Capítulo 3

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— Não acredito que você me deixou para trás — Mia grita assim que coloca os pés na cozinha, ela está na ligação.

Angelina está sentada do meu lado brincando com a comida. Carina nem se deu o trabalho de olhar para a cena que sua tia estava aprontando logo cedo. Diego está sentado na cadeira de alimentação comendo manga picada.

Já faz dois dias que estou aqui e ainda estou tentando me acostumar com o ritmo da casa. Darcy tinha razão quando disse que eu quase não veria Amélia. Nos últimos dias ela tem saído antes de acordarmos e volta para casa tão tarde que só reconheço que é ela quem está chegando quando o farol do carro de Ross, seu motorista particular, bate contra a janela do meu quarto.

— Savick. Eu te disse que te acompanharia hoje. Você vai entrevistá-lo — Mia continua gritando, andando de um lado para o outro na cozinha.

Angelina me lança um olhar divertido e assiste a cada movimento de Mia.

— Eu fiquei a madrugada inteira com seu filho no colo, cuidando dele. Por que eu esperava que você fosse reconhecer isso ou qualquer outra coisa que as pessoas fazem por você? Que se foda sua maldita egoísta.

— Mia, por favor, as crianças estão por perto — diz Darcy com um tom calmo.

Mia desliga a ligação, jogando o celular em cima da mesa de vidro que por alguns segundos eu podia jurar que ela se quebraria em milhares de pedaços.

— Não tem como ter calma, Darcy. A única coisa que eu pedi era para que ela me levasse a entrevista com Savick e ela nem se importou.

— Amélia é muito ocupada, você sabe. Talvez ela tenha esquecido.

Mia dá uma risada irônica.

— Claro, proteja ela como você sempre faz!

Ela sai da cozinha resmungando alto e batendo os pés. Darcy tenta chamá-la mas Mia está nervosa demais para dar ouvidos a qualquer um que venha falar com ela nesse momento. A manhã começou bastante animada por aqui.

— Senhorita Cleo — Carina me chama com a expressão neutra. Ainda não me conformo com o jeito que ela se parece com uma miniatura da Amélia. — O que é uma maldita egoísta?

Quase me engasgo com o chá quente, começo a tossir forte olhando para Darcy como se fosse uma súplica por ajuda.

— Já chega. A tutora de vocês está esperando lá em cima.

— Hoje é aula de artes. Farei um desenho bem bonito para você, Cleo — diz Angelina limpando a boca com o guardanapo.

— Ficarei esperando.

As garotinhas saem da cozinha quase como se fossem obrigadas a fazerem uma fila indiana. Elas são bastante educadas. Já não me sinto tão perdida como me senti no primeiro dia, e não digo apenas pelo labirinto que essa mansão parece ser, mas também para lidar com as crianças.

Carina é a mais difícil, ela mantém sua expressão impassível para tudo. Se está feliz ou está triste, é sempre a mesma expressão, não importa o que aconteça. Já Angelina é o oposto, ela ama ficar perto e conversar sobre coisas muito aleatórias. Ela quer saber o motivo de tudo ou como as coisas funcionam. Eu me divirto.

Diego tem que fazer exercícios diariamente para desenvolver a fala. Na maioria das vezes quando ele vê um brinquedo, abre a boca como se fosse falar o nome do brinquedo, só que ele não fala.

— As manhãs são sempre tão animadas assim? — Pergunto, me ajeitando na cadeira.

— Uma vez ou outra — responde Darcy se aproximando. — Mia sempre está agitada.

Madame Amélia | lésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora