A Mansão de Espelhos (Parte II)

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 Anita, por ser a mais velha, foi quem leu a lenda - Os Demônios do Espelho -, em sussurros. Jamesson e Tonico estavam em camas opostas e ouviam com atenção, cobertos por um edredom.

Há algumas décadas a família Cosini deixou a cidade de Bordéus, na França, e passou a residir na Ilha de Akaku’s, na cidade de Malleus, em Poener. Ilha esta que ficava além da montanha Blue Moon e nas redondezas da Floresta do Avesso.

Ninguém que residia em Malleus havia sequer visto um membro da família, eles nem ao menos iam à cidade. Nunca tinham saído de suas redondezas. E, com frequência, as pessoas referiam-se a eles como os estranhos de Akaku’s. O apelido, no entanto, não era cem por cento falso, visto que a família Cosini tinha costumes bem diferentes das demais; usavam longas capas negras encapuzadas e jamais abriam as janelas durante o dia. Tinham medo da luz do Sol, preferiam o prateado do luar. Tal comportamento tinha uma explicação: os Cosini mexiam com as forças ocultas.

Certo dia, quando a Lua cheia se fazia presente sobre a ilha, o corpulento Sr. Edgar Cosini, um homem ganancioso e extremamente maligno, decidiu fazer um ritual para se entregar de vez àquele que denominava ser seu mestre, mas em troca pediu riqueza. Queria que sua família fosse a mais poderosa de toda a história de Malleus.  

Fora para os fundos da pequena cabana onde morava e fizera um círculo de areia. Entretanto, para completar o ritual, o Cosini teria de fazer um sacrifício, e este seria entregar também a alma de seus dois filhos - o pequeno Flavie e a pequena Flavien, gêmeos. Então pôs em um cálice de ouro as gotas do sangue de seus proles, que havia colhido enquanto dormiam. Sua esposa, a Sra. Beatrix Cosini, uma magra e alta senhora, cujos olhos azuis brilhavam mais que a Lua e cujos cabelos dourados radiavam mais que o cálice de ouro, também se juntou a ele. Os dois uniram seus sangues com os de Flavie e Flavien, e sobre aquela noite, trinta e um de outubro, eles se entregaram de corpo e alma ao mestre, todavia pagariam um preço muito alto por isso, num futuro próximo ou distante.  

Um ano havia se passado desde aquela madrugada maligna. Os Cosini haviam alcançado um patrimônio incalculável; O Sr. Edgar, sempre escolhia um dia da semana para assaltar bancos, à noite, junto à sua esposa. Faziam também trabalhos ilegais, como venda de drogas e armas de fogo. Já era possível encontrar as notícias dos misteriosos assaltos a bancos em Malleus pelos jornais locais. Foram doze meses de pavor na cidade, ano de muito caos. Os Malleences tinham repulsa de trafegar à noite pelas ruas da cidade.

A Ilha de Akaku’s, que antes aparentava estar abandonada, havia ganhado uma coloração mais viva. A Floresta do Avesso que envolvia a ilha estava demasiadamente verde, como nunca estivera. No lugar da desprezível cabana em que residiam, encontrava-se uma enorme mansão. Ela tinha exatos oito andares com largos corredores, escadas em formato de espiral, e muitas salas gigantescas. O interior da mansão tinha sido construído inteiramente por espelhos - desde seu teto até o corrimão da escada. Do lado de fora, um jardim muito extenso a rodeava, continha muitas flores e árvores, e em seu centro um enorme chafariz, em forma de dragão, jorrava água cristalizada. Era uma casa deslumbrante que a família Cosini orgulhava-se por ter.

Os anos se passavam de maneira ágil, e com eles a fortuna só aumentava. A notícia sobre a riqueza misteriosa da família espalhou-se por toda Malleus e “Cosini” passou a ser o segundo nome de toda criança que nascesse na cidade; isso ocorreu por terem se tornado a família mais poderosa da região. Após todos os rumores, houve até aqueles que ousaram chegar mais perto da mansão, entretanto, os enormes cachorros os enxotaram de uma só vez.

Mas todo este dinheiro trouxe um enorme problema: o Sr. Edgar estava completamente enlouquecido, assim como sua esposa. Eles sentavam-se no meio do enorme saguão e atiravam todas as cédulas de Gumus de Ouro para o ar. E, uma vez ou outra, gritavam “RICOS! ESTAMOS RICOS!” entre gargalhos e jogavam-se ao chão. Os gêmeos se assustavam com aquela cena, toda vez que seus pais faziam isso os olhos deles pareciam sair do lugar e suas expressões ficavam sinistras. 

O ritual no qual os Cosini entregaram suas almas, e as dos seus dois filhos, consistia em um sacrifício maior ainda, pois para alcançarem tamanha grandeza prometeram que no décimo quinto aniversário dos gêmeos eles os sacrificariam. E isto não tardara a acontecer. Flavie e Flavien, já haviam completado quinze anos, porém, naquela noite de Lua cheia, o Sr. Edgar e a Sra. Beatrix recusaram-se a sacrificar seus filhos. Para eles nenhum mal viria de acontecer. Eram ricos e com os ricos ninguém podia. Foi assim mais dois anos se passaram, e quando tudo parecia indestrutível, quando a família Cosini já havia construído um legado por toda Malleus, eis que um impasse aconteceu...

A Mansão de Espelhos (Conto).Onde histórias criam vida. Descubra agora