Morango e sal

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Akaashi

Minha mãe está na cozinha quando chego em casa, e o cheiro de temperos faz minha barriga roncar. Tiro os sapatos na entrada e jogo minha bolsa em qualquer lugar para poder ir até ela, atraído pelo cheiro como um metal é atraído para um ímã.

— Oi, mãe — encosto na bancada ao seu lado, e ela não se assusta quando me vê. Deve ser o seu sentido aranha, porque ela nunca se assusta.

Minha mãe ainda estava com as roupas do trabalho, o terno jogado na cadeira e a camisa aberta nos dois botões de cima, seu cabelo já estava solto e bagunçado.

— Oi, querido. Como foi na escola hoje?

— Foi legal, nada de mais. O clube de vôlei é bem divertido também, estou morto!

Ela ri, o tipo de risada que você joga o pescoço para trás e fecha bem os olhos. Gostava de vê-la assim, rindo alto e se distraindo com essas bobagens.

— Que bom, meu filho, tomara que seja divertido até o fim pra você!

Ela sempre diz isso: "Que seja bom até o fim," e eu sempre acredito, torno aquelas palavras minhas e é assim que gosto de levar a vida. Bom até o fim. Dou um beijo na bochecha dela antes de me afastar para colocar algumas coisas na mesa.

Nós gostamos de conversar sobre nossos dias enquanto jantamos, porque este é um dos únicos momentos durante a semana que temos tempo um para o outro, considerando que cada um tem suas tarefas e amigos que (in)felizmente também precisam de atenção.

— Seu chefe é um broxa, mãe — digo, comendo mais um pouco de yakisoba, irritado. Ela estava me contando sobre ele ter se recusado a ouvir minha mãe quando ela disse que havia feito um trabalho mas lhe roubaram o crédito. — Eu xingaria ele e a esposa dele, se fosse você.

— Keiji! Não posso fazer isso, senão perco o emprego — uma pausa, seus olhos azuis me fitando — embora eu tenha ficado com muita vontade.

Caímos na gargalhada, quase cuspindo comida um no outro. Continuamos fofocando até terminarmos o jantar, e eu recolher os pratos para lavar. Não me ache esquisito, mas eu gosto de lavar a louça, porque me ajuda a pensar. Minha mãe ficou ao meu lado, esperando para secar a louça, até começar a bocejar demais.

— Vai dormir, mãe, eu posso terminar sozinho — eu estava quase expulsando-a da cozinha, porque ela insistia em ficar e ajudar.

— Vou nada, você só quer uma oportunidade para sair de fininho, não é? Seu sem vergonha — minha mãe esfregou o pano na minha cara, o que me fez rir e espirrar ao mesmo tempo.

— Mas você sempre descobre, não tem porque sair escondido! Vai dormir, mulher.

— Tá, tá, boa noite, querido. — Ela me deu um beijo na testa, e eu fiz o mesmo com ela. — Diga à Sakusa que estou com saudades e que é para ele aparecer aqui mais vezes. E que mandei um beijo para os garotos!

— Tudo bem — revirei os olhos, porque Sakusa era um descarado que adorava dar em cima da minha mãe e ela não percebia. Por isso o proibi de pisar em casa. — Boa noite, mamãe.

Foi quase ao mesmo tempo: eu terminei de secar toda a louça, e meu celular começou a tocar dentro da bolsa. Às vezes ele parecia um vibrador daqueles, porque era ridiculamente alto e forte para um celularzinho! Eu já sabia quem era sem precisar olhar na tela, então atendi.

— Oi, Omi — digo baixo, sentando no degrau que tem na entrada de casa.

Graças a Deus! Achei que você tinha morrido, Keiji! — ele gritou no meu ouvido, e eu afastei o aparelho por reflexo. — Já está em casa? E Naomi, também está?

Les; bokuakaOnde histórias criam vida. Descubra agora