XVII- Presságio

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Um ano havia se passado desde o atentado. O que aconteceu com Lucinda só poderia ser definido como milagre. Não havia outra palavra possível. Mas agora a saúde da mulher estava completamente reestabelecida.
- Então, o lobo soprou, soprou, soprou até se cansar, mas não conseguiu derrubar a casinha de tijolos -  Lucinda lia uma história para Danielzinho, enquanto o pai do menino tomava um banho. Graça havia deixado a criança sob os cuidados do pai e da madrasta naquela semana, pois havia ido à capital do estado para participar de um evento relacionado à moda.
Cristian estava passando o fim de semana na casa do pai. Naquela noite, apenas Lucinda, Marino e Danielzinho estavam em casa.
Lucinda fazia um carinho nos cachinhos da criança quando Marino apareceu na porta do quarto. Ele não pode deixar de sorrir:
- Ele tá quase dormindo – sussurrou aproximando-se dela - Mas também, com um carinho gostoso desse, eu também dormiria! – Brincou, e em seguida deu um selinho nos lábios da mulher.

Quando o bebê finalmente dormiu, o casal deixou o quarto e foi até a sala. Marino sentou-se  numa poltrona que havia no ambiente e Lucinda acomodou -se no colo dele.
O trágico acontecimento do passado mudou os dois para sempre. Como casal, eles estavam ainda mais unidos; individualmente, tinham aprendido a dar mais valor aos pequenos momentos.
Ali, com Lucinda entre seus braços, com a letra de “Dia Branco “ saindo baixinha da caixinha de som portátil, Marino sentia-se grato. Grato e completo:

- Te amo – Disse baixinho:
- Te amo também, Marino – Lucinda sorriu -  Você se lembra?- Ela perguntou, e ele não precisava de maiores explicações para saber a que ela estava se referindo:

- É claro que me lembro. Aquele foi o pior dia da minha vida – Ele respirou fundo – Foi como perder o chão debaixo dos meus pés. Como viver repetidamente um filme em preto e branco  - Olhou para ela – Mas quando você acordou... Ah, quando você acordou, foi como se a luz estivesse de volta. E de fato estava.

- Sabe, amor eu não quero que a data fique marcada por algo ruim. E é por isso, que hoje, um ano depois, eu tenho uma notícia pra você:

- Notícia? Que notícia?:

- Eu acho que nós vamos precisar nos mudar daqui:

- Mudar? Uai, por que?:
- É que eu acho que essa casa vai ficar pequena. Imagina, eu você, Cris, Lili, Danielzinho e nosso bebê morando aqui? – Quando terminou de falar, Lucinda percebeu a compreensão atingir o marido:
- Espera... – Ele parou. Olhos úmidos e sorriso no rosto – Que que cê falou? Você disse... Nosso bebê? – Perguntou para confirmar. Lucinda balançou a cabeça afirmativamente, o riso misturado ao choro – Meu Deus, eu vou ser pai de novo! – Exclamou – Eu vou ser pai de novo! – Disse, mais alto dessa vez, esquecendo-se o filho que dormia. Marino levantou girando a esposa nos braços. Depois a colocou no chão – Te amo, Lucinda! Te amo, bebê! – Abaixou-se e beijou o ventre dela.
Como trilha sonora perfeita, a canção que ecoava dizia:

Nesse dia branco,
Se branco ele for,
Esse tanto,
Esse canto de amor,
Se você quiser e vier,
Pro que der e vier,
Comigo.

Era uma confirmação, afinal.  Ele sabia que estariam sempre juntos.  A notícia da gravidez era o presságio de que uma nova página da história de amor dos dois começava a ser escrita.

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