Verde e Vermelho

A CONVERSA

Draco limpou o rastro da lágrima solitária que chorara durante aquele momento e pegou em sua varinha. Ele se levantou, abotoando de volta o botão no paletó e agradecendo com um sorriso quase imperceptível para o seu «público» antes de descer do palco e voltar até os seus amigos.

Nesse caminho, ele viu Hermione e Harry conversando sobre algo que fez os olhos verdes do menino-de-ouro se arregalarem e Hermione sorrir convencida logo depois.

"Foi assim tão ruim?" Ele perguntou se sentando do lado de Blaise, e um alívio percorrer o seu corpo por não estar mais naquele pódio.

"Ruim? Cara, eu nem sabia que você cantava, quanto mais assim!" O italiano deu um tapinha nas costas de Draco que sorriu agradecido e envergonhado. "Você foi ótimo, e eu juro que se ele não saltar para cima de você depois disso, eu salto." Os três riram.

"Dispenso, mas muito obrigado." Ele disse, após as risadas cessarem, ainda sustentando o seu sorriso bonito.

"Potter está vindo aí, finge que que o Draco é engraçado." Pansy disse para Blaise, e os dois começaram a rir, de forma claramente falsa, quando Harry se aproximou deles o suficiente para os ouvir. "Ah, Draco, você é tão engraçado." Ela pousou a mão sobre a barriga fingindo rir ainda mais.

"Oh, por favor." O loiro revirou os olhos.

"Estou interrompendo?" Potter perguntou parado na frente de Malfoy.

"Não, mas o Draco é super engraçado, sabia?" Blaise disse empurrando Draco para se levantar. Harry ergueu uma sobrancelha em dúvida pelo que estava acontecendo à sua frente e Draco se levantou, olhou irritado para o amigo e voltou a focar o olhar sobre Potter.

"Não está. E ignore estes dois, meus amigos são apenas dois idiotas sem vida." Eles pararam de fingir uma risada.

Pansy colocou a mão sobre o coração formando uma feição de falsa mágoa. Blaise deu de ombros e murmurou algo como «da próxima vez eu vou deixar ele pensar que você não é engraçado, seu mal agradecido».

"Posso falar com você lá fora?" Potter perguntou, Draco assentiu e se levantou seguindo-o até fora do Grande Salão.

"Do que precisa? Não está se divertindo? " Draco abriu um sorriso ladino.

"O quê? Não é isso!" Draco desfez o sorriso colocando uma feição séria. "Hermione estava falando comigo e-"

"O que ela disse?" Draco foi rápido a perguntar, um pouco exasperado.

"A música que você cantou-" Harry foi interrompido de novo.

"O que quer que ela tenha dito, não acredite." Draco trocou o peso de seu corpo na outra perna um pouco ansioso por onde a conversa estava indo.

"Então a música não é sobre mim?" Potter o encarou curioso.

De repente, o chão desgastado do castelo era bastante interessante aos olhos de Malfoy. "Não era para você ter descoberto, pelo menos não dessa forma." Suspirou. "Queria ter sido eu que eventualmente contaria a você. Merda, Malfoy pensou. Ele esfregou os olhos com uma das mãos e depois as colocou nos bolsos para esconder que elas estavam começando a tremer devido ao seu nervosismo. "Você está com Diggory e isso nem deveria ter acontecido."

"Eu não estou com Cedric, nós somos só amigos." Os olhos de Draco se fixaram nos dele assim que essas palavras saíram da sua boca. "E, para falar a verdade, eu gostei da música. Você canta bem e toca bem também, não sabia que sequer o fazia." Potter deu um simples sorriso que, do ponto de vista de Malfoy, já havia sido uma grande vitória.

"Você não sabe muitas coisas sobre mim ainda, Potter." Draco não pode evitar pensar no quão bonito Harry ficava naquela posição, com o ombro encostado na parede do seu lado e o olhando.

"Eu gostaria de saber." Harry sorriu de lado enquanto levantava as sobrancelhas.

Isto estava indo por um caminho totalmente diferente que Draco não estava esperando por.

"Eu gostaria de te contar." Draco deu um passo cauteloso em frente. Harry não se moveu. "Eu realmente gosto de você, Potter." Foi um grande alívio poder dizer essas palavras, que mesmo depois de se ter exposto de tal forma durante aquele pequeno show que dera, carregavam consigo um significado e importância que ele não conseguia descrever.

"Romântico." Harry se inclinou para a frente. "Eu gosto de pessoas românticas." Draco sorriu envergonhado, Harry sorriu orgulhoso por ter deixado Malfoy daquela forma. "Mas você ainda me deve uma dança." Harry disse, pousando a mão no peito de Draco, sobre o coração. Coração esse que ele conseguia sentir batendo com força contra a palma da sua mão.

Draco jura que o seu coração bateu mais forte quando a mão de Potter pousou sobre o seu peito, coberto pelo tecido fino da camisa social preta.

"Devo?"

"«Num mundo perfeito, eu dançaria com você esta noite.»" Harry citou a frase que o loiro disse mais cedo. "O mundo não é perfeito e está mais do que longe de ser, mas eu ainda quero essa dança se você também quiser." Harry tirou a mão do peito dele e a estendeu. "Mas se pegar na minha mão, tem de me prometer não se apaixonar." Ele brincou.

"Eu nunca fui bom cumprindo promessas." Draco disse erguendo os ombros por alguns segundos após tirar sua mão do bolso da calça social preta e a chocar com a de Harry, ambos que ainda sustentavam um sorriso pequeno. "Você não vai querer falar sobre o facto de eu gostar de você?" Malfoy perguntou enquanto ainda estavam parados, agora segurando a mão um do outro, ele analisava o encaixe das suas mãos com atenção.

"Mais tarde, Malfoy, não se preocupe." Harry se desencostou da parede e começou a andar em direção ao Grande Salão.

"Espera, a gente vai entrar assim? De mãos dadas?" Draco perguntou nervoso, porém ainda sorrindo contente. Ele não esperava que a noite fosse decorrer desta forma.

Ele esperava algo mais como: aperitivos e cocktails não-alcoólicos com os seus amigos na mesa mais afastada de todos que encontrasse; não que sua mão se juntasse com a de Harry. Ele não pode reclamar, embora.

"Está com vergonha, Malfoy?"

"Você queria, Potter."

Quando eles entraram, os olhares de todos fizeram um caminho curto desde a figura dos dois caminhando lado a lado até às suas mãos juntas, mas Harry ignorou todos esses olhares enquanto caminhava para o centro do local do lado de Malfoy — que tinha vestido a sua armadura de confiança assim que entraram novamente naquele ambiente.