28 de setembroFydor nunca foi um homem sorridente, pelo contrário, era um homem frio e inexpressivo.
Seus vizinhos diziam que ele era silencioso e que não lhes incomodava. Seus alunos diziam que ele era um ótimo professor, apesar de ser um pouco severo. Já Agatha Christie -sua única amiga- dizia que era um homem recluso.¹
Mas todos diziam que ele parecia um homem infeliz
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Eram 8 horas da manhã e Fydor lutava para se levantar; estava frio, e parecia que sua cama o puxava.
Depois de longos minutos simplesmente fitando a janela, tomou coragem e jogou sua coberta para longe, se arrependendo logo em seguida ao sentir o gélido vento que vinha de fora. Não só o vento como também a chuva batia em seu rosto, como um aviso de que não deveria sair de casa.
"Pelo menos está chovendo, é a desculpa perfeita para eu não ir trabalhar." E deitou-se novamente.
Claro que não fez isso por muito tempo, afinal ganhava por hora ensinando e não deitado encarando seu teto amarelo (um dia já foi branco, mas começou a amarelar com o tempo).
Foi em direção ao banheiro e se olhou no espelho, era o mesmo de sempre, o mesmo homem cinza e tedioso.
Passou um pente em seu cabelo simplesmente para disfarçar o fato de que acabara de acordar; eram quase 9 horas e deveria estar fora de casa às 10.
Foi à sua cozinha, que já nem poderia ser considerada só sua; dava-se para ouvir os vizinhos brigando caso aproximasse o ouvido nas paredes, tirando completa sua privacidade.²
Olhou para o lado de seus livros e viu Dimitri, Alyosha e Ivan³, seus ratos de estimação, lhe encarando com seus pequenos olhos. Ele olhou ao pequeno pote onde pusera comida aos três no dia anterior; estava vazio.
Anotou mentalmente que deveria comprar grãos antes do almoço, quando estivesse voltando da casa de seus alunos.
Dirigiu-se à porta, pegando o primeiro casaco que avistou, e pôs os pés para fora de seu apartamento, ouvindo a gritaria vinda do apartamento 109, ao seu lado.
[...]
Já era hora do almoço, e Dostoiyevsk já não aguentava mais. Não é como se não gostasse de ensinar, mas aquilo se tornou simplesmente sua obrigação diária, então era algo de certa forma estressante.
Acabou de sair da casa de um de seus alunos, um dos únicos que realmente parecia tentar entender, apesar de sua doença o atrapalhar.
As pessoas passavam de um lado ao outro, uns apressados, outros simplesmente aproveitando que o frio de mais cedo diminuiu.
Algumas crianças também passavam por ali, algumas até paravam para observar Fydor andando com sua cara fechada e fúnebre, mas voltavam à sua rota inicial sem aviso nenhum.O fato era que sua cidade, assim como ele, era reclusa e cinzenta.
Não importava o que lhe dissessem, Dostoevsky achava sua cidade tediosa e nebulosa, nem sequer as crianças pareciam alegres por ali. Sua mãe sempre lhe dissera que São Petesburgo era o melhor lugar para alguém como eles; pessoas pobres ou de classe média, quase baixa. Nunca duvidara dos ensinamentos dela, mas isso não faria a cidade ser minimamente cativante.
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∆°•°Freedom and Solitude°•°∆
FanficNikolai Gogol era um homem peculiar, seu único objetivo era fazer as pessoas felizes pelo menos uma vez -ele era ótimo nesse trabalho. Já Fyodor Dostoevsky era o completo oposto, um professor particular e violinista fracassado -ou era nisso que pass...