II - Estar em casa

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"Porque eu te amo,

E não consigo me ver,

Sem ser o seu amor por anos."

Porque Eu Te Amo - AnaVitória



- Graças a Deus! – Ela exclamou aliviada – Você acordou!

Marino parecia debilitado. Era nítido que o mínimo esforço, exigia muito dele naquelas circunstâncias.

- A senhora precisa ir! – O médico alertou – Ele precisa descansar. Apesar das orientações médicas, Marino não quis soltar a mão dela por nada, de modo que o médico, vencido pelo cansaço, pediu que providenciassem uma cadeira, para que Lucinda pudesse ao menos sentar-se ao lado do leito:

- Nem acredito que você tá aqui – Ele sussurrou num fiapo de voz - será que é um delírio meu? :

- Shiiiii – Ela advertiu, levando um dos dedos aos lábios dele- Não fala. Você não pode fazer esforço. Concentre-se em se recuperar. Depois nós conversamos – Sorriu para tranquilizá-lo:

- Mas você me perdoa? Me perdoa por ter mentido olhando em seus olhos?:

- Marino, a gente vai sentar e conversar depois – Ela repetiu – Você não está em condições de discutir nada:

- Bom – Ele respirou fundo, puxando o ar – Se você não quer falar, então eu falo:

- Marino.... – Ela advertiu:

- Por favor, me deixa falar. Eu preciso falar, Lucinda. – Vendo que ele não desistiria, ela cedeu - Eu nunca acreditei, mas de fato, quando a morte nos visita tão de perto; a nossa vida passa diante dos nossos olhos. Quando aquele tiro me atingiu, eu pensei que não veria o meu filho crescer; pensei em todos os meus erros. Em todas as vezes em que a sede pelo poder e a vaidade ditaram as minhas ações. E claro, pensei em você. Pensei muito em você. O seu sorriso foi a última imagem da qual me lembro, antes de cair na escuridão completa. - Lucinda, evidentemente, já chorava sem parar. – Eu quero que você saiba, que eu vou entender se você não me perdoar. Vai doer. Mas eu vou entender! Porque eu quero que você seja feliz! Mesmo que não seja comigo. Mas eu preciso dizer: Eu te amo! Antes de você, eu nem sabia o que era amar, Lucinda. E sinceramente? Acho que... – Ele tomou fôlego mais uma vez – vou te amar pra sempre. Eu posso ter mentido sobre muitas coisas, mas eu nunca, nunca menti sobre o que sinto por você. Sobre esse sentimento intenso e desesperador que preenche meu peito. Desesperador, porque quando eu me dei conta do que estava acontecendo, eu não soube como lidar com ele. Eu tentei me afastar, você sabe. Mas eu falhei, Lucinda. Falhei, por medo de perdê-la. Mesmo que no fundo, eu soubesse que uma mentira destruiria tudo que nós construímos. Eu errei. E tô pagando o preço. Que ter perdido você para sempre.

Os olhos da mulher brilhavam pelas lágrimas vertidas, mas ela conseguiu dizer:

- Sabe, Marino, quando eu descobri a mentira, eu perdi o chão. Eu me recriminei por não ouvir a minha intuição. Sim, porque a minha intuição gritava que você estava mentindo pra mim. Ela gritou quando a tia Angelina falou da marca de nascença; gritou quando eu o peguei visitando o Danielzinho. Ela gritou. Mas eu decidi ignorá-la. Naquele momento, eu não queria pensar sobre isso. Eu queria ser amada. Acolhida. Quando eu finalmente dei um basta nos dias de horror que vivi no passado, você me disse que a minha vida estava recomeçando. E que eu seria feliz com outra pessoa e de repente, você era a pessoa. E de repente, eu tinha um amor tranquilo. E de repente, eu não queria perdê-lo. Quando a verdade chegou, doeu. Céus! Como doeu. Eu estaria mentindo se dissesse que eu não senti raiva de você. E acho que já atingimos nossa cota de mentiras por aqui. Mas quando a raiva passou, veio a saudade. Só que ela estava acompanhada pelo orgulho. E depois, veio o medo. O medo, de que a minha última lembrança de você, fosse aquela discussão horrorosa que tivemos. Eu acho que nem preciso dizer que você errou. Errou feio. Você não confiou em mim. Como uma relação pode sobreviver sem confiança? – Nesse momento, Marino suspirou derrotado. Ela tinha razão. Ele havia quebrado a confiança dela e não havia mais conserto. – Eu me senti traída e desrespeitada. Só que a possibilidade de não tê-lo nunca mais, fez tudo isso, ficar pequeno. É por isso, que eu quero te dizer, que quanto você se recuperar, você vai me contar tudo. Não importa o que seja. Eu sei que eu disse que não queria saber do passado; mas agora, eu acho que eu mereço. Eu acho que nós merecemos. Pois só assim, podemos recomeçar de verdade.

Recomeçar. Ele assimilou a palavra. Isso significava que...

- Recomeçar? – Ele perguntou incerto – Isso quer dizer que...:

- Quer dizer que eu perdoo você! - Ela sorriu e aproximou o nariz do dele - Mas em troca, quero sua absoluta sinceridade sobre o passado. Por mais doloroso e errado que seja! Porque eu quero amar todas as suas versões.

Naquele momento, um peso pareceu abandonar os ombros do homem. Mesmo que Lucinda ainda não soubesse tudo, agora ele sentia-se livre. E pronto para dizer à ela tudo que o sufocava:

- Eu te amo, Lucinda! – Ele sussurrou, tão perto dela, que pode sentir o cheiro que vinha dos seus cabelos:

- Eu também amo você, delegado! – Ela brincou, antes de selar aquele momento com um beijo que tinha gosto de estar em casa outra vez.

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One Shots LurinoOnde histórias criam vida. Descubra agora