Capítulo 8

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Cheguei no meu quarto tão desnorteada que nem mesmo um banho de água quente consegue me acalmar. É como se meu corpo inteiro estivesse estranho com todos esses acontecimentos repentinos.

Minha mãe nunca foi o melhor exemplo de mãe que se pode ter, mas passar pelas coisas que Amélia havia me contado que passou, é algo inimaginável para uma pessoa tão nova. Tinha tantas perguntas que talvez eu nunca tivesse respostas e talvez fosse mesmo melhor ficar sem elas. Não sei se tenho estômago para saber de mais coisas como essas.

Passo a toalha pelo meu cabelo, tirando o excesso de água. Coloco-a estendida no banheiro e dou uma boa olhada no meu rosto no espelho. Passo o pente rápido para arrumar os fios loiros que estão fora do lugar e tomo coragem para sair do banheiro. É como se a casa estivesse coberta por uma energia ruim e pesada. Estava sufocante ficar aqui dentro.

Desço, procurando um pouco de ar livre para poder respirar melhor. E quando saio no jardim, vejo Amélia sentada sozinha no sofá branco perto da piscina. Ela está tão distraída que não nota minha presença, seus olhos estão fixos no horizonte e na bela vista que seu jardim tem para a parte da montanha. Falta alguns minutos para o sol se pôr e a vista daquele lugar deve ser incrível.

Me aproximo receosa, talvez ela prefira ficar sozinha. Só que existem momentos, que por mais sozinhos que preferimos estar, nada melhor do que uma companhia para nos fazer esquecer dos problemas. Não sei se eu seria a melhor companhia para ela nesse momento, aliás, eu sou uma mera estranha que invadiu sua casa há uma semana atrás, mas mesmo que não significasse nada, eu queria ajudá-la.

— A vista é linda — digo, sentando ao lado dela no sofá.

— Quando comprei essa casa foi exatamente por causa disso.

— Eu imagino como é ver o pôr do sol dentro de uma piscina de borda infinita.

Amélia abre um pequeno sorriso, mas ainda sim não me olha.

— É perfeito, é como se você fosse capaz de encostar em um pedaço do céu.

Claro que ela já havia feito isso.

— Como você está se sentindo?

Ela respira fundo, inclina a cabeça para trás e fecha os olhos por alguns segundos, parece estar exausta.

— Não precisava vir aqui só porque está com pena de mim. Isso é a última coisa que preciso no momento.

— Não tenho pena de você. Acha mesmo que eu estaria aqui se tivesse?

Amélia bufa, impaciente.

— Honestamente, nem sei o que você está fazendo aqui.

Eu estaria mentindo se dissesse que sua resposta não doeu, só que vindo de Amélia já era de se esperar algo desse tipo em um momento como esse. Ela não quer conversar, é compreensível. Não sei se eu ia querer conversar se estivesse em seu lugar.

Antes mesmo que eu pudesse me conter, toco seu braço. Amélia olha para baixo, em direção a minha mão, como se estivesse tão surpresa pelo toque quanto eu estava quando me dei conta de que realmente estava tocando seu braço. Nós não éramos amigas e nunca teríamos nem um tipo de proximidade dessa forma, mas assim como ela me ajudou na noite passada, eu também queria ajudá-la.

Seus olhos castanhos se encontram com os meus e é a primeira vez que não me sinto intimidada por eles.

— Se não quer conversar, tudo bem. Embora não precise se fechar do mundo por causa disso.

Seus olhos permanecem em mim, ela parece estar digerir minha resposta aos poucos.

— Por que está sendo tão legal comigo? Tenho sido horrível com você desde o momento em que colocou os pés dentro dessa casa. 

Madame Amélia | lésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora