A Mansão de Espelhos (Parte VII)

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Tonico, agora com sua aparência normal, disparou porta afora da mansão - a faca na mão e sangue por todo o corpo. Conturbado, o menino incidiu sobre o jardim e a faca cravou-se no morto gramado.   

– TONICOOO! – desesperou-se a Sra. Carmen. As lágrimas brotavam de suas retinas. Logo atrás estavam os policiais, que haviam chegado de helicópteros, e o Sr. Augusto.

O menino respirava arrastado, sobre os braços de sua mãe ele apagou. Demasiado fraco.

– Vão para o barco! – gritou o comandante, o Sr. Daimon Bellucci, ordenando a família Goldfarb. – Guardas, por aqui. Vamos entrar na casa – berrou autoritário. Segundos depois, quando os policiais estavam entrando na Mansão de Espelhos, algo muito sinistro aconteceu.

O vento, frio e intenso, aumentou consideravelmente. As janelas da mansão batiam-se de forma gradual, os vidros quebraram-se numa explosão arrebatadora, e fumaças de vultos pretos rodeavam o casarão.  As lanternas dos policiais apagaram-se e o chão da Ilha de Akaku’s começou a tremer. Barulhos eram ouvidos, tudo dentro da casa estava se quebrando e o uivo, acima da montanha, amedrontou-os.

Os policiais correram e muito ligeiros entraram em seus helicópteros, e lá de cima presenciaram a Mansão de Espelhos se desintegrar em pequenas penas negras.

 Apavoraram-se.

A Sra. Carmen Goldfarb ficou incrédula quando, através de um alto-falante, os policiais anunciaram que as duas crianças que se achavam dentro da mansão estavam mortas. Tonico, único sobrevivente, ficou enrolado em um cobertor surrado, tremelicando. Agora, acordado.

O barco chacoalhava de um lado para o outro, mansamente. Eles olharam em volta: estavam sós e distanciavam-se da Ilha de Akaku’s, agora completamente destruída. Diversas árvores os rodeavam, o vento faziam-nas balançar. O barulho do remo na água deixava a Sra. Carmen ainda mais alerta. Vibrante. E a chuva começou a jorrar nuvem abaixo. 

– Auuuuuuuuh! – uivaram detrás das montanhas. O uivo ecoou e alarmou-os. Os corações aceleraram de forma devastadora. Olhavam para todos os lados. Um novo uivo foi audível, porém, desta vez, mais alto e penetrante, como se copos de vidros tivessem se quebrando.

Algo correu dentre as árvores. Eles viraram as cabeças.

O vento aumentou novamente; soprava e zumbia em seus ouvidos. A corrente sanguínea da Sra. Carmen agitou-se.

– O que foi isso, Augusto... O que foi isso?! – bramou com preocupação. A voz tão vacilante quanto a água do mar. Gélida, ela apertou com mais força o primogênito.

O Sr. Goldfarb estava mais branco que uma vela, não conseguia responder.

Tonico agora batia o queixo, o barulho dos dentes trincando-se era ensurdecedor, pareciam estar sendo triturados. Agarrou com precisão o cobertor com suas mãozinhas pálidas e começou a balançar-se. Abanava a cabeça de um lado para o outro, fazendo o mesmo movimento que o barco. Seus olhos reviraram-se. Ele sorriu um riso esganiçado e, em seguida, gemeu tão oscilante quanto o uivo que acabaram de ouvir.

A Lua cheia irradiou um clarão ainda mais prateado sobre o pequeno barco que navegava rumo à terra firme... 

A Mansão de Espelhos (Conto).Onde histórias criam vida. Descubra agora