A SALA PRECISA

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"Ele disse que a gente iria falar mais tarde mas até agora nada, e o baile já acabou, já estamos na comunal e ele provavelmente repensou essa ideia estúpida e vai continuar me odiando." Draco cobriu o rosto com o braço assim que Pansy jogou uma almofada nele.

"Para de ser idiota, Draco." Ela resmungou. "Você tem ideia do quão sem sentido isso soa depois dele ter te chamado para dançar na frente de toda a escola? Ele gosta de você também, seu trasgo! Ele já disse que não está com Cedric Diggory, e ele não te chamaria só para te humilhar!" Draco se sentou rapidamente ao ouvir o que a amiga disse.

"Eu tinha pensado que ele iria me rejeitar, não me humilhar! Muito obrigado, Pansy!" Ele se levantou para começar a andar de um lado para o outro de forma nervosa logo a seguir.

"Malfoy, chegou uma coisa para você." Blaise avisou aparecendo na sala comunal. "É do seu Potterzinho." Ele brincou. Draco revirou os olhos e pegou o pergaminho das suas mãos.

Venha ter comigo à Sala Precisa, vamos falar sobre os nossos sentimentos. Mal posso esperar para ter essa conversa divertida e nada constrangedora com você!

— H.J.P.

Ele sorriu lendo as palavras com caligrafia desleixada.

"Eu vou ter com ele."

Ele saiu sem deixar que os amigos dissessem algo, no entanto, Blaise olhou sorridente para Pansy e ela se sentou na poltrona, orgulhosa pelo amigo. Só eles dois sabiam o que foi para Draco ter de viver com esses sentimentos presos a correntes e cadeados dentro de si por tantos anos.

Mas agora ele finalmente tinha a oportunidade de ser livre.

O caminho até à Sala Precisa ser feito com cuidado e de forma cautelosa, sempre olhando para os lados e atento a qualquer barulho que soasse pelos corredores para não ser pego fora do seu dormitório depois da hora de recolher.

"Potter?" Ele entrou na sala e a porta atrás de si desapareceu.

Ele pôde ver uma espécie de sala de convívio/jogos, tinha um sofá e duas estantes em volta com livros, uma pilha de jogos de tabuleiro do lado de cada estante, e também tinha uma mesinha de centro feita de alguma madeira escura. Era a sala de que as casas tinham criado em conjunto, e da qual tanto ouvira Pansy e Blaise falar desde o retorno das aulas, mas desta vez o local tinha apenas vermelho e verde nas paredes, em vez das quatro habituais cores que lhe fora dito que tinha.

Draco se limitou a ficar no seu dormitório ou na sala comunal quando os seus amigos vinham para aqui. Ele ainda era alvo de muitos olhares tortos e cochichos, então achou melhor se manter afastado e não correr o risco de estragar o clima agradável que os seus colegas lutaram tanto para criar ao longo deste ano.

"Você está aí, Potter?"

"Boa noite, Malfoy." O abajur do lado do sofá se acendeu quando a voz de Harry foi projetada pela sala. Draco pulou de susto. "Desculpe pelo susto, eu gosto de entradas dramáticas." Ele sorriu e girou a varinha no ar acendendo a luminária grande no teto.

"Pelo amor de Merlin." Draco riu após o susto passar e andou até se sentar do lado de Harry. Ele pegou uma almofada e a colocou sobre o colo de forma confortável. "Boa noite, Potter." Ele o cumprimentou.

"Boa noite." Harry cumprimentou de volta, agora sem fazer Draco pular de susto. "Por que você cantou aquela música? E desde quando gosta de mim?"

"Hm, não tem muito mais que eu possa dizer..." Draco disse, cegamente brincando com uma linha solta da almofada. "Eu não cantei aquela música com esperança que você descobrisse que era sobre você, eu queria acreditar que você chegaria a essa conclusão, mas sabia que não iria acontecer. Mas no final você descobriu graças a Granger, e aqui estamos." Draco cruzou as mãos sobre a almofada para disfarçar o seu nervosismo. "Eu gosto mesmo de você, Potter." Sete anos, quase oito, desde que se conheciam e Potter nunca havia ouvido o seu primeiro nome sair na voz de Malfoy sem conter desdém ou irritação.

"Hermione é mais inteligente que eu, não posso fazer nada." Ele deu de ombros sorrindo pequeno. "Ron também sabia, ele descobriu hoje de manhã antes do baile, mas eu não fazia ideia que você gostava de mim ou que eu gostava de você também." Os olhos de Draco brilharam com o que Harry disse.

"Você gosta de mim?" A sua voz saiu baixa, como se se ele dissesse aquilo em voz alta as palavras se desfizessem no ar e tudo não passaria de mais um sonho seu. "Eu pensei que você me odiava."

"Eu odiei você pelos primeiros dois anos em que a gente se conheceu. Depois passei de ódio a não gostar de você por mais dois anos, e então eu comecei a entender mais o seu lado mesmo que ainda te achasse um idiota arrogante." Draco abaixou a cabeça envergonhado. "Depois eu comecei a notar mais em você e nos seus detalhes." Harry sobrepôs as mãos cruzadas de Malfoy com uma das suas e Draco então voltou a olhá-lo. "O seu sorriso quando está com Blaise e Pansy, que é completamente diferente de quando você está com o resto das pessoas; os seus olhos brilhando cada vez que sobe na vassoura ou que a gente está numa aula de poções, esta pequena mecha de cabelo que está sempre cruzando a sua testa." Harry tirou a mecha rebelde da testa do loiro e a colocou atrás da orelha dele. "Eu pensei que estava só reparando nessas coisas por causa de tudo o que estava acontecendo ultimamente, mas na verdade eu reparava nestas coisas por você. Por gostar de você."

"E Diggory? Você estava falando sobre gostar dele quando a gente se viu no corredor." Ele descruzou as mãos e brincando com os dedos de Potter sobre os seus com uma mão enquanto a outra continuava abrigada debaixo da do moreno.

"Eu pensei que gostava dele, mas, no fim, eu apenas estava negando o que sentia por você há muito tempo." Ele mordeu o lábio inferior e deu um sorriso com a memória de Draco cantando antes de continuar a falar. "E quando você cantou aquela música no baile e olhou em minha direção, eu tive certeza de que gostava de você. Só precisei que Hermione me desse uma luz." Potter se sentou mais para perto de Malfoy. "Eu e Cedric somos apenas amigos. Eu gosto de você, Draco."

Malfoy não sabia reagir a esse momento, ele imaginou tantas vezes como seria isso se tornar realidade, mas estar de facto acontecendo era algo que não tinha comparação às cenas criadas pela sua imaginação fértil. Só que desta vez não era mais imaginação e Harry realmente gostava dele de volta, e ele se sentia tão estranho... Uma mistura de medo, surpresa, felicidade e insegurança o envolviam.

Porém, todas essas dúvidas e medos foram desaparecendo à medida que o corpo de Harry Potter se aproximava do seu. Ele entrelaçou os seus dedos de forma a ter alguma certeza de que aquilo tudo era real e ele não iria acordar na sua cama em poucos minutos. O seu medo era de tudo isto não passar de uma brincadeira de muito mau gosto de Harry, a sua surpresa era de que aquilo realmente estava acontecendo porque ele podia sentir a respiração quente de Harry contra a sua, esta sua felicidade era quase insuportável de manter dentro de si pois, o que ele mais queria, a realidade diante de seus olhos azuis acinzentados o entusiasmava tanto que as suas inseguranças do que aconteceria dali para a frente desapareceram, mesmo que ele não soubesse se conseguiria manter a sua feição de falsa calma quando o seu coração parecia querer pular do seu peito.

"Se isto for uma piada eu juro para você que vou te azarar aqui mesmo e sair por aquela porta te deixando sozinho." Draco disse baixo, temendo elevar a voz e acabar com o momento, mesmo que o que ele tivesse dizendo soasse bastante como uma ameaça.

"Eu cumpro as minhas promessas, e prometo que não é uma piada. Agora, você pode me beijar de uma vez, Draco?" Harry perguntou começando a encurtar a distância entre eles. Os seus lábios roçavam e foram finalmente juntados de devida forma após essa sua súplica.

No momento em que os seus lábios se tocaram nos de Harry, todas as coisas que o mantinham de pé atrás se foram, deixando apenas a sensação dos seus lábios se tocando; dos seus dedos entrelaçados e um arrepio percorrendo a sua espinha.

Em nenhum dos cenários criados por Draco, Harry tinha os lábios tão bons. Ele imaginava que iria se viciar nos beijos do menino-de-ouro tamanha era a sua vontade de os ter contra os seus, mas ele não imaginou que seria tão ridiculamente bom. O encaixe dos seus lábios era como colocar a última peça do puzzle que você lutou tanto para montar e ver a obra final. A sua mente não se igualava à realidade de nenhuma forma — a não ser pelo facto de que Harry tem realmente o melhor beijo que ele poderia experimentar —.

Se isto foi tudo uma ilusão, eles não querem voltar para a vida real.

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