Lei de Murphy

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Bokuto

Sonhei com Akaashi essa noite. Acordei hoje de manhã com meu estômago gelado, e sabe aquele tapa mental que você ganha quando a memória do sonho vai surgindo até você se lembrar totalmente dele? Pois é, acabei de levar um desses tapas, e não foi muito legal. Quer dizer, foi um só um sonho...

E Akaashi estava me beijando nele. É isso aí, eu estou surtando. Não sei se consigo ir para a escola hoje e encará-lo depois de ter quase arrancado sua alma pela boca num sonho, porque não foi tão inofensivo assim. Ai, porra, e se ele descobrir??? Não, claro que não, eu não vou contar pra ele. Não vou.

Levantei da cama como se ela fosse uma parte de mim, fazendo um esforço hercúleo para sair, e então suspirei pesado antes de me arrumar. Acabei contando quantos bocejos eu dei até sair de casa para me distrair, e contabilizei quinze em trinta minutos — eu fiquei acordado até mais tarde lendo o livro que eu comprei, não me critique. Confesso que não estou entendendo porra nenhuma, mas é literalmente lei livros de ficção científica começarem confusos (pelo menos para mim é).

Akaashi está me esperando do lado de fora da minha casa, porque ele me mandou uma mensagem aproximadamente às 3 da manhã perguntando se poderíamos ir juntos para a escola, e eu respondi que sim (leia-se: SIM!!!) dois minutos depois. Não sei o que ele ficou fazendo até uma hora daquelas, mas não parecia cansado nem de longe, na verdade, parecia bem dormido. Diferente de mim.

— Nossa, caiu da cama, foi? — É a primeira coisa que ele diz quando me aproximo dele. Dou um abraço rápido em Akaashi, meio de lado e desajeitado.

— Tipo isso. — Bocejo pela décima sexta vez, cobrindo a boca com a mão, e ele ri. — Bom dia pra você também. Sua cara tá ótima, considerando seu sono desregulado de ontem.

Akaashi arregala um pouco os olhos ao ouvir isso, talvez surpreso por eu ter dito, e antes de me responder, ele baixa o olhar para sua mochila provavelmente procurando os fones.

— Obrigado...? Acho. — Akaashi me entrega um fone, seus olhos se fechando só um pouquinho ao dar um sorriso fraco. — Estou acostumado com sono desregulado, coisa que você certamente não está, Bokuto.

Eu senti a provocação na voz dele, e foi difícil esconder a minha cara de ofendido dele. Isso só o fez rir mais de mim.

— Meu sono está perfeitamente balanceado, tá bom!? — Tento me defender, mas ele continua com aquele sorrisinho idiota no rosto e...

Merda. Merda merda merda.

Senti meu estômago congelar de novo, a mesma sensação que tive ao acordar, a memória do sonho voltando como um flash. Achei que eu poderia sobreviver o caminho da escola sem me preocupar em olhar para o Akaashi real e lembrar do Akaashi do sonho, mas minha mente gosta de encher minha paciência às vezes.

Desviei o olhar dele, tentando manter minha expressão ofendida, que é menos pior que a de completa vergonha. Não sei se ele percebeu, porque estava parando de rir gradualmente enquanto abria o aplicativo de música para escolher a trilha sonora desse episódio inédito de The Office.

A música, é claro, tinha que ser o funk mais obsceno que eu já tive o (des) prazer de escutar. Considerando que o Akaashi é o Akaashi, descobrir que ele gosta de funk não me surpreendeu tanto quanto ele ficou surpreso ao descobrir que eu também gostava.

— Isso é coisa do Hinata, ele me viciou — digo como se fosse a pior constatação do mundo, e não a melhor, porque funk é bom pra caralho.

A conversa me distraiu o suficiente para chegar na escola e esquecer completamente do sonho. A sala ainda está meio vazia quando chegamos, meu lugar favorito desocupado e praticamente gritando por mim. Vou caminhando até ele, sentindo a presença de Akaashi atrás de mim.

Continuei com o fone dele até o professor chegar e eu devolver. Akaashi estava balançando a cabeça no ritmo da música — nada discreto —, e eu precisei cutucá-lo para que pegasse o fone de volta, e esse pequeno segundo que eu olhei no olho dele foi o suficiente para um bando de borboletas fazerem a festa no meu estômago. Não sei porque esse sonho está me deixando tão abalado, as pessoas sonham que estão beijando as outras o tempo todo, né?

Né?

Posso dizer que sobrevivi até o intervalo, quando Akaashi puxou a mesa dele para ficar ao lado da minha e podermos comer e assistir alguma coisa juntos no celular. Estou mastigando pela milésima vez um pedaço do sanduíche natural que eu trouxe, sentindo um nó na garganta que não deixa ele descer. Observo Akaashi deslizar o indicador pela tela do meu celular, concentrado em procurar algo interessante, até que fica insuportável:

— Sonhei com você essa noite.

Digo, e foi um alívio terrível ter pronunciado as palavras em voz alta. Uma coisa é remoer o sonho sozinho, sobrepor a lembrança com outras coisas até ela sumir para então fingir que nada aconteceu. Mas outra completamente diferente é contar isso para o outro participante do sonho, que não deu nenhuma permissão para que aparecesse lá.

O dedo de Akaashi parou no lugar, como se alguém tivesse apertado um botão de pausa nele. Eu vi a cena toda em câmera lenta, desde esse momento, passando pela sua garganta engolindo em seco, e depois seus olhos indo até mim como uma câmera pegando alguém no flagra.

— Ah é? E o que você sonhou? — Ele está interessado demais, como eu imaginei no segundo seguinte ao que as palavras saíram da minha boca.

Não pude demorar muito para responder, porque senão eu ia me comprometer mais ainda, então digo meia verdade: estávamos numa festa, na casa de alguém (não me pergunte quem, eu não sei) e Akaashi teve a brilhante ideia de pular na piscina de noite. Foi nessa parte que o beijo rolou, mas ele não vai ficar sabendo disso nem fodendo.

— Você não errou em imaginar que eu faria algo assim, Bokuto — Akaashi deu uma piscadinha aparentemente inofensiva, mas para mim foi duas vezes pior porque eu sou o único de nós dois que sabe o que acontece depois disso. — E depois, o que aconteceu?

— Eu acordei, infelizmente. — Infelizmente? Ficou maluco, caralho??

Akaashi fez um biquinho, ao mesmo tempo que deu de ombros como se dissesse: "Tudo bem, acontece" e deu um gole no seu suco de caixinha. Como se eu não tivesse acabado de contar que sonhei com ele. Que ridículo!

— Quem sabe um dia a gente não reproduza esse sonho aí, né?

cOMO É QUE É?

— Nadar a noite parece ser legal. — Akaashi completa, dando de ombros, voltando a procurar um vídeo enquanto eu me recupero do mini infarto que acabei de ter.

— É, aham, parece mesmo — respondo baixinho, só porque estou com medo de falar mais alto e acabar reproduzindo o grito histérico da minha mente.

Depois disso, assistimos um vídeo de gameplay do jogo Criminal Case (no qual eu sou obcecado), no qual Akaashi me disse que é obcecado mas tem preguiça de esperar doze horas pelas autópsias, então prefere assistir outra pessoa jogando por ele.

Talvez não tenha mais como esse dia ficar ruim, o pior já passou mesmo! Eu contei a Akaashi sobre o sonho, descobri que temos mais coisas em comum do que antes, então acho que está tudo bem.

⋆ ࣪.

Piorou. 


só digo uma coisa: eu não digo é nada rsrs

Les; bokuakaOnde histórias criam vida. Descubra agora