Foi com muita dor de cabeça que Charlotte saiu do avião recém-pousado em Bangkok. Os olhos mal se abriam, estava cansada e a ausência dos óculos em sua face fazia com que a luz lhe incomodasse mais do que o normal. Apenas duas horas e quarenta minutos de viagem, mas a pressão lhe deixava desnorteada.
Caminhando para pegar a mala, atendeu o telefone e ouviu Heidi dizer que estavam lhe esperando. Apenas foi para a saída e procurou não ficar alarmada com tanta gente, sorrindo pequeno ao avistar as amigas ali.
Durante o voo, não pôde evitar recordar todos os acontecimentos da noite anterior e da madrugada. Cada detalhe ela tentou repassar, talvez duas horas tivessem sido o suficiente. Ainda se sentia mal.
Aceitou de bom grado o abraço das amigas, Nudee saiu arrastando sua mala enquanto Heidi falava sobre o aniversário da prima de Tina. E por mais que isso possa ser irritante para alguns, para Charlotte era muito melhor do que poder ficar pensando ainda mais no ocorrido. Sendo assim engatou na conversa durante todo o caminho para o apartamento em Bangkok, onde morava desde a metade da sua graduação, rindo das piadas que elas faziam. Ao chegar, agradeceu a todas e deixou um beijo no rosto de cada uma, indo para dentro do prédio enquanto resgatava a chave de dentro da bolsa.
O apartamento não era tão grande, mas a tailandesa conseguia se manter bem com o salário. Quando o comprara ainda tinha armários na cozinha e no banheiro, e por sorte o antigo proprietário não cobrara a mais por eles. Sendo assim não precisou gastar tanto dinheiro com esses cômodos no início, e o que ia faltando ela ia repondo aos poucos. Agora ela dispunha de um cantinho próprio e gostava muito dele, era a sua cara e lhe trazia conforto.
Largando a mala no quarto, despiu-se e foi fazer algo que sentia merecer muito: relaxar na banheira. Sim, ela tinha uma. Mandara instalar, mesmo que não fosse tão grande, porque sabia que em dias como aquele, gostaria de ficar dentro d'água apenas pensando. Colocou produtos dentro do objeto que possuía uma cor puxado para o creme, mas nada muito forte, adentrando no mesmo e se acomodando lá dentro.
Imediatamente lembrou-se do pedido de Engfa e abriu o aplicativo de mensagens, procurando por seu contato. E encontrou logo, pelo nome que lhe fez rir fraco.
| Charlotte [12:10 AM]
| sério?
| "musa do café"?
| você é hilária, engfa
| apesar de que faria facilmente você de minha musa...
| cheguei, okay?
| espero que esteja descansando.
| mande notícias e coma bem.
Sem aguardar uma resposta, justamente por esperar que ela estivesse dormindo, deixou o aparelho num suporte do lado de fora da banheira, ficando com o corpo quase todo submerso. Apenas sua cabeça, a partir da altura do pescoço, ficava exposta. Distraída, encarava um ponto qualquer entre as unidas gotas d'água e pensava bem em como seria sua vida agora que não tinha mais o velho contato com os parentes.
Ser posta para fora da casa dos pais não lhe impactou porque não tinha para onde ir; ela tinha. Tinha onde ficar em Bangkok, mesmo que não fosse no próprio apartamento. Mas foi um golpe do peito por tudo o que representava: aquele gesto foi como chutá-la para fora da família. Como se põe para fora um gato de rua que invadiu sua residência, ou um cachorro; como se ela nunca fosse, de fato, parte disso.
A reação rápida do pai lhe deixava se perguntando: por que ele agiu tão frio e rápido, de certa forma? Por que era tão insuportável que sua filha fosse diferente de si num aspecto como a sexualidade? Será que em algum momento ele já considerara aquilo, ao ponto de estabelecer o que faria numa situação como aquela? Era confuso, porque Charlotte não o viu hesitar. Não o viu considerar nada.

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Coffee Time
أدب الهواةQuando precisa voltar para Bangkok mais cedo, Charlotte acaba conhecendo Engfa, a funcionária de um café 24h no aeroporto que lhe ajuda num momento difícil. autora original: @Kordeisnglrty