidade da juventude algum dia. Quando as pessoas mais novas, de idade igual ou superior a minha já não tivessem problemas com isso.

Não atrapalhava ninguém que eu estivesse recolhida em meu canto. Na verdade, apreciar a própria companhia podia ser produtivo. Não me gabava em considerar eu mesma a prova viva disso.

A média das minhas notas escolares era boa. Sempre haveria um espaço livre na agenda para aprimorar a técnica musical. Tudo poupava-me de qualquer insatisfação da parte de Andreza.

Bom, considerando o óbvio, era raro existir alguém que não cedesse à curiosidade de quebrar as regras, vez ou outra. E a maior vantagem – além da sensação de estar vivendo o início da adolescência verdadeiramente – era poder distinguir de modo astuto os momentos em que mamãe mentia ou não.

Algo me apontava a malícia como sendo necessária. Comecei a germinar a minha então. Precisava saber em quem confiar. Porque Andreza sempre alertou-me da manipulação – alertou o suficiente para que eu procurasse entender como acontecia.

Os meus ideais foram moldados a partir dos discursos de uma mulher infortunada que possuía muitas desavenças com a hierarquia. A mesma regendo a sociedade desde a sua formação.

Minha mãe não era estúpida. Ela esteve no topo certo dia. Soube o porquê de ninguém ter estendido a mão à sua família quando faliu.

Ajudar quem está a um passo da queda significa descuidar-se do seu lugar junto aos vencedores.

Baixar a guarda e abrir uma brecha.

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