O BAILE

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Depois de tantos meses refazendo o último ano em Hogwarts, Draco não conseguia se desfazer do sentimento efervescente que Harry e todas as suas estúpidas qualidades faziam preencher o seu peito. Harry também não colaborava para que isso acontecesse porque, sempre que via Draco, ele lhe dava atenção completa por aqueles segundos. Segundos esses que Draco aproveitava para provocar Harry de volta e para sentir, mais uma vez, o seu peito inflar pelo olhar do menino-de-ouro quase o queimar pelas provocações.

Draco tinha medo que se confessasse os seus sentimentos amorosos (e nada odiosos, ao contrário do que se poderia pensar), iria perder a única atenção que sabia que Potter lhe dava, então valia a pena ser motivo da irritação de Potter desde que ele não o ignorasse. O que para Harry era um pouco como uma maldição, já que cada vez que via o garoto da casa verde e prata, sentia o seu rosto queimar e, graças ao sorriso presunçoso que Draco sempre lhe dava, sentia a necessidade de também o provocar ou responder de volta quando Draco iniciava alguma provocação.

Para Harry, estar de volta a Hogwarts era até bom porque estava com os seus dois melhores amigos e muitos outros dos quais ele guardava muito carinho, mas ter Malfoy sempre no seu pé chegava a acabar com a paciência do garoto. Como da vez que os Gryffindor e os Slytherin iam jogar um contra o outro e Malfoy foi diretamente até Harry apenas para lhe desejar um falso «Boa sorte.» e, quando eles estavam correndo na vassoura para pegar o pomo dourado, Malfoy pegou em uma das mãos de Harry e a manteve junto da sua para que Potter tivesse desvantagem em capturar o pomo dourado. Isso irritou mais Harry do que as provocações comuns.

Dos olhos acinzentados, o que o irritou mais foi a recente relação próxima de Harry com Cedric. O facto de eles estarem sempre juntos e a risada alta de Harry ser sempre o que preenchia os seus ouvidos quando ele estava do lado de Diggory, e o seu sorriso inundar a sua visão quando os olhava de longe nas visitas a Hogsmeade.

Tantas coisas que fizeram Draco gostar ainda mais de Harry e tantas coisas que fizeram o rosto de Harry ficar cada vez mais rubro. No meio de tantas essas coisas, fora anunciado o Baile de Primavera. Para o qual todos estão ansiosos.

"Eu não sei, Hermione, talvez eu goste dele. Quer dizer, seria assim tão ruim?" Harry perguntou à amiga, que andava junto dele e de Rony.

"Não seria ruim, Harry, ele é uma boa pessoa." Harry assentiu, e no momento, Draco Malfoy passou por eles.

"Apaixonado, Potter?" O sorriso provocativo nunca abandonava os lábios finos quando ele interagia com Potter.

"Como se você se importasse com os meus sentimentos." Harry se virou, começando a andar de costas enquanto falava com Malfoy, para poder encará-lo.

"Vai embora, Malfoy." Rony disse fazendo uma careta.

"Ninguém falou com você, Wesley." A forma como Malfoy pronunciava o nome de família de Ron sempre irritou Harry pelo tamanho desdém que a sua voz carregava. "Potter, não me diga que me ama? Estava esperando você se declarar faz tanto tempo! " Draco sorriu ironicamente e ergueu uma sobrancelha.

"Oh, sim. Draco Malfoy e Harry Potter." Potter ironiza, e quando Draco pegou na varinha, a mexendo no ar formando um coração rosa com os nomes dos dois dentro, Harry ergueu uma sobrancelha e quase sorria se o coração não se tivesse transformado em uma caveira preta e os nomes deles tivessem se desfeito como uma névoa preta.

"Para você, amor." Malfoy mandou um beijo e saiu, voltando a andar para o seu destino original, sem dar tempo para Potter responder.

"Cara, a obsessão dele por você aumenta a cada dia." Rony fez a sua típica expressão de «não aguento mais, me tire daqui» e Hermione e Harry riram.

"Eu gosto de Cedric. Eu e Draco Malfoy nunca seremos nada mais do que rivais." Harry sorriu pequeno ao avistar Cedric no fundo do corredor, ele deu um adeus com a mão aos amigos e foi até ele.

"Quando ele se aperceber que essa rivalidade toda não passa de amor, vai ser tarde demais." Hermione disse.

"Sim." Ron concordou e depois arregalou os olhos para a namorada. "Espera, o quê? Harry e Malfoy?" Rony perguntou descrente do que acabara de ouvir, Hermione sorriu com a reação dele e lhe deu um beijo na bochecha.

O Grande Salão estava lindo, as decorações realmente deixaram o lugar mais vivo e todos os alunos de terno ou vestido deixavam tudo com um ambiente muito bom. Hermione vestia o seu vestido azul longo e rodado com folhos na saia; Ron um terno que a sua mãe, Molly Weasley, enviara, e Harry um terno simples preto com uma gravata verde escura - quase preto - que Molly também lhe mandou.

Draco quase suspirou ao ver Potter daquele jeito. Potter estava tão descontraído e relaxado, e eram raras as vezes que ele tinha estado assim ao longo dos anos. Malfoy trajava um terno todo preto, desde o casaco, gravata, camisa, sapatos e calça. Ele usava também dois anéis, um de uma serpente com olhos vermelhos e outro simples com uma escritura por dentro.

Serpens, era o que dizia. Serpente em latim.

"Você vai mesmo dar uma de romântico devoto e subir naquele palco, tocar piano e cantar para um cara que não te ama de volta?" Pansy perguntou do lado do loiro. Ela segurava com um copo de plástico verde na mão enquanto estes observavam a interação risonha entre Potter e Diggory a alguns metros deles.

"Quando você coloca as coisas dessa forma, eu começo a repensar essa ideia maluca." Draco disse desviando a sua atenção para a amiga.

"Só estou comentando. Boa sorte, menino-de-prata." Draco revirou os olhos para o apelido e  caminhou até ao palco depois de um longo suspiro, exibindo a sua confiança intocável.

Mesmo que sentisse como se fosse desmaiar.

"Hm, desculpem a interrupção. Olá a todos." Draco disse com a sua voz sobre o feitiço Sonorus, de forma a que seja possível o ouvir falar.  "O meu nome é Draco Malfoy, como todos sabem." Do cimo do palco ele pôde ver Harry revirar os olhos, ainda que sustentando um sorriso pequeno. "E eu vou cantar para vocês uma música que escrevi sobre..." Não era novidade que Draco gostava de homens - não depois do seu término com Astoria -, mas estar disposto a demonstrar uma parte vulnerável 'pra caralho de si mesmo para todos naquela escola depois do que fizera, fê-lo ver que ainda estava dividido entre os pensamentos de «é uma ideia estúpida» ou «não é uma ideia estúpida». "Sobre um garoto pelo qual eu sou apaixonado desde que o vi e ele feriu o meu orgulho." Draco disse a última parte com certa amargura. "Mas ainda assim, ele conseguiu fazer o meu coração bater mais rápido quando o via do outro lado do salão." Ele apontou do lugar onde a mesa Slytherin ficava para onde a de Gryffindor tinha lugar. Alguns murmúrios começaram a ecoar pelo local do baile. "Espero que gostem. Eu escrevi para você." Graças à multidão de pessoas, quando Draco Malfoy olhou nos olhos de Harry Potter dizendo isso, não foi perceptível exatamente a quem ele se dirigia.

Draco desabotoou o botão do paletó e sentou no banco à frente do piano, colocou as mãos sobre as teclas frias brancas e pretas do instrumento, e a sua varinha estava posicionada na frente do seu rosto para ajudar a amplificar a sua voz pelo cômodo extenso.

"Num mundo perfeito, eu dançaria com você esta noite." Ele disse uma última vez antes de começar a tocar.

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