DRACO

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Draco estava consumido, de dentro para fora, por uma pilha de sentimentos. Com apenas dezassete anos, a morte já o rodeava e a solidão já havia se instalado em todos os cantos disponíveis de seu coração; ele também se sentia miserável. Como se tivesse sido ele a causar tantas mortes e sofrimento nos últimos anos — ainda que ele tivesse feito parte do lado que causou tudo isso e mais.

Os que sobreviveram à Batalha de Hogwarts se reuniam no Grande Salão enquanto ele, imóvel e inexpressivo, olhava para o Trio de Ouro conversando entre si após o fim da batalha. O conflito interno em que se encontrava o fazia ponderar se ficar seria ou não uma ideia prudente.

"Vamos, Draco, a gente tem de ir." Sua mãe, Narcissa Malfoy, disse erguendo a sua mão para pegar no braço de Draco, que ainda se mantinha sem se mover ou falar. "Querido, vamos!" Narcissa o puxou para ir consigo para casa, o olhar de Malfoy ainda sobre o Trio de Ouro caminhando para dentro do castelo, enquanto o seu braço era puxado pela mulher mais velha.

Ainda que desalentado para voltar para aquele lugar, Draco moveu os seus pés em direção à chave de portal, que os transportou para a Mansão Malfoy. Ele foi, em passos rápidos, para o seu quarto, evitando qualquer interação possível com sua mãe ou com os elfos domésticos. Então ele se deixou cair de joelhos, em prantos fincou as unhas curtas no lado interno do antebraço esquerdo, sob a Marca Negra.

Foram horas a fio sentado no chão no seu quarto, com as lágrimas do mais límpido arrependimento molhando o tapete cinza e a sua cabeça girando em torno de diversos «E se?».

E se ele tivesse ido contra as ordens do seu pai? E se ele tivesse sido corajoso? E se ele tivesse pedido ajuda? E se ele tivesse fugido? Tantos «e se» e, no entanto, pensar nisso não vai mudar nada. Não agora. Todas essas dúvidas e incertezas, sobre o que poderia ter acontecido se ele tivesse feito algo diferente, eram completamente frívolos, e só criariam ainda mais questões para as quais irão continuar sem respostas. Questões essas que também levariam ao batimento cardíaco acelerado e irregular, aperto no peito e às vertigens que pioravam a cada minuto que passava.

Nos primeiros dois dias, Draco não comeu nem dormiu. Não importava se Narcissa tivesse feito a sua comida favorita ou não. Ele não sentia fome e sempre que fechava os olhos era enojado pelos corpos sem vida que haviam poluído a sua consciência e ouvia os gritos de súplica de todos os que foram torturados na sua presença. Na primeira semana ele conseguiu ter algumas noites de sono e até realizar algumas refeições, ainda que sozinho em seu quarto e ainda sem falar com a sua mãe, mas sua mente continuava lúgubre, porém. Pela terceira semana ele voltou a falar com Narcissa, começaram por poucas palavras e frases como um simples «Bom dia.» ou «Boa noite.» e depois ele voltou a ter conversas mais longas, ainda que não tivessem voltado ao que era . Draco passou a andar mais pela casa também, cada cômodo em que os seus pés pisavam o fazia relembrar algo, algo que ele pediu tanto a Merlin para esquecer. E por isso ele voltava sempre para o seu quarto.

No início do segundo mês, os Malfoy receberam duas corujas. Uma delas carregando uma carta e a outra carregando uma caixa de varinha — o qual ambos acharam estranho. Eles pegaram na correspondência e Narcissa abriu o envelope da carta selado com o símbolo do Ministério da Magia.

A carta do Ministério da Magia era uma atualização sobre o estado atual de Lucius Malfoy, que havia fugido após a queda do Lado das Trevas e sido posteriormente capturado pelos Dementadores. Em Azkaban, onde havia aguardado julgamento, Lucius Malfoy foi sentenciado a receber o Beijo do Dementador pelos seus crimes cometidos previamente e durante a Segunda Guerra Bruxa. Malfoy quebrou as janelas da sala numa explosão de magia, mesmo tendo tentado contê-la quando fechou as mãos em punhos, e sua mãe chorou abraçada ao seu próprio corpo, logo recebendo um abraço de Draco.

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